Retomada das vendas traz otimismo

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Retomada das vendas traz otimismo

Enquanto indústrias ampliam produção e geram mais empregos, no campo produtores apostam na renovação da frota impulsionados pela perspectiva de crescimento da safra e a necessidade de acompanhar evolução tecnológica para melhores índices produtivos

Retomada das vendas traz otimismo

Após quatro anos de retração, fabricantes intensificam a produção e voltam a ampliar a oferta de empregos. Já no campo agricultores retomam os investimentos na compra de máquinas e implementos.
O estímulo vem da perspectiva de aumento da safra agrícola na próxima década, puxada pela demanda externa por grãos, e pela necessidade de cada vez mais eficiente e ágil na lavoura, resultado alcançado com novas tecnologias.
A família Steffens, de Arroio do Meio recentemente aplicou R$ 224 mil na compra de um trator e tratador para auxiliar na produção leiteira. Conforme o filho Robson, 26, apesar do preço ruim do leite, existe a necessidade de modernizar a estrutura para garantir mais produtividade e reduzir custos. “A tecnologia facilita o trabalho e traz ganhos em todas as etapas”, resume.
Ao lado do pai Jandir, 50 e Iria, 45, mantém 40 vacas em lactação e uma oferta diária de 1050 litros. Ainda cultivam em torno de 60 hectares com milho e soja. “No campo precisamos ter cada vez mais agilidade e eficiência. Só a agricultura de precisão nos proporciona isso”, observa.
Para garantir mais rapidez na colheita de grãos como milho e soja, a família Kaefer, de Estrela decidiu trocar a colheitadeira. Segundo Eduardo, é uma necessidade cada vez maior investir em máquinas mais potentes para atender a demanda em todas as etapas produtivas num ciclo cada vez mais curto.
Como exemplo, cita o plantio de soja safrinha. “Quanto antes conseguir fazer a silagem ou colher o milho em grão, antes consigo implantar a lavoura. A cada semana de atraso perco 5 sacas por hectare. São R$ 350 a menos. Por isso, ter máquinas com alta tecnologia embarcada é essencial”, afirma.

Confiança  renovada

Para o sócio proprietário da revenda de tratores e implementos Agrovale, localizada em Cruzeiro do Sul, Márcio Scherer, o principal motivo da retomada das vendas está na liberação de crédito do novo Plano Agrícola, anunciado em julho. “Aquela máquina de anos anteriores, hoje já não dá mais conta de tudo. É preciso inovar, reinventar a forma de trabalhar e produzir mais, sem expandir a área”, opina.
Embora seja cauteloso quanto ao índice de crescimento nos próximos meses, Scherer está otimista. “Não teremos um momento igual de quatro anos atrás quando tínhamos juros baixos e ampla oferta de crédito. Isso saturou o mercado e até causou o endividamento de muitos produtores. Hoje a compra é feita de forma planejada e de acordo com a necessidade”, garante.

Escassez de crédito

No primeiro semestre do ano, a carência de recursos financiados pelo BNDS fez a venda de tratores ainda registrar queda de 19%, comparado com o mesmo período de 2018.
Outra mudança que causa impacto no campo são as alterações na Política de Crédito Subsidiada pelo governo federal, com aumento de 1% nos juros, chegando a 8,5% ao ano e redução do prazo de pagamento, de 10 para sete anos.
Segundo o gerente administrativo da Samaq, de Estrela, Marcio Mügge, isso compromete a capacidade de quitar o financiamento para produtores menores, pois eleva o valor das parcelas. Outra dificuldade são as oscilações constantes no preço de commodities e as perdas provocadas por fatores climáticos.
Apesar do cenário atual, Mügge acredita em uma recuperação, porém lenta. O otimismo se dá em virtude da expectativa de mais um recorde na próxima safra de grãos. “Se tudo ocorrer bem, teremos uma forte procura de máquinas para renovar a frota no campo”, projeta.

Tecnologia como aliada

Destaca a agricultura de precisão como fator primordial para atingir resultados cada vez mais eficientes. “Possibilita maior produtividade por hectare, mais rapidez no plantio, pulverização e colheita diante das curtas janelas”, aponta.
Para ele, itens como piloto automático, correção via satélite de sinal, motor eletrônico com aumento de potência e economia de combustível da máquina serão cada vez mais comuns nas propriedades.

De acordo com Mügge, o investimento em tecnologia e gerencia de todos os processos, especialmente financeiro, se faz cada vez mais necessário ao produtor. “As áreas de terras disponíveis dificilmente aumentarão, pois existe escassez da mão de obra qualificada. Com as janelas de plantio, colheita e pulverização cada vez menores, a saída é comprar máquinas mais potentes”, orienta.

agronoticias_04Mais eficiência na lavoura

Luiz Frederico Hergemoeller, o popular Fritz, do Bairro Boa Vista, de Teutônia investiu na renovação da frota de máquinas e implementos nos últimos anos. Por ciclo cultiva 180 hectares de grãos (trigo, milho para silagem e soja).
Segundo ele, para garantir eficácia em todas as etapas, desde o plantio a colheita, o investimento em tecnologia é primordial.
“Ajuda a reduzir custos, ameniza a falta de mão de obra e ganhamos em produtividade sem precisar ampliar a área cultivada”, explica.
A última aquisição foi um trator de 115 cavalos de potência ao valor de R$ 190 mil. A economia de diesel por hora chega a 3 litros, sem falar da maior rapidez e menores perdas em todas as etapas.

Mais empregos e produção

Entre janeiro e junho deste ano, foram criados 1,3 mil novos empregos na indústria de máquinas e implementos, comparado com o mesmo período de 2018. O saldo positivo é reflexo do aumento das vendas nas concessionárias.
Em Santa Rosa, a AGCO investiu R$ 150 milhões nos últimos três anos. De acordo com o diretor de vendas da Massey Ferguson, Eduardo Nunes, o setor começará agora uma retomada que deve culminar, em 2022, com o retorno aos patamares de produção de 2014. Naquele ano foram comercializados no Brasil 62 mil tratores e colheitadeira, um dos melhores resultados da história, registrado logo após o recorde do setor, em 2013, com 73,7 mil unidades. “Vale lembrar que mais de 50% das máquinas que estão em campo, hoje, tem 15 anos ou mais. Há um grande parque de máquinas a ser renovado no Brasil”, diz Nunes.
Segundo o coordenador de marketing da AGCO, Eder Pinheiro, o agricultor está cada vez mais interessado em investir em tecnologia. “Estamos deparando com uma nova geração no campo. Jovens que querem trabalhar com agronegócio, seguir os passos dos pais, mas utilizando a tecnologia em favor do negócio”, observa.
A John Deere anunciou a ampliação das fábricas em Horizontina, no Noroeste, e Montenegro, no Vale do Caí. Conforme o presidente da Compawnhia no Brasil, Paulo Herrmann, o Brasil vive “alinhamento de astros” no agronegócio que muito favorece o cenário para a produção de grãos no país. “A guerra comercial entre Estados Unidos e China, a peste suína africana na Ásia como um todo, o que vai demandar mais frangos e suínos brasileiros, e, consequentemwente, mais grãos para alimentar o plantel, além da quebra da safra norte-americana de grãos. Tudo isso fortalece o setor”, avalia. Estima um crescimento das vendas acima de 8% para este ano.

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