Enquanto no campo o preço pago pelo quilo do boi vivo amarga o pior valor dos últimos cinco anos, média de R$ 4,74 (segundo levantamento da Emater), o consumo nos açougues, casas de carne e mercados é menor. Entre os motivos, estão o desemprego e a queda da renda causada pelo crise econômica.
De acordo com uma pesquisa da Cogo Inteligência em Agronegócio, em 2006, foi registrado o pico de consumo de carne bovina no Brasil, quando a economia ainda estava em crescimento. Porém, daquele ano até 2018, o consumo per capita recuou 18,4% – de 46kg, para 37,6kg por habitante ao ano.
“Nas últimas duas décadas, o consumo aumentou apenas 2%, enquanto a demanda por frango se expandiu em 39% e a de carne suína, em 4%”, compara o sócio-diretor da Consultoria Agribusiness Consultant, Carlos Cogo.
Após quatro anos de queda, o consumo de carne bovina deve ficar estabilizado na ordem de 37,6 quilos por habitante. “Para 2019 pode chegar a 38,3, crescimento de 1,8%”, estima.
O consumo total de carnes também recuou em 7% em 2017 e fechou em 93,4 quilos. O pico ocorreu em 2011, quando o brasileiro consumiu 100,4 quilos. A recuperação do tamanho e do poder de compra da classe média é decisiva para a sustentação da demanda interna de carnes e demais proteínas, como ovos e lácteos, finaliza.
Projeta que nesta última década (2010-2019) a produção mundial de carne bovina se expandirá em 9%, contra um incremento de 25% na produção global de carne de frango e de 11% na de carne suína.
No entanto, Cogo traça um cenário otimista e diz que a demanda por todas as proteínas será impulsionada pela urbanização e aumento da renda em países emergentes.
Na próxima década, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) prevê que o consumo de carnes crescerá 17%. “A metade dessa quantidade será de carne de aves”, aponta.
Sem intermediários
Para driblar a crise e manter a lucratividade da distribuidora de carnes, o empresário Alex Blau (foto de capa), de Lajeado, abriu uma casa de carnes. “Atingimos direto o consumidor final. Assim conseguimos aliar qualidade e preço acessível. Recuperamos 47% nas vendas este ano, com relação a 2017”, calcula.
Para 2019, o cenário é de alta no preço da carne e do consumo. O modelo implantado assegura ao cliente a compra por valor menor e ao pecuarista a garantia de venda do gado.
Por mês, são abatidos em torno de 80 animais das raças aberdeen angus e red angus com idade entre 18 a 24 meses e peso acima de 570 quilos. “São engordados 100% a pasto. O alto peso atingido pelos animais provém de uma seleção genética, manejo e eficiência das fazendas parceiras, o que garante um sabor inigualável”, destaca.
Blau mantém parceria com criadores de São Gabriel, Tupanciretã e Bagé, o que garante uniformidade da matéria-prima o ano todo. “São produtores modelo, com genética avançada e cuidados extremos no manejo”, ressalta.
No entanto, demonstra preocupação com a queda do poder de compra dos clientes nos últimos anos e os constantes aumentos dos cortes. Entre os motivos para esse cenário, destaca a redução do número de animais mantidos no campo.
Muitas fazendas de corte hoje são lavouras de soja. A alta nos custos de produção, estagnação no valor pago pela carcaça e a dificuldade em manter equipes qualificadas no campo justificam a mudança. “Em dez anos, registramos alta de 150% no preço da carne para o consumidor final. Isso reduz o consumo. Enquanto o valor pago ao pecuarista não acompanha no mesmo ritmo, resume.
Com isso, o número de abates não cresce na mesma proporção, assim como a criação no campo. “Na nossa área vamos plantar soja ao invés de milho para tratar os animais. É mais rentável”, observa.
Sem mercado e preço baixo
O criador Júlio Alcara, 52, de Progresso, mantém 170 cabeças na engorda. Nas duas décadas em que aposta no setor, esta é a pior crise. “O preço está baixo e nem temos compradores”, resume.
Enquanto isso, o custo de produção aumentou. Entre março e outubro, o gado é mantido nas pastagens. Após o trato é feito à base de silagem e ração. O quilo registra queda nos últimos meses. Está cotado em R$ 4,50. Há dois anos alcançava R$ 5,50. “Larguei o tabaco, mas está cada vez mais difícil de manter a atividade”, lamenta.
Para tentar equilibrar as contas e reduzir os prejuízos, Alcara aposta na criação de animais para competições de tiro de laço em rodeios. “A esporte cresceu muito nos últimos anos e tem sido uma saída para conseguir algum lucro”, finaliza.