Após 18 anos, a agroindústria de embutidos da família Diehl, de Estrela é uma das primeiras do Vale do Taquari a conseguir o selo do Sistema Unificado Estadual de Atenção à Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf-RS). Por meio dele, está autorizada a vender seus produtos para todo estado.
A longa espera é comemorada por Antônio, 71. “Quase desistimos. Foram inúmeras adequações e investimentos feitos até conseguirmos atender todos os requisitos”, comenta.
Em janeiro veio a dão sonhada notícia. A agroindústria estava apta para vender seu mix de 22 produtos para todo estado. O filho Lauro, 37, atual administrador do negócio, comemora o aumento do número de clientes. “As vendas cresceram 40% em três meses. Hoje conseguimos entregar para quem comprava aqui na propriedade”, observa.
A matéria-prima é transformada em linguiça, banha, mais de 10 cortes prontos, além de bacon e calabresa cortados em fatias. Entre os diferenciais ressalta a preservação da forma de produzir herdada dos antepassados. “Os produtos são defumados com lenha, assim como o torresmo é feito no tacho. Mantemos o processo artesanal. O sabor e a qualidade conquistam o paladar e traz confiança”, entende.
Qualidade para exportar
No Vale do Taquari, o município de Estrela já tem cinco empreendimentos com o selo do Susaf. Conforme o secretário da Agricultura José Adão Braum, a burocracia travou por muito tempo o desenvolvimento dos estabelecimentos, o surgimento de novos, além de afetar diretamente a economia das famílias e da cidade. “Mesmo tendo uma equipe qualificada de profissionais na inspeção, infraestrutura modelo e qualidade para exportar até para o exterior, a burocracia e as exigências beiravam a aberração”, comenta. Superada esta etapa, o município começa as tratativas para conseguir o SISBI, com o qual é permitida a venda para todo país.
Crescimento acima de 50%
Conforme levantamento da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), a quantidade de municípios aptos a licenciar agroindústrias para venderem suas produções no estado cresceu mais de 50% desde o fim de novembro.
O novo modelo, em vigor a partir da assinatura do Decreto 54.189, impulsiona a adequação e a adesão de municípios. Com a regulamentação, em 2012, o Susaf acumulou a adesão de 36 municípios.
Após a implantação do novo modelo, em novembro, houve um salto com mais 65 municípios, sendo que 19 deles já indicaram estabelecimentos aptos a comercializar em todo o Estado.
Conforme o secretário da Agricultura, Covatti Filho, a iniciativa vem ao encontro de solicitações antigas do segmento. “Agora nossos municípios têm mais autonomia e são protagonistas para criar condições de comercialização dos produtos oriundos das agroindústrias familiares, mantendo a preocupação com a inocuidade e a segurança alimentar”, completa.
“O Susaf cria novas oportunidades”
No Vale do Taquari, são 10 municípios conseguiram a adesão e um total de 21 agroindústrias foram indicadas para receber o selo. Enquadram-se neste processo, também pequenos estabelecimentos, cuja área construída é de 250 metros quadrados e existe o predomínio de mão de obra familiar.
De acordo com o assistente técnico regional da área de Organização Econômica da Emater/RS-Ascar, Alano Tonin, as novas regras tornaram o processo mais ágil. Com as instalações adequadas, documentação e estrutura técnica do SIM em dia, é possível obter o selo em até 60 dias, observa.
Para ele, o Susaf cria novas oportunidades para quem produz, pois num curto espaço de tempo o empreendedor tem a possibilidade de acessar novos mercados, o que viabiliza investimentos, ampliações, aumenta a renda e movimenta a economia.
Entre as dificuldades enfrentadas, enumera a organização da documentação do SIM, a comprovação da infraestrutura mínima e das atividades realizadas. “Onde não tem médicos veterinários contratados, nem legislação para o SIM criada, o trabalho é maior. Estimulamos todos a buscar a adesão, mesmo com poucas agroindústrias, pois no futuro pode ser um atrativo para novos empreendedores”, destaca.
À espera do selo
O empresário Alexandre Henicka, 46, de Progresso iniciou a agroindústria de embutidos faz oito anos. Destaca a importância de legalizar o empreendimento e adequar a infraestrutura. “Não tem como trabalhar sem estar de acordo com as normas exigidas”, ressalta.
São processados em média 6 mil quilos de carne suína ao mês, destinada para produção de linguiça campeira e toscana, além de salame.
Foram aplicados em torno de R$ 300 mil na construção do prédio e na compra de equipamentos. Após o município conseguir a adesão ao sistema em fevereiro, Henicka aguarda ansioso para receber o selo, cuja primeira solicitação foi encaminhada faz quatro anos. “Projetamos um crescimento de até 200%. Os clientes já conhecem nosso produto, destaque pela qualidade e sabor. Hoje a maioria compra aqui. Com o selo podemos ampliar a área de atuação e conquistar novos pontos de venda, para aumentar a produção”, finaliza.