“Trabalhamos no escuro”. Essa é a afirmação do agricultor Signei Schmitt, da Cascalheira, em Arroio do Meio, ao relatar as incertezas do setor primário. “Às vezes a plantação se afoga, e outras, seca. Se investe muito e não temos noção de retorno”, desabafa.
Produtor de soja, milho silagem e leite, Schmitt vê o milho com pouca produção. “O primeiro a ser plantado, afogou. E agora, as espigas estão secando”, conta o agricultor. Em anos anteriores, chegou a produzir 28 carretões em uma área de três hectares. “Hoje, se eu tirar cinco, posso ficar feliz”.
O agricultor relata que a incerteza do tempo vem acompanhada pela elevação do preço dos insumos. Para um hectare de terra, Schmitt calcula que necessita de quatro sacos de uréia, a R$ 275, o saco. Além disso, a semente que custa R$ 700; o adubo com preço de R$ 230, sem contar os defensivos. “Investimos muito e trabalhamos no escuro, pois nunca sabemos os resultados de nossa produção.”
As condições climáticas fazem com que tenha guardado no galpão a soja e os insumos para o plantio. “Para pagar o investimento que fiz no soja preciso tirar 15 sacas por hectare. Mas não é só isso, tem também o gasto com a máquina para a colheita. Então o custo final será de 20 sacas por hectare, senão não vale a pena”, avalia Schmitt, que prefere manter o produto em estoque do que arriscar o plantio e perder tudo em função da estiagem.
As condições do tempo interferem também na produção de leite. “A litragem vem despencando, em função da falta de qualidade da pastagem”, observa o agricultor, que já recorreu à prefeitura para a abertura de pontos de água em suas terras.
Emergência
O Conselho Arroio-meense de Desenvolvimento Rural (Conar), Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Emater e município, após a análise de dados apresentados, decidiram encaminhar a situação de emergência diante das perdas geradas pela estiagem.
Técnico em agropecuária, Elias de Marco avalia que as perdas devem ultrapassar a cifra dos R$ 14 milhões que foram contabilizados na última seca no período de 2019/2020. De concreto já se pode afirmar a perda de 60% no milho grão e silagem; 50% do soja e 30% do leite. “Estas perdas acentuadas são consequência da falta de chuva. A última chuva boa que ocorreu foi em 18 de outubro e novembro chegamos aos 30 milímetros”, recorda o extensionista.
Elias destaca perda acentuada na pastagem de inverno e nas hortaliças que tem ciclo curto. “Perderam-se duas colheitas. A do fim de outubro e outra que teria de ser plantada e não deu”.
“O cenário é de preocupação. Os agricultores estão assustados, o custo dos insumos está exageradamente alto. As lavouras estão tecnificadas e, para produzir bastante, eles investem muito para colher bem”, menciona de Marco.
Segundo ele, a apreensão é grande com o próximo ano. “Descapitalização, prejuízos bancários, perdas consolidadas. O quadro é agravado pelo déficit hídrico”, avalia o técnico em agropecuária da Emater-RS/Ascar de Arroio do Meio.