A transferência definitiva do porto para Estrela e a inclusão do Trem dos Vales no programa Cresce RS. Esses foram os assuntos centrais da audiência pública “Multimodalidade: potenciais econômicos, desenvolvimento e infraestrutura logística regional”.
O encontro ocorreu ontem, no complexo portuário, e reuniu autoridades políticas do parlamento gaúcho, do Estado e dos municípios, além de empresários e representantes de organizações civis. A organização partiu do governo de Estrela e da Assembleia Legislativa.
Conforme o prefeito Elmar Schneider, o melhor aproveitamento do complexo é um benefício não só para o Vale do Taquari, mas para todo o Rio Grande do Sul. “Temos gargalos logísticos e com a ferrovia, com a hidrovia e também com o aeródromo, teríamos como desenvolver todo o nosso potencial”, afirma.
A municipalização do porto, em agosto do ano passado, facilitou o aproveitamento da área, disse Schneider. Proporcionou à nova gestão municipal condições de planejar a ocupação do complexo, o que se confirmou com o aluguel dos silos da extinta Cesa. “Hoje a Nutritec, a primeira empresa no porto, já representa R$ 150 mil de retorno de ICMS.”
Pelo formato de cedência, concessão pública do governo do Estado, a gestão do município tem prazo. São 20 anos prorrogáveis por igual período. Um tempo considerado pequeno para garantir investimentos privados, instalações de empresas ou indústrias na área.
O presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari, o prefeito de Santa Clara do Sul, Paulo Kohlrausch, ressalta que a reativação das atividades logísticas no porto é um projeto regional. Para se tornar viável, é preciso organização local e presença das instituições estaduais, como o parlamento e o Piratini.
Em termos de modais ferroviário e hidroviário, o porto de Estrela é o mais ocioso do país. São quase sete anos em que nenhuma embarcação ou locomotiva chega ao complexo. Os trens pararam de transitar no ramal em dezembro de 2014.
Autonomia à cidade
O deputado estadual Vilmar Zanchin (MDB) representou a presidência da Assembleia Legislativa. Considera que em um ano de municipalização houve avanços, como a presença de uma empresa no local e a constituição da (E-Log).
Para dar mais condições de estruturação do complexo, adota a postura de líderes do Vale do Taquari, a partir da autonomia para o município e à região. A partir disso, acredita ser possível colocar em prática as estratégias de aproveitamento da área, seja por parcerias entre os setores público e privado.
“Vamos levar ao governo do Estado o pedido para o repasse integral de todo o complexo portuário ao município”, prometeu durante a apresentação na audiência. Na análise dele, a atuação local teria mais competência para negociar direto com o setor produtivo. “Estrela já nos mostrou como fazer”, afirmou.
O deputado reforçou o interesse do parlamento em auxiliar no melhor aproveitamento do porto. Um dos movimentos destacados por ele foi a inclusão da estrutura no projeto Cresce RS. O programa é uma iniciativa da Assembleia Legislativa, com o apoio do Governo do Estado.
O objetivo é propor ações para destravar os investimentos necessários ao crescimento do estado, para dar agilidade aos de desenvolvimento. O Cresce RS tem por três eixos: Infraestrutura e Logística, Desburocratização e Financiamentos de Bancos Públicos.
“O rio é navegável”
O modelo de engenharia e construção de embarcações no país e no RS tinham como lógica a navegação em mananciais profundos, com passagem para o mar aberto, diz o diretor do Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional da AL, Eduardo Krause.
Com 50 anos de experiência no transporte hidroviário, ele afirmou: “o calado não é empecilho. O rio é navegável. Com novos parâmetros das embarcações, é possível oferecer transporte por embarcações.”
De acordo com Krause, há um paradigma de que o Rio Taquari seria de difícil navegação. Para fazer o teste, fez o trajeto de Porto Alegre até Estrela em janeiro deste ano. Foram seis horas de viagem. “O parâmetro é pouco mais de três metros. Isso não é diferente de rios internos na Europa.”
A partir disso, para garantir o transporte de mercadorias, o fundamental é haver entrega e carregamentos. “Um navio não pode ficar vazio”, ressaltou. Pela localização do porto, próximo da Serra, do Vale do Rio Pardo e da Região Metropolitana, Krause destacou: “Estrela tem condições de ser um catalisador de cargas de todo o estado.”
Reconstrução do ramal Colinas\Estrela
Com relação a ferrovia, a prorrogação do contrato com a Rumo, empresa concessionária do ramal sul, está em negociação. “Agora é o momento de colocar a ferrovia como prioridade para o estado. Nisto, entra a necessidade de reforma e a reconstrução do trecho de Colinas e Estrela”, afirmou Krause.
O trecho tem 13 quilômetros de extensão. “Não vejo impeditivo. No montante total das ferrovias, representa pouco. O que precisamos é que esteja na mesa de negociação com o governo federal.” Na avaliação dele, tanto a hidrovia quanto a ferrovia precisam ser pensadas juntos. Em termos de perspectiva, acredita que dentro de três a quatro anos os modais de transporte estarão em funcionamento. “O porto de Estrela precisa ser um estacionamento para navios e trens. É chegar, descarregar, carregar e sair de novo.”
A Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales) produziu um levantamento sobre as melhorias necessárias na ferrovia. Os investimentos seriam em três etapas. O primeiro entre Guaporé e Muçum, depois até Roca Sales e por fim entre Colinas e Estrela. Pelo relatório, seriam necessários cerca de R$ 9 milhões. O projeto também é analisado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
“O Vale é o novo destino turístico do estado”
Além das melhorias na logística e infraestrutura dos modais de transporte, outra reivindicação regional é quando ao trem turístico. Tornar uma atração contínua, não só durantes datas festivas, é um pedido das instituições locais.
Conforme o coordenador do projeto, Rafael Fontana, desde quando começou a atração, sempre houve lotação máxima. Neste ano, serão 52 passeios. Do total de ingressos vendidos, 60% são de visitantes de outras regiões.
Pelos cálculos da Amturvales, cada turista gasta em média R$ 220 por dia na região. “Nos dias em que há passeio de trem, calculamos que R$ 4 milhões circulam na economia local”, afirmou.
O secretário adjunto de Turismo do RS, Álvaro Machado, reconheceu o potencial de atrair visitantes. Tanto o Cristo Protetor de Encantado, quanto o trem turístico, são diferenciais com alto apelo público. “O Vale é o novo destino turístico do estado”, resumiu.