As mãos de Samuel Johann trazem saúde, mas também consolo. Em meio aos desafios de atuar em diferentes países, alguns atingidos por conflitos armados, ele viu de perto o sofrimento e a destruição. Como membro da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), diz ter um espírito voluntário e, mesmo diante das dificuldades, não perde a motivação.
Depois de sete anos, o lajeadense formado em Relações Internacionais aprendeu a separar a dor, da necessidade de levar saúde e cuidado a diferentes comunidades. “É muito duro testemunhar o sofrimento humano. Mas nós, enquanto profissionais humanitários, passamos um tempo dentro das situações e partimos”, relata. “As pessoas atendidas pela organização, por outro lado, são nativas, e por vezes impossibilitadas de deixar os locais onde vivem”.
Entre as atividades que desempenha como coordenador de projetos da organização, está a construção e gestão de estruturas de saúde, clínicas móveis, até a atuação em campos de refugiados.
Samuel esteve na Nigéria em 2016, onde os conflitos levaram mais 1,5 milhões de pessoas a migrarem do interior em busca de segurança. No período, a cidade de Maiduguri e suas duas estruturas de saúde estavam superlotadas.
“Um número assustador de crianças estava em quadro de desnutrição aguda, sem contar as que haviam perdido a vida na viagem. Me senti abalado com a situação, pensando que não daria conta. Ainda guardo o frio na barriga ”, descreve.
Outro momento marcante foi quando chegou à província de Khost, no Afeganistão, e pisou na maternidade gerenciada pela organização pela primeira vez. “Foi emocionante ver mulheres afegãs, vindas de diversos lugares, buscando um local seguro para darem à luz, e sendo recebidas de braços abertos por enfermeiras e médicas da MSF. Um verdadeiro projeto de mulheres para mulheres”, conta. Na época, eram feitos mais de 60 partos por dia.
Mais de 90% dos fundos da MSF são de doadores privados que acreditam no trabalho da organização. Embora o espírito do trabalho seja voluntário, a atuação das equipes é profissional e remunerada durante o período de estadia nos projetos.
“Ser voluntário é uma questão de atitude e não de ocupação. Basta olhar ao redor e se perguntar: como posso ser útil? Ao invés de esperar que o mundo atenda aos seus anseios, sua energia brota naturalmente da arte de servir ao mundo. Não acho que exista bem-estar mais genuíno e duradouro”, finaliza Samuel.
Programa de Voluntariado
No Vale do Taquari, uma das entidades que promove esse trabalho é o Sesc, por meio do Programa Sesc de Voluntariado. O curso já existe desde 2013, mas a partir de 2015 se tornou um programa que, além de preparar voluntários, também acompanha o trabalho dos participantes.
De acordo com a assistente social do Sesc Lajeado, Raquel Zerbielli Brandão, nos Vales do Taquari e Rio Pardo, mais de 100 pessoas acima de 18 anos já foram formadas pelo curso. A atividade tem duração de uma semana, com 1h de aula por dia, além de atividades complementares.
São tratados temas como a história do voluntariado, legislação, direitos, deveres, limites e planejamento. No momento, ele é ministrado de forma online. As instituições também podem participar e são preparadas pelo programa, por meio de Oficinas de Gestão para receber os voluntários.
Pelo Brasil
Poder estender a mão a quem precisa é um dos benefícios do voluntariado. Mas ele também permite o conhecimento de novas culturas, por meio de experiências como a de Isabel Kristiner, 26, que cursava o último semestre de Engenharia Civil pela Univates quando foi selecionada para fazer parte do Projeto Rondon em 2019.
Organizado pelo Ministério da Defesa, o projeto selecionou 20 universidades para atuar na Operação João de Barro, no Piauí. A frota de Lajeado, composta por oito alunos e dois professores, atuou na cidade de Arraial, com atividades para a aprendizagem e empoderamento dos moradores da comunidade.
Uma das oficinas propôs que crianças representassem a cidade em uma maquete. Para elaboração do trabalho, foi perguntado o que eles mais gostavam e o que sentiam falta no município. “Eles disseram que sentiam falta de um campo com grama, uma pracinha, de um balanço que funcionava”, conta Isabel.
Autocuidado e Empoderamento foi o nome de outra atividade organizada pelos voluntários, quando mulheres foram questionadas sobre o que faziam para se sentirem bem e empoderadas.
“Uma menina contou que se sentia emponderada porque atravessava o rio todos os dias para ir à escola. Isso me marcou muito”, conta Isabel. Quando a oficina terminou, as próprias moradoras propuseram formar um grupo para que pudessem manter essa rede de apoio, mesmo sem os voluntários.
“Para fazer um trabalho voluntário é preciso estar aberto a novas experiências, saber escutar e não apenas falar, porque todo mundo tem muito a dizer. Esse retorno que a gente recebe no trabalho voluntário não dá para medir, traz um sentimento de gratidão”, conta. Depois da experiência no nordeste, Isabel volta para casa com o desejo de conhecer outras culturas pelo Brasil e ajudar sempre que for possível.
Dados sobre o voluntariado no mundo
- Segundo relatório da plataforma Atados, que conecta pessoas interessadas em trabalho voluntário a vagas em organizações, nos três primeiros meses da pandemia, o número de inscritos para trabalho voluntário cresceu 43%, se comparado ao mesmo período de 2019;
- Cerca de 78% das pessoas realizaram pelo menos uma atividade beneficente nos últimos 12 meses, com 67% tendo doado dinheiro;
- As causas mais populares para doação são em apoio às organizações religiosas, apoio às crianças ou jovens e combate à pobreza;
- Globalmente, quase 1/5 de todos os adultos são voluntários;
- Metade dos países que mais subiram no Índice Mundial de Doações são da Ásia. O Sri Lanka tem a maior taxa de voluntariado no mundo;
- Nos últimos dois anos, o número de colaboradores envolvidos nos programas de voluntariado aumentou em 67%;
Fontes: IBGE, World Giving Index, Fundação Feac.