A estação mais fria do ano traz consigo o drama social dos moradores de rua. O inverno eleva os riscos para essas pessoas em vulnerabilidade e alerta os serviços de atendimento a essa população. Sem dados consolidados em termos do número de cidadãos nesta situação, o governo municipal contrata uma empresa para ampliar esse atendimento e conhecer a demanda da cidade.
Ainda que de maneira empírica, a rede de amparo acredita que há um aumento no número de pessoas na rua. “Desde o início da pandemia, acompanhamos um crescimento de pessoas precisando desse atendimento”, diz a coordenadora do Abrigo São Chico, Luana Dias Pereira.
Neste ano, a entidade completa 20 anos de atuação em Lajeado. Hoje tem capacidade para atender 44 pessoas. Destas, 40 vagas masculinas e quatro femininas. “Percebemos que há muitas pessoas em situação de vulnerabilidade vindo para Lajeado. Talvez esteja aí o aumento na demanda”, argumenta.
De acordo com Luana, a maioria das pessoas em situação de rua chegaram a essa condição por perda de vínculos familiares, abuso de álcool, drogas ou mesmo por problemas psíquicos. No período da pandemia, houve uma mudança neste perfil.
“Ainda que sejam poucos casos, percebemos que alguns acolhidos pelo abrigo chegaram nesta situação pelo desemprego, perda de renda, em que não conseguiram mais manter a casa, o aluguel”, destaca Luana.
Entre os trabalhos desenvolvidos pelo abrigo, conta, está o encaminhamento dos internos para atualização dos documentos e busca por reingresso no mercado de trabalho.
“O frio aumenta nossa vigilância”
A secretária de Desenvolvimento Social de Lajeado, Céci Gerlach, frisa os riscos às pessoas em situação de rua durante o inverno. “Já tivemos casos de óbitos por hipotermia. Não queremos que isso se repita. O frio aumenta nossa vigilância.”
Pelo acompanhamento dessa população, muitos sofrem de enfermidades crônicas, o que os tornam mais suscetíveis as doenças comuns em períodos frios. Em um dos casos de morte por hipotermia foi instituída a criação Abrigo São Chico, relembra Céci.
Para garantir atendimento durante a noite e nos fins de semana, o governo de Lajeado encaminha a contratação de uma empresa de assistência. Conforme a secretária, foi feita uma concorrência pública e a homologação deve ocorrer nos próximos dez dias.
Serão seis meses de serviço, em que a terceirizada atenderá em horários fora do expediente da Assistência Social do município. O investimento previsto é de R$ 9 mil ao mês. Junto com a acolhida, encaminhamento para abrigo e acompanhamento social, a empresa também auxilia na tabulação das pessoas em situação de rua, informa Céci.
ENTREVISTA
Sérgio Diefenbach, promotor de Justiça
“Precisamos saber quantos são e quem são os moradores de rua”
• De que maneira é feito esse trabalho em rede para garantir o acolhimento das pessoas em situação de rua?
O atendimento e o acolhimento dessas pessoas é tarefa principal do serviço social do município, junto com instituições conveniadas, como é o Abrigo São Chico. O Ministério Público acompanha esse trabalho, seja do serviço público ou da entidade prestadora do serviço.
• Tendo em vista que faltam dados específicos sobre qual a demanda do município, quais os apontamentos do MP em relação ao atendimento em lajeado? Quais os pontos positivos e o que pode melhorar?
Como positivo em Lajeado, destaco o fato de ter um índice de desenvolvimento humano elevado. O poder público tem o controle, ainda que haja alguns nichos de pobreza, e as famílias, na maioria, ainda acompanham e ajudam seus entes. De fato, é uma cidade grande ainda com algumas características de municípios pequenos. Sobre aspectos para melhorar, começa justo por essa medição e acompanhamento de pontos específicos. Gostaria de destacar, isso não quer dizer que não exista, que não esteja sendo feito de uma maneira adequada. Ainda assim, temos muitas pessoas que passam fome, que passam frio e que moram em locais inadequados. Sabemos que se trata de um público que migra entre as cidades, e a evolução de Lajeado passa por isso. Precisamos saber quantos são e quem são os moradores de rua. Isso precisamos aprimorar.
• A perda dos vínculos familiares é um dos principais aspectos destacado pela Assistência Social. É possível evitar essa ruptura?
Uma das formas é manter serviços de apoio às famílias, para que não expulsem pessoas do seu convívio. Muitas vezes, vemos que é em casos de pobreza extrema, pela necessidade de sustento, mas também há o alcoolismo e a doença mental.
Por isso, há necessidade de observação, controle e abordagem profissional dessas pessoas. Não é uma atividade de polícia, mas de aproximação, de conhecimento, de territorialização. Esse é um traço das cidades que estão crescendo. Evitar crescimento dessas situações vai depender da nossa capacidade de trabalho conjunto, para essa circunstância da vida coletiva se mantenha sob controle.