Campo adota energia limpa

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Campo adota energia limpa

Consecutivos aumentos na tarifa e com a redução de preço das placas fotovoltaicas faz produtores apostarem na instalação de painéis para gerar eletricidade pela luz solar. No estado existem mais de 500 projetos em andamento

Campo adota energia limpa

Na propriedade da família Hofstatter, de Paverama, a tarifa de energia elétrica chegava a R$ 1 mil por mês. Para driblar os constantes aumentos, após um ano de estudos, Sérgio e Rosane decidiram instalar 48 placas fotovoltaicas, responsáveis por gerar em média 2,4 quilowatts (kW) por mês. “A produção é maior do que a demanda. O excedente é injetado diretamente na rede elétrica convencional. Podemos utilizar em até cinco anos”, explica.
 
O investimento foi de R$ 86 mil, valor financiado pelo Pronaf, com prazo de nove anos para ser pago. “Transformamos o custo em investimento. A parcela mensal do financiamento está em R$ 800. Projetamos quitar tudo em até sete anos”, calcula. A família aposta na produção de leite, cerca de 15 mil litros ao mês.
 
Segundo Sérgio, além de ser uma energia limpa, o sistema possui 25 anos de garantia. A iniciativa desperta interesse dos vizinhos. “Muitos já fizeram o projeto e instalaram, pois além da economia, no futuro pode ser uma fonte de renda complementar”, observa.
 
O empresário Rui Horn, de Cruzeiro do Sul segue os mesmos passos. Para driblar as constantes quedas e o alto valor da tarifa, investiu R$ 250 mil na colocação de 240 placas fotovoltaicas. Por mês, o gasto com a conta de luz na agroindústria de geleias especiais, pizzas e alimentos congelados alcançava R$ 12 mil. “Além de produzir o suficiente para atender a demanda, consegui reduzir meu custo em R$ 50% ao mês”, comenta.
 
A meta é quitar o investimento em seis anos. Entre as vantagens, Horn destaca a sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente. “Pode ajudar nos negócios pelo apelo sustentável”, entende.
 

Menos custos aos associados

 
A Cooperativa Agroindustrial São Jacó (Cooperagri), de Teutônia, é uma das pioneiras em instalar uma usina solar. Com capacidade de gerar 15.232 kWh, o suficiente para atender a metade da demanda, começou a funcionar em junho do ano passado. Foram aplicados R$ 499,8 mil na instalação de 408 placas.
 
De acordo com Lício João Sulzbach, assessor financeiro e administrativo da Cooperagri, a conta de energia alcançava R$ 17 mil. “Com a usina o valor reduzir pela metade. Em 12 meses economizamos R$ 100 mil. Queremos nos tornar autossuficientes nos próximos anos”, adianta.
 
A mudança beneficia diretamente os 352 sócios. “Podemos elevar os descontos dados na compra de ração e demais mercadorias”, observa. Quando a cooperativa produz mais do que consome, o excesso é injetado na rede da concessionária e pode ser abatido nos momentos de pico. “Em outubro, a geração superou a estimativa, dando conta de 66% do consumo. A conta de luz teve uma redução de R$ 5,8 mil”.
 
Com o custo menor, a cooperativa projeta um crescimento superior, de 3% para 4%, este ano.
 

Crescimento contínuo

 
O sócio diretor de uma empresa especializada na venda e instalação de placas fotovoltaicas, de Arroio do Meio, Guederson Maciel, destaca o crescimento do setor nos últimos cinco anos.
 
Para ele, entre os motivos que justificam a adesão de organizações, produtores e empresas a painéis para gerar eletricidade pela luz solar está o valor mais acessível dos equipamentos, a criação de linhas de financiamento, as deficiências no abastecimento, aumento dos valores cobrados pelas concessionárias e a busca por energias mais limpas.
 
Os módulos solares possuem 40 anos de vida útil e 25 anos de garantia. Os kits completos, incluindo gastos com instalação, projeto e execução, podem custar em torno de R$ 15 mil. “É o valor médio para uma casa onde o consumo mensal de R$ 300. Em até quatro anos, o valor está pago”, calcula.
 
O número de painéis necessários depende do tamanho da residência e da quantidade de energia gasta, que variam de acordo com os eletrodomésticos que se tem em casa, por exemplo.
 

Energia solar lidera até 2040

 
A potência fotovoltaica instalada no país alcança 1.613 MW, tendo recentemente atingido 1% de participação na matriz elétrica nacional. Conforme a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2040 a fonte solar alcançará cerca de 126 mil MW, assumindo a liderança com 32% de participação, superando a hidreletricidade, que terá 29%.
 
Para o presidente executivo, Rodrigo Sauaia, no futuro será inconcebível construir um edifício, uma residência ou um prédio público sem incluir um sistema de geração de energia solar. “Será tão barato que não fará sentido não aproveitar essa solução”, afirma. No mundo, a capacidade instalada de energia solar é de 402,5 mil MW, sendo que, no ano passado, cresceu 98 mil MW.
Nos últimos dez anos, a instalação da energia solar fotovoltaica ficou entre 60% e 80% mais barata, ainda de acordo com a Absolar. Nesse mesmo período, o custo da energia elétrica oferecida pelas concessionárias disparou.
 
De acordo com a associação, um público que adere cada vez mais é formado pelos produtores rurais, que apostam na energia solar em suas propriedades como forma de diminuir custos e aumentar a produtividade. “O uso crescente dessa matriz energética renovável, sustentável e limpa, substituindo fontes de energia obtida com a queima de combustíveis fósseis, é positivo para o meio ambiente e para a saúde pública”, destaca.
O Rio Grande do Sul possui 70,2 MW de capacidade instalada, o que corresponde a 16% da capacidade do país.
 

Alternativa mais segura

 
Segundo os dados da Emater, desde 2017 mais de 1,4 projetos foram analisados, sendo mais da metade considerados viáveis. Conforme a agrônomo Giancarlo Fernandes Rubin, mais de 300 estão em operação e quase 200 em fase de implantação. Outros 483 aguardam por decisões do produtor ou liberação de financiamento.
 
Além de ser uma alternativa para locais onde as redes das concessionárias não chegam, o sistema assegura o abastecimento com menos riscos de quedas, problema constante em vários municípios. “Além de amenizar prejuízos, no futuro, deixa de ser um custo”, entende.
 
Ressalta que ainda existe receio quanto ao sistema e as tecnologias presentes no mercado. “No momento que o vizinho fizer, ele se convence”, finaliza.

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