“Faltou umidade para a bergamota e a laranja se desenvolver. Muitas caíram do pé antes de se formar ou secaram depois”, relata Selmar Grassi, produtor faz 35 anos, em Muçum.
A família mantém o cultivo de laranja (Umbigo e Céu) e bergamotas (Ponkan, Caí e montenegrina) em um hectare. O valor do quilo, da variedade Caí, é vendido ao valor de R$ 2, para consumo in natura. “Está bom e deve se manter, pois a oferta será menor”, observa.
A produção de bergamotas envolve 14 produtores na cidade. Em 2019, entre as variedades Caí, Murcot, Ponkan, Deponkan e montenegrina, foram colhidas 690 toneladas em 23 hectares plantados. “A queda chega a 50%”, resume o técnico Jairo Bellini.
Mais qualidade e sabor
Na propriedade dos pais de Lenen Peterson, em Boqueirão do Leão, são cultivadas três variedades de bergamota, com expectativa de colher até 4 mil quilos da fruta. A safra atual terá ciclo e produção menor, mas qualidade superior comparado com o ano passado. “A bergamota produziu menos em função da estiagem, mas em compensação, concentrou mais açúcar”, revela.
O preço saltou de R$ 2 para R$ 2,50 o quilo. As frutas são destinadas para programas sociais do governo e mercados da região.
Menos suco nas prateleiras
A cooperativa Ecocitrus, com sede em Montenegro, mantém 113 produtores associados. A oferta de bergamotas, laranjas e limões cairá pela metade. De acordo com o gerente de relações institucionais, Ernesto Kasper, em 2019 foram produzidas mais de 275 mil caixas de citros
Hoje 80% da produção de sucos e de óleos essenciais é exportada a países europeus, como França, Alemanha e Bélgica, por exemplo. A indústria tem capacidade instalada para processar 17 mil toneladas de frutas ao ano. “Por conta da quebra, em 2020 devemos processar 50% a menos”, adianta.
Safra ruim
Conforme Derli Paulo Bonine, assistente técnico regional do Sistema de Produção Vegetal, a safra de citros será muito ruim este ano em virtude da estiagem.
O que prejudicou a citricultura neste ciclo?
Durante o estresse hídrico ocorre um decréscimo da produção da área foliar das laranjeiras, bergamoteiras e laranjeiras, fechamento dos estômatos, aceleração da senescência e da abscisão das folhas. As plantas submetidas a esta situação conservam água no solo, um tipo de economia para períodos posteriores. Com a estiagem houve a redução no desenvolvimento das células, na expansão das folhas, transpiração e redução na translocação de assimilados. Todos estes fenômenos tem determinado, em casos mais graves, queda de frutas e morte de plantas.
A chuva registrada ainda reverte as perdas?
Para as cultivares de bergamoteiras precoces, como a Caí e Ponkan o prejuízo já é irreversível, principalmente quanto ao calibre das frutas. O mesmo ocorre com as laranjas precoces, como a Céu Precoce. Na região do Vale do Caí muitos citricultores estão retirando todas as frutas de pomares jovens, na tentativa de evitar a morte de plantas. Já para a Montenegrina, os danos podem ser amenizados com a volta da umidade.
O preço será maior?
Inevitavelmente, pois o volume de frutas produzido será bem menor. Por exemplo, para a bergamota Caí, que no ano passado o citricultor recebia na mesma época R$ 1 o quilo, nesta safra está recebendo R$ 2. Entretanto, são poucos que dispões de fruta para vender, pois a maioria as perde nos pomares. É uma minoria que tem irrigação e consegue colher. Já a fruta colhida está bem menor que no ano passado, mas a qualidade e o sabor, com pouca chuva e boa insolação, estão muito melhores.
Já a fruta colhida está bem menor que no ano passado, mas a qualidade e o sabor, com pouca chuva e boa insolação, estão muito melhores,
Derli Paulo Bonine, assistente técnico.
Para saber
Em todo Estado são cultivados 6,6 mil hectares por mais de 2,3 mil produtores. A produção alcança 112,3 mil toneladas.