Liziane Matias tem 32 anos, é mãe de Artur Pietro, de dois, e cria o filho sozinha. Sem poder contar com o apoio do ex-marido, é o avô paterno de Artur, de 51 anos, quem divide com ela a responsabilidade de cuidar da criança.
“Eu tive sorte que o avô dele veio de Forquetinha para morar em Lajeado bem na semana em que precisei. Ele trabalha com pintura e deixou alguns trabalhos para ficar com o neném”, diz.
O avô busca o menino pela manhã, quando Liziane sai para trabalhar, e leva de volta no fim da tarde. Essa foi a solução encontrada para que Liziane pudesse voltar ao trabalho. No entanto, é provisória.
Em junho, o homem precisa retornar ao trabalho e Liziane não sabe com quem vai deixar o filho. “Quem depende só de si sabe como é. Gente para cuidar tem, mas tem que pagar. Como eu vou pagar?”, questiona.
Sem auxílio
A empresa onde Liziane trabalha fechou as portas logo no início da quarentena. Sem carteira assinada, ela ficou 50 dias em casa sem receber.
“A gente poderia trabalhar em casa e ganhar por vendas. Mas com o neném junto, correndo para lá e para cá, não tem como eu trabalhar”, diz.
Sem computador em casa e com internet apenas no celular, ficou impossível acessar o sistema da empresa para fazer contato com clientes de todo o país.
A situação se agravou quando o auxílio emergencial de R$ 600 foi negado pelo Governo Federal. A alegação seria de que o auxílio havia sido pago para outra pessoa da família. Como não tem parentes próximos, ficou sem entender. Procurou a Caixa e recebeu a resposta de que nada poderia ser feito.
“Fui pedindo aqui e ali. Uma vizinha pagou minha conta de luz, para não cortarem. Negociei o aluguel com o dono da casa e consegui um rancho no Creas. E assim vou indo”.
Acúmulo de tarefas
Analista de RH de uma empresa de Lajeado, Thaísa Theves aderiu à modalidade de teletrabalho no dia 19 de março. O marido seguiu trabalhando fora de casa e a filha ficou sem a creche. Luiza, de três anos, frequenta a EMEI Espaço de Sonhos, no bairro Pinheiros, em Estrela.
Após um mês se dividindo entre o trabalho, as tarefas do lar e os cuidados com a filha, ela decidiu contratar uma funcionária durante o turno da tarde.
“A gente faz um malabarismo. Tem que ser mãe, tem que trabalhar, tem que cozinhar. É um desafio. Tive que chamar alguém para me ajudar, porque não estava legal”, conta.
Convívio familiar
Desde o início de maio, a escola envia atividades quinzenais por Whatsapp. Em função da idade da criança, Thaísa explica que o foco das atividades é o estímulo ao convívio familiar.
“Ela está um pouco enjoada de ficar em casa, sente falta de brincar com outras crianças. É bom que tenho oportunidade de ficar em casa. Eu estaria insegura de mandar ela para a escola neste momento”, avalia.
Thaísa procura ver o lado positivo da quarentena. Como a filha frequenta creche desde os quatro meses, a recomendação de ficar em casa proporciona um momento de convívio familiar mais próximo.