Buscar inspiração no passado para projetar um futuro de desenvolvimento econômico e social é o grande desafio de Teutônia, que completa na próxima segunda-feira, 24, seu aniversário de 40 anos de emancipação político-administrativa.
O município tem uma economia variada e apresenta índices econômicos que o deixam atrás somente de Lajeado na região. Mesmo assim, possui desafios importantes aos gestores públicos, comunidade e setor produtivo.
A vocação para o cooperativismo, por exemplo, remete às origens de Teutônia, ainda no século 19, quando foi criada a “Colônia de Teutônia”. E isto é apontado por lideranças como um dos caminhos para o município se consolidar no cenário estadual, bem como a diversificação da economia.
“Temos uma concentração de indústrias e negócios muito restritos. Além daqueles já sacramentados, é preciso diversificar a economia”, avalia o diretor-presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer. Opinião compartilhada pelo presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Teutônia, Airton Kist. Ele avalia que há uma dependência grande do setor calçadista na geração de empregos.
Cooperativismo e logística

Para líderes empresariais, as condições da Via Láctea é um dos principais desafios ao desenvolvimento
Teutônia conta com três grandes cooperativas, atuantes em diferentes áreas. E o fortalecimento delas também contribui para o desenvolvimento do município. “Nascemos dentro de um sistema cooperativista e acredito que o futuro será pavimentado em cima destes princípios. Continuar com este espírito é fundamental”, afirma Neori Ernani Abel, presidente da Sicredi Ouro Branco.
O presidente da Certel, Erineo Henneman, também aposta no sistema, aliado à força da população. “O cooperativismo é um pilar para que Teutônia tenha um desenvolvimento ainda maior”, salienta.
Por outro lado, lideranças ressaltam a importância de investimentos em infraestrutura, tecnologia e logística. Kist elogia a elaboração dos planos Diretor e de Mobilidade Urbana, mas que ainda é necessário escolher os projetos prioritários para a cidade.
“Uma coisa é o plano existir, outra é fazer virar realidade. A produção do frigorífico da Languiru de Poço das Antas passar por dentro de um bairro é complicado, as conexões entre os três bairros principais também. A Via Láctea, nos horários de pico, é outro problema, com muitos acidentes”.
Bayer reforça que Teutônia tem uma localização privilegiada, próximo a polos econômicos. Ele comemora a duplicação da BR-386, entre Lajeado e Carazinho, mas espera um aproveitamento melhor do Porto de Estrela. “Ele é muito bem localizado. Uma pena que esteja na situação atual. Espero que a região consiga usá-lo da melhor forma possível. Dará um incremento muito grande”.
A luta emancipacionista(*)

Wallauer e a vitória da emancipação, comemorada há 40 anos. Vereador na época, presidiu a sessão de criação do município e empossou primeiro prefeito
Por volta das 17h do dia 24 de maio de 1981, começava a ser escrita definitivamente a história de Teutônia. O recolhimento das 34 urnas instaladas em três distritos de Estrela dava fim a votação de um plebiscito emancipacionista que modificou o mapa da região.
No dia seguinte, às 10h30min, surgia o 233º município do Rio Grande do Sul, com a vitória do “Sim”, por 66,55% dos votos. “Teutônia, Languiru e Canabarro transformam em realidade seu sonho”, anunciava O Informativo do Vale, em 26 de maio.
A emancipação de Teutônia se concretizava após uma luta de duas décadas. A primeira tentativa se deu em 1963. Desentendimentos entre líderes emancipacionistas e moradores dos distritos, porém, dificultaram o processo. Cada uma das comunidades pleiteava a sede do município.
Mudanças na legislação nacional, em meio ao período da Ditadura Militar, esfriaram os planos da comunidade. A segunda tentativa viria em 1976, após a realização das eleições municipais. O candidato da situação, do MDB, derrotou o concorrente, do ARENA, apoiado por líderes do movimento. A derrota, por uma margem de 800 votos, foi o estopim para a retomada do movimento.
“Metade dos moradores não são daqui”
Teutônia tinha uma população aproximada de 6 mil habitantes quando se emancipou. Em 40 anos, este número mais do que quadruplicou. “Diria que pelo menos metade dos moradores não são naturais daqui”, observa Selby Wallauer, professor aposentado e figura histórica do município.
Wallauer, que completa sábado 85 anos, não se envolveu diretamente na mobilização como outras lideranças da época. Mas era um entusiasta da emancipação e um profundo conhecedor da história de Teutônia. E, após a emancipação, fez história ao ser eleito vereador e presidir a sessão solene que instalou o município, em 1983.
Bastante próximo a Elton Klepker, primeiro prefeito de Teutônia (falecido em 2015), Wallauer lembra que o amigo, um dos grandes líderes do movimento, escreveu um “Termo de Compromisso” aos apoiadores, onde determinava que o município emancipado se chamaria Teutônia.
“Ele queria respeitar às origens de Teutônia. Também determinou que o Centro Administrativo deveria ser construído na divisa dos bairros Canabarro e Languiru. Fez esse termo sozinho, reuniu mais de 30 pessoas e leu para todos. É um depoimento famoso que regeu a campanha de emancipação”, salienta.
Conforme Wallauer, os três distritos sempre se destacaram e exerciam grande influência sobre Estrela no aspecto econômico. “Sempre fomos muito fortes nisso, desde a colonização. Eram comunidades bem desenvolvidas. E a partir da vinda da energia elétrica para Teutônia, o progresso foi ainda maior””
Protagonismo feminino
A participação da mulher na política ainda deixa a desejar na região. Teutônia, contudo, pode se orgulhar do forte envolvimento feminino no processo de emancipação.
Presidente da Liga Feminina Pró-Emancipação de Teutônia, Leda Follmer trabalhava como advogada na época. Hoje atua em Lajeado como registradora de imóveis. Segundo ela, o voto feminino foi fundamental para a emancipação, que trouxe um legado para as mulheres teutonienses.
“Participamos de forma aberta e envolvente numa grande decisão popular. A partir daí, as mulheres tiveram maior projeção, coragem para assumir postos de comando e chefia, de organizarem-se em grupos e fazer parte da nossa história”, comenta.
Já Ledi Schneider, 81, professora aposentada, também foi atuante no movimento. Ela já havia sido vereadora suplente em Estrela e diz que se sentia responsável em participar do trabalho. “Da nossa parte, era um trabalho de esclarecer as pessoas, tanto nos benefícios como nos deveres para com o novo município”, ressalta.
Obs: (*) Contribuição do historiador Guido Lang, autor de diversos livros que abordam a história de Teutônia
“A continuidade do crescimento de Teutônia deve ser de forma sustentável, com o cooperativismo cada vez mais importante e fortalecido”
Dirceu Bayer
Presidente da Languiru
“Nós temos um povo muito determinado em trabalhar e favorecer que as melhores práticas aconteçam”
Erineo Hennemann
Presidente da Certel
“A organização de um distrito industrial mais sólido para o futuro ajudaria muito”
Neori Ernani Abel
Presidente da Sicredi Ouro Branco
“Lideramos um movimento que teve adesão de centenas de mulheres, que se sentiram valorizadas, reconhecidas e prestigiadas”
Leda Follmer
Líder emancipacionista
“Temos uma economia sólida em virtude das cooperativas e do agro. Mas precisamos variar e alavancar novos segmentos”
Airton Kist
Presidente da CIC-Teutônia
“Havia uma maturidade muito grande na comunidade que formava os três Bairros. O povo sabia o que queria”
Ledi Schneider
Líder emancipacionista