Sou daquelas pessoas que procuram acreditar no outro. A expressão do ser humano é uma das mais belas manifestações desse mundo, então custa crer que dela provenham tamanhas impropriedades e atos tão depreciativos para nossa espécie. Em se tratando do momento que vivemos, com o vírus entre nós sem previsão de saída, as atitudes deveriam ser diferentes. Mesmo assim, segue a novela da vacina. Fora a descrença de alguns e a inoperância e irresponsabilidade de muitas autoridades, os fura-filas escancaram o quanto ainda precisamos evoluir para uma sociedade ética.
A história há de registrar as incoerências desses anos e no futuro teremos, quem sabe, a visão bizarra dessa obra. Em 1904, no Rio de Janeiro, os protestos contra a obrigatoriedade da vacina para a varíola terminaram triunfantes com a chamada Revolta da Vacina e o fim da obrigatoriedade. Na época, diziam que feições de bovinos poderiam surgir naqueles que recebessem a dose. Ninguém virou vaca e em 1908 a cidade foi tomada por uma violenta epidemia da doença.Em A Metamorfose, de Franz Kafka, de 1915, me chama a atenção as reações do personagem Gregor que, ao acordar atrasado para o trabalho, se vê metamorfoseado em um inseto gigante. O realismo fantástico de Kafka capta as angústias do personagem preso aos limites das autoridades que o cercam (o pai, o trabalho, o tempo) e a falta de habilidade para lidar com a transformação por que passa. Embora trágico e excessivo para uma boa parte do público de hoje, a obra nos remete às questões da adaptabilidade e colaboração tão necessárias à atualidade.
Conforme pesquisa publicada pelo Salesforce Group, “O futuro do trabalho, agora”, estas são competências das mais relevantes para quem deseja crescer, tanto no ambiente digital quanto físico: adaptabilidade e colaboração. Segundo o estudo realizado com 20 mil pessoas (2 mil pessoas entrevistadas) em diversos países, inclusive no Brasil, as facilidades de acesso à informação por meio de tecnologia podem nos auxiliar a aprender novas habilidades, mas precisamos também nos apoiar em competências, habilidades sutis ligadas diretamente às nossas atitudes e comportamento, as chamadas soft skills.
Nos próximos seis meses, algumas dessas soft skills serão as mais requisitadas por empresas e clientes: adaptabilidade e colaboração (96%), criatividade (95%), habilidades comerciais e análise de dados (93%). Outros exemplos de competências necessárias são a empatia, ética, liderança, resolução de conflitos, flexibilidade e a gestão de equipes.
O estudo não traz nenhuma novidade. Basta observar os resultados que alguns países, principalmente latino-americanos, vêm alcançando na condução do combate à pandemia e fica clara a falta, tanto de habilidades quanto de competências, no trato do problema. Mas tanto no macro quanto no microambiente, sem dúvida, elas são necessárias à nossa sobrevivência. A falta de habilidades e competências pode ser combatida com conhecimento, treinos e desejo de fazer. Transformar-se em inseto ou qualquer bicho é pura insanidade.