O professor Ney Lazzari deixa a reitoria da maior instituição de Ensino Superior da região ao término deste ano. Há 21 anos à frente da Univates, se prepara para presidir a Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento (Fuvates), mantenedora da universidade.
Para substituí-lo, a tendência é que seja a professora Evania Schneider, primeiro nome da única chapa inscrita até então. A nominata de consenso tem ainda como vice-reitora a professora Fernanda Storck Pinheiro.
A votação será por meio de um sistema de escolha de representantes, desenvolvido pelo Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) e auditado por empresa especializada. A votação será realizada por formulário eletrônico em link.
São aptos a votar a comunidade regional, por meio da Assembleia da Fundação Vale do Taquari de Educação e Desenvolvimento Social (Fuvates); funcionários professores do Quadro de Carreira da Univates; alunos regulares de graduação e pós-graduação da Instituição; e funcionários técnico-administrativos.
Desafios para o futuro
A Univates viu as finanças despencarem a partir de 2014 com as restrições impostas ao programa de financiamento estudantil do governo federal e a queda no número de estudantes. O Fies representava 40% da receita.
Ao invés de transferir o custo da estrutura acadêmica às mensalidades, foi necessário usar a criatividade para aproveitar laboratórios, pesquisas e o conhecimento vivo na instituição para também se tornar uma prestadora de serviços à sociedade.
O momento exigia inovações, do contrário, precisaria adotar um plano de contenção. Demitir, fechar laboratórios e encerrar projetos de pesquisa. Uma medida difícil para uma universidade. “Tivemos de buscar novas formas de receita, e a prestação de serviço pareceu uma possibilidade”, relembra Ney Lazzari.
Como 80% dos estudantes cursam as graduações no turno da noite, a ideia era usar o complexo para prestar mais serviços às empresas, setores públicos e à comunidade.
Quatro áreas instaladas foram avaliadas como possíveis geradoras de receitas. O Unianálises, a Unidade de Negócios em Tecnologia da Informação (TI), o Laboratório de Tecnologias da Construção (Latec) e o Centro de Serviços em Saúde. Juntos, hoje representam 20% da receita da Univates.
A saída do reitor Lazzari tem como plano de fundo a divisão de atribuições entre a mantenedora (Fuvates) e a Univates. “A universidade vai manter o seu papel, voltada à formação, ao ensino, à pesquisa e inovação. Já a Fuvates, irá ser responsável pelos serviços”.
“A pandemia é a cereja do bolo na crise das universidades”
• Em 21 anos como reitor, a Univates teve uma expressiva evolução. Partiu de sete cursos para mais de 30 na graduação. Ao mesmo tempo, cresceu em espaço físico e em serviços à sociedade regional.
• A Hora – Quais os motivos que levam o senhor a sair da reitoria da Univates?
Ney Lazzari – Nos últimos quatro, cinco anos, a universidade abriu diversas frentes de trabalho. Na saúde, começamos a atender nos postos de saúde e na UPA de Lajeado. Também ampliamos o Unianálises e começamos a prestar serviços em outras áreas. Não foi fácil lidar com ensino e com essas novas atribuições.
Percebemos a necessidade de separar melhor essas iniciativas dentro da instituição. Nos últimos dois anos, repensamos todo o organograma da Univates. A partir de 2021 vamos colocar esse novo modelo em execução. Há diversas mudanças que antes estavam no nosso dia a dia e que passarão para a mantenedora.
• Há uma redução contínua no número de alunos no Ensino Superior. Como tem sido na Univates e quais as perspectivas para o futuro?
Lazzari – Estamos registrando queda no número de alunos nos últimos quatro anos. A pandemia é a cereja do bolo na crise das universidades. Passamos pelas mudanças no Fies, entre 2014 e 2015, logo em seguida a crise econômica nacional e agora o coronavírus. Tivemos mais de 13 mil alunos antes desses episódios e agora estamos com uns 9 mil.
Hoje, ninguém tem certeza de nada. Mas ainda assim, podemos fazer algumas considerações. O Ensino Superior não será mais o mesmo no ano que vem. A modernização vista em outros setores atingirá a educação também. E não será a Educação à Distância que está posta aí e nem o presencial que tínhamos até março deste ano.
É algo entre os dois. Uma mediação do que cada fórmula tem de bom. Se trata de uma incógnita, que não temos clareza para onde vai.
• Na sua avaliação, quais os principais marcos da instituição ao longo destes 21 anos?
Lazzari – Começa quando transformamos a Univates de faculdade para centro universitário, em 1999. Tínhamos três mil alunos, sete cursos. Com essa nova classificação, passamos a ter cursos fundamentais, que atraíram muitos acadêmicos. É o caso do Direito, das formações na área de saúde e das engenharias.
A partir disso houve um “boom” da instituição. Até 2009, conseguimos abrir formações das quais a região demandava. Eram cursos pensados para atender uma demanda local.
Se formos ver, a própria instituição só existe devido a nossa região. Foi a comunidade que nos anos 90 viu que teria de ajudar para termos uma instituição de Ensino Superior.