Mais exigências,  menos produtores

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Mais exigências, menos produtores

Novas regras de produção e armazenagem de leite cru preocupam setor. Federação ligada à agricultura familiar teme que mais famílias sejam excluídas da atividade por não terem condições de atender às normativas

Mais exigências,  menos produtores

“Paramos não por falta de vontade de trabalhar, mas devido às muitas exigências da indústria sem garantia de retorno financeiro”, resume o produtor João Schorr, 60, de Santa Clara do Sul. Ele e a mulher Alair, 58, desistiram da atividade após 35 anos. Por dia eram produzidos 250 litros.
 
Ordenha canalizada e resfriador, foram colocados à venda, mas inexistem interessados. Já os 25 animais foram vendidos para um parente. “Ninguém ajuda o produtor. Nós fomos simplesmente excluídos e ainda temos que pagar R$ 1,6 mil pelo leite entregue à cooperativa e que estava abaixo dos padrões de qualidade”, desabafa.
 
Para tentar se manter na propriedade, aposta na criação de terneiros. A área de pastagem, em torno de 7 hectares, foi arrendada. “Sempre tive o sonho de ver meus filhos assumir o negócio. Tínhamos infraestrutura, bastava produzir, mas infelizmente a falta de renda e cada vez mais imposições tornaram a atividade inviável. Fizeram certo em deixar o campo”, finaliza.
 
Assim como o casal, outras milhares de famílias podem ser excluídas com as instruções 76 e 77, a serem colocadas em prática até o dia 30 de maio, caso não sejam prorrogadas. As medidas mudam a contagem de bactérias, uso de antibióticos e temperatura do leite armazenado na propriedade e no ato da entrega na indústria.
 
Para o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini o objetivo é tornar o leite mais competitivo. “Cada um precisa fazer a sua parte na busca por um novo padrão de produto no mercado”, enfatiza.
 
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Já o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Nestor Bonfanti teme pelo aumento das exclusões. “O produtor pode ter um bom equipamento, rebanho, mas ter problemas com energia elétrica e estradas. Isso dificulta atender as normas”, declara.
 
Segundo Milene Cé, médica veterinária e auditora fiscal federal, o produtor terá tempo para se adequar. “Só em novembro ele pode vir a sofrer uma suspensão da coleta do leite”, explica. Ela destaca, ainda, que a contagem bacteriana é uma exigência desde 2014 e o produtor já deveria ter se ajustado.
 
 

Caos social

Para o presidente da Associação das Pequenas Indústrias de Laticínios (Apil), Wlademir Dall’Bosco, o avanço da legislação para as indústrias é positivo, mas questiona se há estrutura dada pelos entes públicos para iniciar a aplicação das novas regras. “Hoje nós temos 50% dos produtores fora do padrão exigido. Será um processo de seleção, onde estes serão excluídos. Vamos ter um problema social”, alerta.
 
Segundo o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, modernizar o setor é um avanço, visto que outros como aves e suínos já atendem às regras para exportação. “Infelizmente ainda não estamos adaptados para atender ao mercado externo, mas, esperamos que haja tolerância no começo da implementação das normas para que todos consigam atender às exigências das INs”, diz.
 
Caso as exigências vigorem na data estipulada, na área de atuação, 46% das propriedades seriam excluídas.

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