Lajeado figura entre as cidades mais ricas do país, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas, divulgada nesta semana. Está na 9ª posição no estado do Rio Grande do Sul e na 41ª no país. Entretanto, o status glorioso pode estar com os dias contados. Por consequência, afetará toda a região do Vale do Taquari.
Políticos e líderes vaidosos não concordam com esta narrativa e preferem ufanar o potencial local como algo inabalável. Cuidado! O nosso arranjo econômico está ameaçado.
Ainda que a diversificação econômica – indústria – comércio e serviços – permeada pelo setor de alimentos, tenha pilares sólidos, o que chega pela frente é preocupante. Não é exagerado afirmar que “o Vale que conhecemos não existirá após a covid-19”, ao menos quando sabemos das transformações em curso.
Dois fatores vitais ameaçam nosso potencial regional: falta de mão de obra qualificada na área digital (o mundo novo) e as estruturas frágeis do nosso comércio perante gigantes como Amazon, Alibaba e outros players com robustos e eficientes sistemas de venda online.
“Os grandes tomarão conta, se não nos mexermos”, desabafou ontem o empresário Deoclides Pedó, em e-mail e telefonema a este colunista. Ele se diz “angustiado e obcecado pelo estudo e análise do que está diante da nossa porta, sem nos darmos conta”.
Uma mostra é a falta do profissional mais requisitado neste momento: o gerente de e-commerce. Falta inteligência para orientar e operar nas empresas um modelo assertivo e eficiente de vendas digitais. Ao mesmo tempo, nossos clientes e nós mesmos somos “bombardeados” diariamente por players do centro do país e, até internacionais, por meio de algoritmos e sofisticados sistemas robóticos, de onde compramos com alguns clics. E tudo com alta escala e competitividade.
Na maioria dos casos, não é possível antever as dimensões das mudanças que se processam e nem o tempo que elas necessitam para nos impactar, reforça Pedó. Pressentir o potencial risco à manutenção do “status quo” regional é urgente , na opinião dele.
Concordo. A inércia e a descrença em relação às mudanças rápidas ainda persistem em muitos negócios locais e regionais. Os mais resistentes e com pouca flexibilidade serão os mais atingidos, talvez, “varridos” do mercado, em questão de alguns meses, para não dizer semanas.
A preocupação sobre o comércio tradicional ganha escala à medida que seus proprietários não conseguem ou não querem antever os desafios e ajustes que devem ser implementados. O risco de dormirem à noite e acordarem no outro dia sem condições para continuar aumenta ao passo que seus modelos de gestão e processos fiquem defasados.
Como mudar isso? Eis o desafio. Devemos estabelecer discussões exaustivas nas universidades, nas entidades de classe, nas escolas, nas empresas e até nas famílias. Não temos tempo para ranços, nem cochilos, egos ou vaidades. O momento é de adaptação, rápida e eficiente. Vamos abrir a cabeça.
E não falo apenas do comércio e da necessidade de implantar sistemas digitais ou de e-commerce. Nosso arranjo produtivo local galgado na produção e industrialização de alimentos também está ameaçado pela evolução produtiva da China, para citar apenas uma ameaça. Os produtos asiáticos invadiram o Brasil, o Rio Grande e estão cada vez mais dentro de nossas casas. Portanto, se a nossa gente se rende aos chineses, então imagina o que farão as outras regiões que sequer têm vínculos emocionais com nossos produtos.
Os desafios realmente são gigantes. Os grandes conglomerados estão organizados e vorazes. Devemos falar mais disso e agir. Precisamos ser rápidos e intensos, nos apropriar da inovação e das oportunidades competitivas. Torcer o nariz ou “esperar a pandemia passar” para então decidir algo novo, pode ser tarde demais.
Insisto: universidades, entidades de classes, empresas e famílias, todos alinhados na busca por soluções. E, por último, quebrar a saga do poder público pesado, arcaico e burocrático. Precisamos enfrentar os agentes políticos profissionais e exigir que tenham soluções inovadoras para nossas cidades e arranjos produtivos, sejam eles prefeitos, vereadores, secretários ou qualquer outro cargo que ocupem. Quem não tiver nesta sinergia, devemos “varrer” do cargo. Já esperamos demais.
O comentário pode soar duro, mas tem objetivo claro: agir enquanto é tempo.