Antes mesmo de saber ler e escrever, Roseli Hetzel Kussler, 60, já sabia o que queria seguir como profissão. Natural de Maratá, veio ao Vale do Taquari para ensinar as disciplinas de Língua Alemã e Ensino Religioso. Recém formada em Letras, português-alemão pela Unisinos, passou a dar aulas no Ceat, onde, depois de 37 anos, é ainda conhecida como “Frau Kussler” (Sra.), ou “lehrerin” (professora).
Acostumada a lecionar para adolescentes, diz que os dias são desafiadores, mas, ao término de cada aula, é ela quem sente ter aprendido alguma coisa nova. Além de ser uma forma de permanecer sempre jovem. “Eu brinco com eles que tenho 15 anos. Na verdade só percebo que o tempo passou quando passo a ser professora dos filhos dos meus alunos”, conta a professora.
Vê-los crescidos, como médicos, advogados, engenheiros ou mesmo como colegas de profissão, é a maior recompensa dos anos de sala de aula. “Quando eu vim para trabalhar em Lajeado na década de 80, eu vim com uma mala cheia de livros, e uma cabeça cheia de ideias, e eu percebi que muitas das minhas ideias eu pude colocar em prática aqui. Também percebi que eu tinha aqui a oportunidade de estudar muito e de aprender muito, fui super bem recebida”, destaca Roseli.
Entre os projetos que desenvolveu na educação estão o “Livro da Vida”, o Intercâmbio Estudantil e as provas de proficiência. “Nós, como professores, equipamos os nossos jovens com raízes e asas. As raízes são a base, os valores, as asas os ajudam a alçar vôos, a sair do ninho, a inovar”, acredita.
A professora é também conhecida pelas viagens que organizou com os alunos. Ela diz ser uma grande responsabilidade, mas também muito gratificante.
Um exemplo nas quadras
Adilvo Battisti, 61, monta quadras de vôlei e futebol para ensinar crianças e adolescentes faz 37 anos. Professor de Educação Física, é conhecido no município e região pelo envolvimento com o esporte e a educação.
Ele conta que, desde a infância, teve bons exemplos na escola, e grande admiração pelos professores. Engajados nas tarefas comunitárias e na vocação de transmitir conhecimentos, serviram de incentivo para o então estudante do interior do Vale do Taquari iniciar o magistério.
Atuando em escolas públicas da região, nos últimos tempos, passou a se dedicar de forma integral ao projeto social da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), onde já leciona faz 34 anos, no ginásio Centro Esportivo do bairro São Cristóvão.
Neste ano, também ensina crianças e adolescentes de 6 a 15 anos dos bairros Santo André e Jardim do Cedro, com a ideia de trabalhar o esporte como ferramenta de desenvolvimento pessoal e social, ensinando sobre respeito às diferenças e inclusão.
“Nenhum professor é só transmissor de conhecimento. Todo professor faz o papel de pai, amigo, conselheiro. Nossa missão vai além dos livros. Nosso exemplo, nossa fala é muito importante na formação de futuras pessoas. Por isso, devemos ter um cuidado muito grande com tudo o que falamos e como agimos”, acredita o profissional.
Para ele, todos os dias na vida de um professor são marcantes e desafiadores. “Tudo marca a nossa vida, seja a alegria ou o choro da nossa criança ou adolescente”.
Adilvo carrega um sorriso no rosto e a certeza de que influenciou a vida de muitas crianças ao longo da vida. De forma simples, mas bem feita, é assim que busca ir trabalhar todos os dias. “Gosto de ser um professor amigo e também um amigo professor. Talvez venha daí esse relacionamento positivo com os meus alunos”, destaca.
Pela trajetória no esporte e na educação, Adilvo foi escolhido para conduzir a da Tocha Olímpica em 2026, quando ela chegou ao Vale. Na pandemia, passou um período afastado das aulas, e diz ter sentido falta dos alunos. Para ele, não há maior alegria do que o convívio com crianças e adolescentes nos ginásios da região.
Amigo e conselheiro
Morador de Cruzeiro do Sul, Demétrios Karol Lorenzini, 41, sempre gostou de História, mas a motivação para se tornar professor surgiu depois de entrar na faculdade, que concluiu em 2005. Formado, logo passou a atuar no magistério.
Anos mais tarde, em 2013, entrou no projeto Vida Santo Antônio como professor oficineiro e, hoje, faz parte da direção. O projeto atende mais de 70 crianças do bairro no contraturno escolar com atividades educacionais.
O contato com os alunos é diário e, sempre que um profissional falta, ele assume a sala de aula, e até mesmo a cantina. Além disso, Demétrios conta também ter papel de ouvinte e conselheiro das crianças e jovens atendidos.
“No projeto, por não termos conteúdos obrigatórios, a interação com o aluno é maior. Eles trazem seus sentimentos, angústias, comemorações e suas carências, porque se sentem seguros em trazer suas histórias aos nossos servidores”, destaca o professor. O mais marcante, no entanto, é o agradecimento dos alunos e os abraços das crianças.
Uma das coisas que Demétrios mais gosta da profissão é encontrar ex-alunos e ser chamado de “sor” ou “professor”. Assim, ele sente que fez o trabalho da melhor forma possível e ajudou a formar boas pessoas.
Ao longo dos anos, Demétrios acredita que uma das maiores dificuldades de um professor é competir com a tecnologia e as facilidades das mídias sociais. “O smartphone mostra que a vida é somente alegria, que tudo é fácil, que a vida não tem sofrimento, que o trabalho duro sequer existe, então os estudos são sempre questionados e não levados a sério por muitos alunos”, destaca. Ele tenta, no entanto, utilizar as tecnologias a seu favor, e para também mostrar aos pequenos a vida real.