Mais tecnologia, menos esforço

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Mais tecnologia, menos esforço

Ganhos em produtividade e qualidade estão atrelados a pesquisa, maquinário e gestão da propriedade

Mais tecnologia, menos esforço
Roberto de Oliveira, de Estrela, investiu R$ 180 mil em chips e sistema para monitorar produtividade do rebanho leiteiro. Foto: Felipe Neitzke
Vale do Taquari

“Colono, agricultor e empreendedor rural, assim são definidos aqueles que trabalham no campo e marcam diferentes períodos na agricultura. É um resgate desde o período dos colonizadores ao momento atual, sob um olhar empresarial da propriedade”, resume o gerente adjunto da Emater/RS-Ascar, Carlos Lagemann.

Além do Dia do Colono e Motorista, celebrado em 25 de julho, há uma data específica para o agricultor, comemorada em 28 de julho. “As datas se confundem, mas o objetivo é o mesmo, valorizar aqueles que trabalham na agricultura e garantem a produção de alimentos”, acrescenta Carlos.

A tecnologia foi e continua essencial para os avanços na produção agrícola, obter maior rentabilidade e diminuir custos de produção. Diante da redução da mão de obra, máquinas ampliaram o potencial produtivo e aliviaram o trabalho braçal no campo.

“Essa evolução é indispensável, o próprio mercado dita esse ritmo”, comenta Carlos, mencionando o uso da tecnologia para desenvolver produtos e serviços. Ele aponta para pesquisas que desenvolveram plantas mais resistentes e alimentos de origem animal de maior qualidade.

Lagemann compara a produtividade da soja, a maior commodity. “Em 1980, a produção era de 30 sacas por hectare, hoje passa de 70 sacas”, observa. Ele cita a tecnologia, o estudo de manejo e a evolução dos processos para obter melhores resultados.

Neste contexto, a Emater/RS-Ascar atua com assistência técnica e extensão rural. “Nós como instituição temos essas duas missões. Levar para o campo a tecnologia desenvolvida em laboratório e dar assistência para romper barreiras e tornar a propriedade rentável”, pontua Carlos Lagemann.

Como resultado deste trabalho, observa os recordes de produção agropecuária apesar de períodos com estiagem. Carlos alerta para a importância da gestão orientada, incentivando o agricultor na tomada de decisão e qualificar para o mercado”, acrescenta.

Experiência no campo

Pedro Lenhard, 71, conhece bem as transformações do trabalho no campo. Quando jovem ajudava o pai a cortar cana-de-açúcar, serviço árduo e braçal, hoje participa da gestão da granja localizada no interior de Estrela. O gosto pelo trabalho na roça, o fez investir na bovinocultura leiteira. Iniciou na atividade em 1971, com uma pequena estrutura e baixa produtividade.

Além de vender para a cooperativa, mantinha clientes para quem vendia em garrafas plásticas. Em 1999, o genro Roberto de Oliveira, 40, passou a auxiliar na rotina e incentivar melhorias para aumentar a produção de leite.

As inovações surtiram efeito em 2007, quando constituíram agroindústria para legalizar a venda ao consumidor final. “Comecei entregando leite de moto”, lembra Roberto. Através de cursos e acompanhando feiras, Oliveira se especializou na área, passando a gerenciar a produção.

Tornar a propriedade eficiente e lucrativa foi o grande desafio. “Era uma rotina cansativa, muito trabalho braçal, pouca tecnologia, grandes movimentos e pouca produtividade”, explica Roberto.

O planejamento levou à qualidade e hoje a família entrega leite A pasteurizado, com o mais alto grau de pureza. Um terço é envasado na propriedade e vendido para clientes na região. O excedente é entregue à cooperativa.

Gestão

As melhorias na genética e manejo fizeram a produção saltar de 17 para 37,5 litros/dia por vaca. Para alcançar esse resultado, contratou um médico veterinário, que presta serviços há 12 anos. Fez investimento de R$ 180 mil em sistema para monitorar a produção das 90 vacas.

