A rivalidade entre católicos e evangélicos, marca da sociedade regional nos anos 30, foi ultrapassada por um interesse comum: ter um hospital em Lajeado. As discordâncias foram deixadas de lado e assim surgiu o HBB.
Passados 90 anos, a instituição se consolida como referência no Vale do Taquari, estado e até no país. Está entre os 100 melhores hospitais do Brasil. Para cidades com até 100 mil habitantes, a casa de saúde ocupa o topo do ranking feito pela empresa de pesquisa de dados Statista Inc, publicado pela revista norte-americana Newsweek.
O resultado atual se confirma a partir dos números e da abrangência. Os pacientes atendidos vêm de diversas cidades. Estima-se que sejam de 70% do RS. A equipe é composta por cerca de mil profissionais.
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Funcionários mais antigos foram homenageados em evento nessa sexta (foto: Filipe Faleiro)
Dez destes trabalhadores foram homenageados na manhã dessa sexta-feira, como parte dos festejos de aniversário. Entre eles, está a enfermeira coordenadora da emergência e do atendimento 24h, Rosa Maria Rodrigues Lemos.
Em agosto, ela completa 32 anos de HBB. “Neste tempo todo, eu vi tanto crescimento. Éramos um hospital pequeno. A emergência hoje, era a parte nova. O que me marcou é esse avanço da instituição e também das pessoas, dos profissionais.”
Natural da cidade de Esmeralda, começou como auxiliar de enfermagem, depois como técnica, enfermeira e agora como gestora da equipe da porta de entrada do hospital. As diferenças do passado para hoje, relembra Rosa, estão na tecnologia e nas novas técnicas disponíveis aos pacientes. “Logo quando entrei, lembro que a diretoria da época aumentou o envolvimento da sociedade nos projetos de expansão do hospital.”
Foi justo no período dessas três últimas décadas, em paralelo ao desenvolvimento econômico e urbano de Lajeado e da região, que o HBB alcançou o patamar de referência. A diretoria atual realça todo o preparo feito para o salto.
Confirmado a partir de alguns marcos, como a inauguração do Centro de Tecnologia Avançada (CTA), em 2015. Na sequência, em 2020 recebeu a Acreditação Nível 3, tornando-se um dos poucos hospitais do país a contar com essa certificação.
No presente, o desafio da covid
A pandemia exigiu adaptação rápida. Antes do primeiro caso, instituições, profissionais e setores públicos do Vale do Taquari passaram a organizar como seria o atendimento. Espaços exclusivos para os pacientes do covid-19, treinamento de equipe e elaboração de protocolos.
Ainda assim, tudo era muito novo e difícil. “Não sabíamos como agir. Se os profissionais iriam usar máscaras, como deveriam se aproximar ou não dos pacientes. No início, não tínhamos informações”, relembra a enfermeira Rosa.
No aprendizado de como lidar com algo novo, a coordenadora da emergência frisa o comprometimento das equipes. “Mesmo sem saber como proceder, não faltou gente para atender as pessoas.”
O momento mais delicado foi neste ano, quando a internação de casos graves superou a capacidade de atendimento. Foram adaptados leitos de UTI em diversos espaços. Houve dias, relembra, que o hospital estava com quase 50 pacientes intubados.
Em meio ao estresse, do sentimento por vezes de impotência das equipes nos corredores, também foi preciso conviver com o adoecimento dos profissionais. “Chegamos em um momento que não tínhamos soldados, como falou o vice-presidente (doutor Marcos Frank) em uma live com o prefeito.” Fazer as escalas de trabalho, em meio aos afastamentos, naquele cenário extremo, foi também muito difícil. Nos assustou muito.”
No passado, o esforço pelo futuro
Vergilio Goerck atuou por 22 anos no HBB. Entrou ainda estudante, cursava economia e foi convidado para dirigir o então hospital São Roque, em 1972. A família Born fazia parte do círculo de amizades dele e, na época, a esposa Maria Rosali Goerck trabalhava na entidade, como coordenadora do faturamento.
No início da década de 70, o hospital era pequeno, como recorda Vergilio. Lembra que o prédio não tinha elevador. Quando os funcionários precisavam levar pacientes em uma maca, era necessário subir os três andares pela escada.
