Mecanizada, lavoura de soja cresce

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Mecanizada, lavoura de soja cresce

Falta de mão de obra, envelhecimento, tecnologia, preço e demanda em alta, aliada a receita gerada por hectare, faz o grão se tornar a principal e a única cultura em muitas propriedades. No Vale do Taquari, área aumentou 40% nos últimos dez anos

Mecanizada, lavoura de soja cresce

O plantio avança por diversas regiões e áreas. É o caso da lavoura localizada em Alto Conventos, interior de Lajeado. O plantio de milho destinado para silagem e grão, para alimentar um plantel superior a 30 vacas leiteiras, deu lugar a oleaginosa faz dois anos.
Diante da possibilidade de incremento na renda e por ter afinidade com a agricultura, Paulo Mallmann, 66, ex-funcionário da Siemens, com sede em Canoas, passou a investir no cultivo.
Administra a propriedade após a morte do irmão. “Tendo a variedade certa, boa genética, trato cultural eficiente e colaboração do clima, o lucro é bem maior comparado com leite ou mesmo milho, principalmente quando é destinado para grão. A soja dá pouco trabalho, é mais resistente em caso de seca e tem venda garantida”, observa.
Neste ciclo serão 16 hectares cultivados com projeção de colher até 1.120 sacas. Na safra passada, problemas com um fungo e as perdas na hora da colheita, resultam em apenas 55 sacas por hectare. “Mesmo assim, o rendimento financeiro foi bom. A abertura do mercado chinês deve elevar o valor pago e se chover dentro da média, poderemos ter uma safra bastante lucrativa”, adianta.
Apenas uma cultura
Fábio Immich, de Lajeado desistiu de cultivar milho e passou a investir todas as “fichas”, na lavoura de soja faz dois anos. Neste ciclo até aumentou a área semeada – chegou a 60 hectares. A meta é colher 4,2 mil quilos por ha.
Com a tecnologia disponível, preço alto, menos horas de trabalho e demanda em constante crescimento, tanto no mercado interno como externo, inexiste cultura que possa superar a da soja. Basta cuidar de cada etapa para atingir bons resultados”, garante.
Embora tenha um pouco de receio quanto ao clima e o mercado chinês, principal comprador da commoditie, entende ser inviável manter outra atividade na área, como pecuária de leite, trigo ou milho. “Está difícil se manter na lavoura. Por isso, apostamos naquilo que ainda dá um pouco de lucro”, diz.
Dependência
Conforme dados do Censo Agropecuário, a soja tornou-se a principal ou até mesmo a única cultura plantada nas lavouras do Estado. Com a crise do setor leiteiro e preço baixo do trigo e milho, o grão avança a passos largos.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, a produção entre 2006 e 2017 saltou de 2,7 milhões para 3,9 milhões de toneladas. Já a média por hectare passou de 36 para 55 sacas no período abrangido pelo levantamento. Outro dado importante é a movimentação financeira – R$ 20,26 bilhões. De cada R$ 5, o grão responde por R$ 1.
A soja está em 76 mil das 293,8 mil propriedades familiares no Estado, o equivalente a 26% do total. No Vale do Taquari, segundo dados da Emater, a área aumentou 40% nos últimos dez anos.
Passou de 15.074 para 21.170 ha. “A produtividade saltou de 3 mil quilos para 3,7 mil neste ciclo, um acréscimo de 23%”, destaca o assistente técnico regional da área de Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar, Derli Bonine.
Para ele, a área cresceu devido a pouca oscilação do preço, o que traz segurança para o plantador. A tecnologia de cultivo aliada a mecanização total, desde a dessecação das plantas de cobertura, semeadura, tratamentos e colheita, fazem com que, mesmo com pouca mão de obra, seja possível realizar o cultivo, observa.
Alternativa segura
O aumento das exportações para a China aliada a obrigação de comprar o grão junto a agricultura familiar para produção de biodiesel, tornou a oleaginosa uma alternativa segura de lucro.
Conforme o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), Luis Fernando Fucks, o pagamento à vista e a liquidez proporcionadas, diferente de outras culturas, faz a área cultivada aumentar a cada safra. “O que paga as contas é a soja”, afirma.
Na região, com o valor da saca em R$ 68, o segmento movimenta R$ 89 milhões por safra. O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) Gedeão Pereira, a soja se tornou a principal fonte de receita da Agricultura Familiar.
Para 2020, se as condições climáticas forem favoráveis, esperamos uma produção recorde que pode ficar acima de 35,5 milhões de toneladas de grãos, superando inclusive a supersafra de 2017”, adianta.
Controle de produção
A dependência apenas de uma cultura traz preocupação para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado, Lauro Baum. Cita a ausência de um regramento como fator principal para justificar o aumento da área.
No exterior, como por exemplo, na Alemanha, são impostas cotas de produção. Um produtor só pode aumentar caso ele compre a cota do vizinho. Lógico não é fácil, mas necessário para evitar um colapso muita vezes”, entende.
A falta de mão de obra, envelhecimento e o preço baixo, também motivam a migração quando são analisadas culturas como a de milho ou a atividade leiteira. Neste ciclo, com a previsão de chuva abaixo da média, a soja ganhou a preferência por ser mais resistente. “Sem falar da demanda garantida pelo aumento da compra dos chineses, tecnologia disponível, menos horas de trabalho e a boa valorização”, observa.
Entende ser necessário e prudente diversificar, fazer um planejamento a médio e longo prazo para definir os investimentos. “Qualquer problema com o clima ou relação comercial pode resultar em prejuízos incalculáveis quando dependemos apenas de uma cultura”, alerta.

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