“Tomei decisões ousadas, mas sempre bem embasado para obter o resultado pretendido. Cada passo foi planejado e colocado no papel”, explica o agricultor. A terceirização das pastagens é um dos exemplos de ações implementadas.

Percebeu economia considerável ao contratar o serviço e não mais com maquinário próprio. “O custo de manutenção e tempo dedicado às lavouras se tornava mais caro”, aponta.

Conhecedor da tecnologia em outros países, Roberto planeja robotizar a ordenha e automatizar o trato dos animais. “São investimentos que a médio e longo prazo se pagam. Representa mais produtividade e qualidade do produto final”, projeta o empreendedor rural.


ENTREVISTA

Carlos Joel da Silva • presidente da Fetag/RS

O dia 25 de julho é reservado para homenagens aos colonos e motoristas, categorias que se complementam e assumem protagonismo. No decorrer de décadas, o trabalho no campo evoluiu, a tecnologia trouxe mudanças no modo de trabalho. O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Carlos Joel da Silva, fala das conquistas e desafios da categoria.

A Hora: O que o agricultor tem a celebrar nesta data?

Carlos Joel da Silva: As conquistas são muitas, basta avaliar a agricultura como era e o que é hoje. Não se tinha energia elétrica, nem onde acondicionar os alimentos. O modo de trabalho era árduo e braçal. Hoje a facilidade é maior, muitos processos foram mecanizados. Melhoramos em qualidade de vida, mas se trabalha por mais horas para atingir o resultado ideal.

Quais os desafios do trabalhador rural?

Carlos Joel: O maior desafio é a sucessão na propriedade. Embora o ritmo de jovens deixando o campo tenha reduzido, ainda é uma questão que precisa ser trabalhada. Aponto três aspectos fundamentais para garantir essa permanência. O primeiro é a infraestrutura, incluindo melhores estradas e acessos às propriedades. O segundo ponto é a qualidade da energia elétrica, pois precisamos de uma rede que suporte os projetos de expansão. E por fim, acesso à internet. O filho do agricultor quer ter boas condições, caso contrário, ele tende a ir para a cidade.

Em relação ao trabalho no campo, o que mudou nas últimas décadas e o que ainda precisa mudar?

Carlos Joel: Houve uma boa evolução nos últimos 30 anos, mas o agricultor produz cada vez mais para os outros. A crescente nos custos de produção faz ele trabalhar mais e ter uma margem cada vez menor. É preciso obter a devida valorização e lucratividade. O preço dos produtos aumentam nas prateleiras do supermercado, mas esse percentual não atende o aumento dos custos de produção. Agricultores do segmento de aves e leite, por exemplo, estão pagando para produzir.

Qual a atuação da Fetag e os sindicatos frente aos trabalhadores do campo?

Carlos Joel: Graças ao movimento sindical conseguimos manter programas e políticas públicas para o produtor rural. Se não fosse o trabalho dos sindicatos, talvez o Pronaf, Banco da Terra e PAA, não chegariam para atender os pequenos produtores. É um movimento fundamental e nós também evoluímos muito. Antes, as entidades apenas cobravam do poder público, agora somos protagonistas e construímos propostas para discussão com o governo.

Como a agricultura familiar está superando a pandemia e os efeitos da estiagem nas últimas safras?

Carlos Joel: Para se manter na atividade, o agricultor precisa planejar cada vez mais, ser gestor dentro e fora da propriedade, ser conhecedor do mercado. É preciso ser um empresário completo e não apenas um produtor. Outra questão importante é a qualificação. Em meio a tudo isso, percebemos o aumento na busca por cursos.

Quais as perspectivas para o futuro do trabalhador rural?

Carlos Joel: A perspectiva é de crescimento na agricultura e pecuária como um todo, tanto na familiar, quanto empresarial. No entanto, precisamos resolver o custo Brasil, pois estamos cada vez mais dependentes da exportação. O mundo precisando de alimentos e o Brasil com potencial. Nosso desafio é ser competitivos e resolver os problemas internos, ter uma política agrícola de longo prazo, algo para 5 a 10 anos. Também precisamos processar o grão aqui, não dá para ficar vendendo soja em grão ou o gado sem processar.

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