Anos depois, o hospital subiu de categoria. A chegada de tecnologia à medicina e de médicos especialistas aos poucos mudou o patamar da instituição. O primeiro foi na área de urologia. “Essa qualificação dos médicos fez com que tivéssemos condições de acessar programas para atender agricultores dos vales do Taquari e Rio Pardo. Chegamos a ter 210 leitos”, conta Vergilio.
Foi com a regionalização que o hospital iniciou o caminho para se tornar referência. Tanto Vergilio quanto a mulher, Maria Rosali, estiveram presentes na implantação do serviço de neurocirurgia e da criação da UTI pediátrica e neonatal, no início dos anos 90. A entidade também inaugurou uma das primeiras UTIs adultas do interior do RS.
Uma vida dedicada ao HBB
O primeiro e único emprego de Maria Deomira Bozetti, 72. Por 51 anos, foi funcionária da área da limpeza, passou pela enfermagem e pelo administrativo. Ela lembra quando o hospital passou a receber pacientes de toda a região.
“Essa época foi bem complicada, porque a gente abraçou muita coisa e muitas vezes o hospital estava lotado, faltava lugar. Depois foi melhorando, as cidades começaram a evoluir e se ajudar”, recorda.
As instalações do hospital eram rudimentares, conta. Com o passar das décadas viu reformas e ampliações e presenciou a chegada de máquinas e especialistas. “A cada ano a gente tinha uma novidade. O prédio foi aumentando, tudo foi evoluindo. Teve muito sacrifício e dedicação.”
ENTREVISTA
João Batista Gravina, presidente do HBB
“A Medicina será cada vez mais preventiva”
A diretoria do HBB é composta por voluntários. À frente desta equipe, João Batista Gravina avalia o caminho percorrido até agora que levou o hospital a uma posição de destaque no RS. Sobre o futuro, evita detalhar as estratégias como forma de não criar expectativas.
A Hora – Nestes 90 anos de história, como foi o avanço do hospital?
Gravina – O HBB é a realização de um ideal. Os líderes comunitários entendiam a necessidade de ter um hospital. Inclusive está documentado. As rixas das comunidades católicas e evangélicas conseguiram montar uma instituição à comunidade.
Nos primeiros 40 anos, as técnicas eram rudimentares. O que se tinha era um enfermaria e um bloco cirúrgico. O avanço começou a partir dos anos 70, quando se incorporou novos medicamentos e especialidades.
Nossa evolução foi entre 1980, 90 e, em especial, após os anos 2000. Se não houvesse isso, ocorreria como tantos outros hospitais que não se especializaram e sucumbiram.
– O presente ainda está muito ligado à pandemia. A covid mudou muito a relação entre as pessoas e também o atendimento médico. Qual a situação hoje?
Gravina – O nível de vacinação reduziu bastante a demanda por covid. Ainda temos pacientes sendo atendidos, mas nem perto do que foi a loucura de 2020 e o início deste ano.
Nós procuramos ser proativos, quando apenas se falava do risco de contaminações no RS, já montamos uma UTI para esses pacientes. Eram seis vagas, depois passou para oito. Em março deste ano, tivemos 54 leitos de UTI. Viramos um grande hospital para atender covid.
Tudo graças a parceria dos funcionários, dos médicos e do governo municipal. Tivemos apoio da prefeitura com respiradores. Foi mais uma mostra do envolvimento comunitário em um momento de crise.
– Quanto ao futuro. O que esperar em pequeno, médio e longo prazo?
Em curto prazo, continuar o que está em curso e melhorar nossas atividades. Em médio, procurar mais mais serviços para dar sustentabilidade. O hospital não visa lucro, mas precisa de superávit. Isso significa condições de investir em novas tecnologias, em equipamentos, em melhoria das condições de atendimento.
Para longo prazo, vou fazer uma brincadeira. Lembra do filme Star Trek. O médico ficava ao lado do paciente, com uma máquina e já tratava o paciente. É para aí que vamos. (risos).
Mas é isso mesmo, no futuro teremos uma medicina cada vez mais individualizada. A pessoa com a mesma doença será tratada de forma diferente, pois é preciso saber a genética dela. Qual sua propensão a doenças.
A medicina será cada vez mais preventiva. O paciente pode não ter nada, mas o exame de DNA vai mostrar suas características. O tratamento será feito antes dele adoecer.