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“Aprendi a ser mais independente e segura”Natural de Caxias do Sul, a mãe de Santo Heloisa de Oxum, 65, é uma sacerdotisa da Nação Cabinda, uma religião de matriz africana. Para ela, a pandemia é uma guerra do bem contra o mal. A principal lição desse período crítico à humanidade, diz, é a necessidade do ser humano voltar a se conectar com a natureza.
• Como começou sua caminhada religiosa?
Por herança. Sou bisneta de mãe de santo, e desde cedo tenho conhecimento sobre o plano espiritual. É um legado dos meus antepassados, do qual preciso dar sequência. Fui escolhida para ser uma sacerdotisa. Uma função que exige o meu comprometimento com o sagrado e de ajudar aqueles que precisam e que procuram por um aconselhamento espiritual.
• As religiões africanas têm diversas vertentes. Quais são as particularidades da crença da Nação Cabinda?
Se diferenciam a partir das regiões em que surgiram. A Nação Cabinda ganhou esse nome devido a uma cidade de mesmo nome em Angola. Apesar da diversidade, todas têm uma crença voltada aos Orixás e da crença de um Deus maior, que para nós é Oxalá.
• O mundo vive a maior pandemia do último século. O que isso representa na sua leitura religiosa?
Temos trabalhado muito para entender isso. Busco introspecção, de me conectar com o sagrado para entender os motivos de essa praga ter nos atacado de forma tão inesperada. Acredito que ninguém previu que teríamos essa pandemia mundial que pudesse prejudicar toda a humanidade.
Nossa religião busca conectar o ser humano às energias da natureza. Nossa essência está no mar, na brisa, nas árvores. Nos elementos da natureza. Apesar de queremos entender o porquê dessa catástrofe, precisamos aceitar tudo isso. Saber que com muita fé e muita esperança vamos dar a volta por cima.
• Em meio a essa busca por entender os motivos da pandemia, o que os orixás dizem?
Essa praga é maligna. É uma energia do mal que leva a vida de inocentes. O nosso plano material está em conflito. Uma guerra constante entre energias do bem e do mal. Esse é o entendimento que temos por meio da espiritualidade. Temos de combater um mal invisível, que exige de nós uma nova forma de viver e de nos relacionarmos.
Por muito tempo, propagamos energias negativas. Isso enfraqueceu o nosso planeta. Acredito que o vírus chegou como um castigo para a humanidade. Voltarmos para nós mesmos agora é fundamental. Precisamos entender o porquê de estarmos nesse mundo.
• Sobre entender a razão da vida. Como que as energias interferem na saúde das pessoas?
Antes do corpo adoecer, a alma já está doente. Partimos desse entendimento. Quando nossa energia enfraquece, os órgãos começam a ter problemas. Para nós há um sinal. Nossos pensamentos e nossas ações propagam essas energias. Quando agimos de forma individualista, provocando dor nos outros, estamos nos aproximando de forças malignas.
Essa crise também é para aprendermos. Toda a ganância, do pensamento do Ter em vez do Ser, nos trouxe a este momento. O individualismo nos leva para caminhos negativos. Impossibilita que as pessoas vejam a grandiosidade da vida.