Sem fronteiras para ajudar

DIA DO VOLUNTARIADO

Sem fronteiras para ajudar

No Dia do Voluntariado, celebrado em 28 de agosto, conheça histórias como a de Samuel e Isabel, que deixaram a cidade natal para mudar a vida de outras comunidades

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Sem fronteiras para ajudar
Samuel faz parte da organização Médicos Sem Fronteiras e atua em áreas atingidas por conflitos armados faz sete anos (fotos: arquivos pessoais)
Vale do Taquari

As mãos de Samuel Johann trazem saúde, mas também consolo. Em meio aos desafios de atuar em diferentes países, alguns atingidos por conflitos armados, ele viu de perto o sofrimento e a destruição. Como membro da organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF), diz ter um espírito voluntário e, mesmo diante das dificuldades, não perde a motivação.

Depois de sete anos, o lajeadense formado em Relações Internacionais aprendeu a separar a dor, da necessidade de levar saúde e cuidado a diferentes comunidades. “É muito duro testemunhar o sofrimento humano. Mas nós, enquanto profissionais humanitários, passamos um tempo dentro das situações e partimos”, relata. “As pessoas atendidas pela organização, por outro lado, são nativas, e por vezes impossibilitadas de deixar os locais onde vivem”.

Entre as atividades que desempenha como coordenador de projetos da organização, está a construção e gestão de estruturas de saúde, clínicas móveis, até a atuação em campos de refugiados.

Samuel esteve na Nigéria em 2016, onde os conflitos levaram mais 1,5 milhões de pessoas a migrarem do interior em busca de segurança. No período, a cidade de Maiduguri e suas duas estruturas de saúde estavam superlotadas.

“Um número assustador de crianças estava em quadro de desnutrição aguda, sem contar as que haviam perdido a vida na viagem. Me senti abalado com a situação, pensando que não daria conta. Ainda guardo o frio na barriga ”, descreve.

Outro momento marcante foi quando chegou à província de Khost, no Afeganistão, e pisou na maternidade gerenciada pela organização pela primeira vez. “Foi emocionante ver mulheres afegãs, vindas de diversos lugares, buscando um local seguro para darem à luz, e sendo recebidas de braços abertos por enfermeiras e médicas da MSF. Um verdadeiro projeto de mulheres para mulheres”, conta. Na época, eram feitos mais de 60 partos por dia.

Mais de 90% dos fundos da MSF são de doadores privados que acreditam no trabalho da organização. Embora o espírito do trabalho seja voluntário, a atuação das equipes é profissional e remunerada durante o período de estadia nos projetos.

“Ser voluntário é uma questão de atitude e não de ocupação. Basta olhar ao redor e se perguntar: como posso ser útil? Ao invés de esperar que o mundo atenda aos seus anseios, sua energia brota naturalmente da arte de servir ao mundo. Não acho que exista bem-estar mais genuíno e duradouro”, finaliza Samuel.

Programa de Voluntariado

No Vale do Taquari, uma das entidades que promove esse trabalho é o Sesc, por meio do Programa Sesc de Voluntariado. O curso já existe desde 2013, mas a partir de 2015 se tornou um programa que, além de preparar voluntários, também acompanha o trabalho dos participantes.

De acordo com a assistente social do Sesc Lajeado, Raquel Zerbielli Brandão, nos Vales do Taquari e Rio Pardo, mais de 100 pessoas acima de 18 anos já foram formadas pelo curso. A atividade tem duração de uma semana, com 1h de aula por dia, além de atividades complementares.

São tratados temas como a história do voluntariado, legislação, direitos, deveres, limites e planejamento. No momento, ele é ministrado de forma online. As instituições também podem participar e são preparadas pelo programa, por meio de Oficinas de Gestão para receber os voluntários.

Pelo Brasil

Poder estender a mão a quem precisa é um dos benefícios do voluntariado. Mas ele também permite o conhecimento de novas culturas, por meio de experiências como a de Isabel Kristiner, 26, que cursava o último semestre de Engenharia Civil pela Univates quando foi selecionada para fazer parte do Projeto Rondon em 2019.

Organizado pelo Ministério da Defesa, o projeto selecionou 20 universidades para atuar na Operação João de Barro, no Piauí. A frota de Lajeado, composta por oito alunos e dois professores, atuou na cidade de Arraial, com atividades para a aprendizagem e empoderamento dos moradores da comunidade.

Isabel (agachada com jaleco amarelo) participou do Projeto Rondon, no Piauí, em 2019

Uma das oficinas propôs que crianças representassem a cidade em uma maquete. Para elaboração do trabalho, foi perguntado o que eles mais gostavam e o que sentiam falta no município. “Eles disseram que sentiam falta de um campo com grama, uma pracinha, de um balanço que funcionava”, conta Isabel.

Autocuidado e Empoderamento foi o nome de outra atividade organizada pelos voluntários, quando mulheres foram questionadas sobre o que faziam para se sentirem bem e empoderadas.

“Uma menina contou que se sentia emponderada porque atravessava o rio todos os dias para ir à escola. Isso me marcou muito”, conta Isabel. Quando a oficina terminou, as próprias moradoras propuseram formar um grupo para que pudessem manter essa rede de apoio, mesmo sem os voluntários.

“Para fazer um trabalho voluntário é preciso estar aberto a novas experiências, saber escutar e não apenas falar, porque todo mundo tem muito a dizer. Esse retorno que a gente recebe no trabalho voluntário não dá para medir, traz um sentimento de gratidão”, conta. Depois da experiência no nordeste, Isabel volta para casa com o desejo de conhecer outras culturas pelo Brasil e ajudar sempre que for possível.

Dados sobre o voluntariado no mundo

  • Segundo relatório da plataforma Atados, que conecta pessoas interessadas em trabalho voluntário a vagas em organizações, nos três primeiros meses da pandemia, o número de inscritos para trabalho voluntário cresceu 43%, se comparado ao mesmo período de 2019;
  • Cerca de 78% das pessoas realizaram pelo menos uma atividade beneficente nos últimos 12 meses, com 67% tendo doado dinheiro;
  • As causas mais populares para doação são em apoio às organizações religiosas, apoio às crianças ou jovens e combate à pobreza;
  • Globalmente, quase 1/5 de todos os adultos são voluntários;
  • Metade dos países que mais subiram no Índice Mundial de Doações são da Ásia. O Sri Lanka tem a maior taxa de voluntariado no mundo;
  • Nos últimos dois anos, o número de colaboradores envolvidos nos programas de voluntariado aumentou em 67%;

Fontes: IBGE, World Giving Index, Fundação Feac.

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