A quinta edição do programa “O Meu Negócio” destacou a trajetória de 55 anos de uma das maiores empresas do ramo de higiene e limpeza do Estado. Sediada no bairro Daltro Filho, em Imigrante, a Gota Limpa surgiu da vocação empreendedora de Jurandir Bertolini, e se estabeleceu no mercado com uma variada linha de produtos.
Filha de Jurandir, Camile Bertolini Di Giglio, diretora comercial da empresa, foi entrevistada pelo apresentador Rogério Wink em um bate-papo de uma hora. Além de falar do surgimento, das dificuldades e do momento atual de expansão da Gota Limpa, também abordou sua própria trajetória pessoa e profissional.
Nascida em Imigrante, à época pertencente a Garibaldi, Camile cursou o primeiro grau numa escola municipal local e concluiu o segundo grau no Colégio Martin Luther, em Estrela. Seguiu os passos do irmão, Moisés, e foi estudar em Porto Alegre na sequência. Formou-se em Administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Camile tinha uma carreira consolidada no Banco do Brasil, onde atuava há quase uma década, quando, em 2004, virou a chave. Deixou o serviço público e a vida na capital gaúcha para atuar na empresa da família, ao lado do irmão, que havia retornado à Imigrante cinco anos antes.
Insistência
Segundo Camile, o pai esperava pelo retorno de Moisés. “Nas famílias de origem italiana tem muito disso. É como se fosse uma passagem de bastão”, recorda. Engenheiro químico, ele se dedicou à parte produtiva. Ela, quando retornou, ingressou na parte financeira da empresa. Mas não foi simples.
Camile manifestou ao namorado (hoje esposo) o desejo de sair do banco.“Aí ele me disse que eu tinha um laboratório em casa. Pensei e decidi procurar meu pai e falar do interesse em voltar”, recorda. A resposta foi dura. “Me falou que eu tinha uma carreira muito bem estabelecida no banco e que não conseguiria pagar o salário que eu recebia lá”.
Mas Camile persistiu. Procurou o irmão, que concordou com seu retorno. “Disse que eu poderia voltar já no dia seguinte. Ele cuidaria da parte produtiva, e eu, da administrativa. Novamente falei com o pai e ele aprovou. Retornei definitivamente em março de 2004 e comecei com aquilo que eu mais entendia: a questão financeira.
Entrevista
“Entendi que tínhamos de fazer diferente”
Camile Bertolini Di Giglio • diretora comercial da Gota Limpa
• Rogério Wink – Quais os exemplos que você recebeu de casa?
Camile – Minha mãe era professora e participava muito da nossa vida de estudante. Ela teve um papel de desbravadora. A questão de dirigir, de buscar formação, morar fora. Todas essas coisas fizeram com que ela me moldasse na questão de não ter medo em correr atrás, de buscar o novo. Já meu pai trouxe o exemplo do empreendedorismo. Ele não participava da minha vida escolar. Fazia a parte comercial da Bertolini, passava mais tempo fora do que em casa. Mas me lembro de sempre descer a escada interna e receber ele na garagem, perguntar como tinha sido o dia, e as vendas.
• Como era o negócio inicial da empresa?
Camile – A Bertolini começou vendendo sabão em barra. Iniciou lá em 1966 e perdurou por mais de 30 anos. Em 1999, a empresa passou a produzir itens de maior consumo, como os detergentes líquidos. Depois vieram amaciantes, lava roupas, água sanitária e desinfetantes. As coisas foram crescendo, e culminaram com o retorno do meu irmão, que é engenheiro químico.
• Depois que você ingressou na empresa, qual foi seu grande desafio?
Camile – Em 2013, passamos por uma situação financeira complicada, pois tivemos um grande crescimento e ampliamos demais o negócio, perdendo nosso foco principal. Isso causou endividamento e a geração de caixa não era suficiente para pagar nossos carnês. Nisso, falei ao pai que precisávamos de auxílio. Buscamos consultoria com o Agostinho Dalla Valle. Tivemos humildade para aceitar ajuda e sofremos muitas críticas. Mas era necessário reestruturar o negócio como um todo.
• Qual é o carro-chefe da empresa hoje?
Camile – O que mais vende é o detergente em louça. Mas desde o ano passado tivemos grande crescimento do lava roupas em pó, após fazer a reestruturação da qualidade. E há também a menina dos olhos, que é o gel sanitário, aquele que fica grudadinho no vaso e é super prático. Esse produto foi meu pai quem criou. Já são oito anos que temos esse produto, que está passando por uma evolução.
• A pandemia teve reflexo no negócio da empresa?
Camile – Sim, e foram reflexos positivos. Como as pessoas estavam mais em casa, limpavam e cuidavam mais das coisas. A água sanitária foi um produto muito utilizado para higienização e limpeza. Tivemos um crescimento de 26% ano passado, e neste ano chega a 30%. São volumes bem expressivos, e que nos fazem ter um ganho de produtividade.
• Como foi a mudança de layout da Gota Limpa?
Camile – Passamos por dois anos de reformulação. Antigamente era tudo mais empírico, saía tudo da própria cabeça do Jurandir. Hoje estudamos mais, temos o comitê, e uma agência de publicidade. Dessa forma trazemos informações do mercado, do que os concorrentes fazem e de que forma podemos nos destacar. Falamos até com influenciadores, se gostaram da embalagem. Antes se fazia isso nos pontos de venda. O cliente é o nosso rei. Se não compra nossos produtos, não teremos sucesso.
• Qual o método que você utiliza para que todos na empresa respirem e transpirem inovação?
Camile – Isso faz parte de uma mudança de cultura. Em 2013, quando começou aquela movimentação, entendi que tínhamos de fazer diferente. Sempre estou me desafiando e procuro também desafiar a nossa equipe, os gestores para que levem mais conhecimento e inovação. Desenvolvemos juntos um planejamento estratégico. Isso é o que nos rege hoje, e dá a liberdade das pessoas em questionar o que é feito.