Seca compromete abastecimento em 16 municípios

CENÁRIO REGIONAL

Seca compromete abastecimento em 16 municípios

Comunidades do interior enfrentam racionamento e dependem de caminhão-pipa para garantir água de consumo humano e aos animais. Nas lavouras, quebra na safra de milho já chega a 70%

Seca compromete abastecimento em 16 municípios
(foto: Felipe Neitzke)
Vale do Taquari

Chuva insuficiente agrava estiagem e eleva preocupação de impactos econômicos. Todos os 36 municípios da região já registram perdas na agricultura e mais de 200 famílias enfrentam o desabastecimento de água nas propriedades. O levantamento junto às secretarias de Agricultura expõe um cenário desafiador e a necessidade de investimentos contra a crise hídrica.

Estimativas dos municípios apontam quebra de safra de até 70% nas lavouras de milho. No ano passado, o prejuízo da produção agrícola do Vale superou R$ 250 milhões. Agora, a Emater-RS/Ascar prepara relatório para verificar a dimensão das perdas na safra de verão. Além de comprometer a cultura do milho, há danos em plantações de soja, com dificuldade de germinação por conta do solo seco.

O acumulado de chuva nesta primeira quinzena de dezembro é inferior a 20 milímetros na maioria das cidades da região. Também não há projeções de maiores volumes até o fim do mês. Institutos de meteorologia projetam chuva abaixo da média durante o verão, em decorrência do fenômeno La Niña, responsável pelo resfriamento do Oceano Pacífico. Essa condição impede o avanço de áreas de instabilidade no Sul do país.

A sequência de meses com pouca chuva faz açudes, arroios e poços secarem. O drama no interior faz 16 municípios transportarem água em caminhão-pipa para consumo humano e dos animais. As cidades da região alta do Vale são as mais afetadas.

Para conscientizar a população sobre o uso racional de água, Anta Gorda e Vespasiano Corrêa emitiram decreto que prevê multa em caso de desperdício. O governo de Doutor Ricardo e Relvado também preparam documentos com o mesmo propósito.

Decretos de emergência

Secretários municipais debatem nesta sexta-feira, 17, ações para amenizar perdas dos produtores rurais e garantir a distribuição de água nas comunidades mais afetadas pela estiagem. O encontro será em Teutônia, na câmara de vereadores, a partir das 14h.

Conforme o titular da pasta de Agricultura de Estrela e presidente da associação de secretários, Douglas Sulzbach, o encontro também avalia a necessidade de publicar decretos de calamidade pública ou situação de emergência.

“Os laudos da Emater são importantes para um panorama da situação. Já há produtores que acionaram o seguro Proagro”, ressalta Sulzbach. O cenário também é monitorado pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). A entidade elaborou uma pesquisa a nível estadual sobre a crise hídrica no estado.

Segurança hídrica

Também na sexta-feira, Encantado sedia o 1° Seminário de Segurança Hídrica da Bacia Taquari-Antas, que promove uma série de discussões sobre armazenamento de água, importância do recurso natural na agropecuária e regularização de fontes.

A atividade, promovida pela Emater/RS-Ascar, Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag/RS), Sindicato das Indústrias de Produtores Suínos (Sips) e Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) ocorre na sede da Sicredi Região dos Vales, na cidade do Cristo Protetor.

Na intenção de promover uma reflexão sobre a necessidade da preservação de água, o supervisor da Emater, Marcelo Brandoli, destaca a importância de preservar os recursos hídricos. “O objetivo é nivelar expectativas entre produtores, extensão rural, entidades, líderes e empresas integradas, que possam apontar caminhos para o assunto.”

Arroio seco em Lajeado

Faz três semanas que trecho do arroio em Alto Conventos secou. O aposentado Ildo Schmitt, 66, reside na localidade do interior de Lajeado faz mais de dez anos e constata a redução gradual do nível de água. Segundo ele, na estiagem de 2019 não foi diferente.

“A cada ano parece que o arroio resiste menos à falta de chuva. Já foi um local de pesca e área de lazer no verão. Agora resta apenas cascalho e um pouco de água escura e de forte odor”, comenta Schmitt.

Transporte de água e cisternas

Em Progresso, a falta de água na área rural afeta mais de 50 famílias. Município garante abastecimento em caminhão-pipa (foto: Misael Kotz)

Para manter a produção de aves e suínos, produtores investem na construção de cisternas em Canudos do Vale. Na propriedade de Paulo Girardi, 63, a primeira estrutura foi erguida há oito anos e esta semana ele finalizou a segunda. Juntas têm a capacidade de armazenar 240 mil litros de água. “Quando Deus manda chuva precisamos dar um jeito de recolher e ter quando é necessário.”

Produtor desde 1994, aloja 11,5 mil aves no aviário por lote. O consumo por dia chega a 5 mil litros. O mesmo exemplo segue o vizinho Antônio Schmidt, 68. A cisterna de 120 mil litros será uma das formas de manter a produção em períodos críticos de seca.

No município de Progresso, Danilo Piffer, 69, depende da água entregue em caminhão-pipa para garantir o abastecimento. “É uma região alta, difícil de ter poço por vertente. Todo ano de estiagem é o mesmo problema”, relata o agricultor.

 

Histórico de perdas

  • A falta de chuva durante o verão de 2019/20, no Vale, foi responsável por perda financeira estimada em R$ 256,6 milhões nas lavouras de soja, milho grão e silagem.
  • Entre 2011 e 2012 a região sofreu uma das piores secas. Foram dez meses de pouca chuva. Como resultado, o prejuízo nas lavouras chegou a R$ 40 milhões.
  • A maior seca registrada na região aconteceu de 1943 a 1945. Neste período houve apenas chuva esparsa. A estiagem se prolongou por vários meses, e provocou perda total nas safras.
  • Durante o verão de 2004, 2005 e 2006 a falta de chuva castigou a região com perdas nas lavouras que chegaram a 90% em alguns municípios. A seca mais antiga da qual se tem registros aconteceu entre os anos de 1876 e 1877.
  • As secas mais danosas aconteceram em 1985 e 1996. Para amenizar as perdas, o governo do estado criou o Cheque Seca. O valor era de R$ 400 por agricultor. O dinheiro poderia ser pago em duas prestações, com juros anuais de 6%.

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