O workshop Negócios em Pauta de outubro abordou os desafios da gestão de micro e pequenas empresas, que representam a maioria dos negócios na região e no país. O evento foi realizado no auditório da Faculdade La Salle, em Estrela.
Professor da faculdade, Sérgio Santana abriu o evento ressaltando a relevância de discutir o tema diante do número cada vez maior de pessoas com desejo de empreender. “Poucas vezes temos a oportunidade de ouvir sobre o dia a dia do mercado e a visão de futuro para os negócios.”
Participaram do painel a gerente regional do Sebrae Vales do Taquari e Rio Pardo, Liane Klein, o professor e sócio-diretor da Vwcon Assessoria Empresarial, Vainder Melo, e o diretor da MC Software, Cleber Holz.
Mediador do debate, o diretor-geral do A Hora, Adair Weiss, lembra que 80% das micro e pequenas empresas não têm uma gestão estruturada, portanto, enfrentam dificuldades. Segundo ele, o Negócios em Pauta surgiu justamente para contribuir para a mudança de modelo mental nas organizações da região.
Weiss questionou os participantes sobre qual a primeira recomendação para uma pessoa que decide abrir o seu negócio diante do cenário de incertezas da economia nacional. Conforme Melo, antes de mais nada, é preciso acreditar no negócio, no produto e na força pessoal do empreendedor.
“Se apenas olhar a crise e as dificuldades, ele não vai abrir um negócio. É preciso desenvolver uma ideia de crescimento e decidir se quero ter uma empresa ou me mantar como empregado”, aponta. Para ele, é possível ser um bom profissional em ambas as situações.
Para Melo, uma empresa só quebra por dois motivos: falta de competência ou insistência em um mau negócio. “O Vale do Taquari é uma região rica e com infinitas possibilidades para um crescimento mais dinâmico.”
Liane Klein acredita que os desafios das micro e pequenas empresas iniciam pelos motivos pelos quais as pessoas decidem empreender. Segundo ela, a abertura de um negócio ocorre ou por necessidade, quando uma pessoa perde um emprego ou precisa ampliar a renda familiar, ou quando surge uma oportunidade.
“Quando o empreendedorismo ocorre por oportunidade, a chance de dar certo é maior. Porém a maioria dos negócios começa por necessidade”, alega. Independente do motivo, diz, o mais importante para a abertura de uma empresa é uma análise criteriosa do mercado, o que inclui concorrentes, fornecedores, consumidores, investimentos necessários e indicadores de lucratividade.
“A maioria dos negócios que não dão certo têm falhas no planejamento na gestão e falta de conhecimento do mercado”, alerta.
Cleber Holz falou sobre a abertura da MC Software para exemplificar a criação de um negócio.
Segundo ele, após trabalhar em uma fábrica de calçados, ele foi convidado pelo irmão para ingressar no ramo da tecnologia. “Após seis meses com meu irmão, ele quis me demitir porque eu não entendia de programação, mas aprendi e lá fiquei por nove anos.”
Depois pediu para sair da empresa do irmão porque percebeu a oportunidade de oferecer novos produtos para o mercado. Ele percebeu que a maioria das empresas não fazia a gestão dos custos dos produtos. “O empresário comprava, mas não somava o custo do frete e as despesas acessórias para definir o preço de venda.”
Ao lado da mulher, Holz buscou conhecimento com o apoio de um contator para aprender a calcular os custos e projetar o preço de venda dos produtos. Lembra que boa parte dos clientes ainda procura apenas as soluções para questões governamentais, como a obrigatoriedade da nota fiscal eletrônica, e não aproveita as ferramentas para buscar informações capazes de melhorar a gestão.
Satisfação x rentabilidade
Professor do La Salle, Rogério Kober questionou os painelistas quanto a uma das principais dúvidas dos jovens que pensam em empreender. “Faço o que gosto ou o que dá dinheiro?”
Para Liane, é preciso gostar da atividade em que se está inserido, em especial devido às dificuldades enfrentadas no início de um negócio. “Claro que, quando é uma oportunidade nova e instigante, você aprende a gostar se for algo realmente é rentável.” Conforme Weiss, os jovens têm maior propensão de buscar um negócio em que possa enriquecer facilmente, independente de ser uma atividade agradável. Porém afirma que o dinheiro é consequência do que é realizado com amor, dedicação e seriedade.
Holz afirma fazer o que gosta, portanto, considera a atividade um hobbie. Melo acredita que no momento de decidir o que fazer a pessoa deve optar por aquilo que ama. “Se trouxer dinheiro, melhor ainda. Busque algo que traga satisfação e rentabilidade.”
Quebra de paradigmas
O professor Santana questionou os debatedores sobre formas de instigar a mudança de cultura nos empresários e clientes do Vale para adaptarem suas gestões às mudanças do mercado.
Liane afirma que essa é uma situação com a qual o Sebrae se depara todos os dias, uma vez que atende mais de sete mil empresas por ano na região.
“É comum encontrar pessoas que aprenderam a trabalhar de uma forma e não querem mudar, mas se continuarmos fazendo tudo igual a tendência é de obter resultados cada vez piores”, alerta. Para ela, o processo de mudança é necessário, mas a inovação deve sempre ter como propósito a geração de resultados.
De acordo com Weiss, indivíduos e empresas não podem deixar de lado a curiosidade, pois é ela que move a busca de conhecimento capaz de gerar inovação e quebras paradigmas. “Se perdermos a curiosidade e acharmos que sabemos tudo, não vamos mais aprender.”
No caso da MC Software, Holz afirma que os empreendedores já procuram a empresa quando precisam fazer a migração dos controles para o meio digital. “Tentamos instigar a curiosidade para que ele perceba a potencialidade das ferramentas de gestão, para que ele possa evoluir e continuar crescendo, não apenas para gerar nota.”
Para Melo, a mudança na culturas das empresas é hoje uma questão de sobrevivência. Para que ela seja efetiva, ressalta, é necessário se cercar de profissionais competentes e bem remunerados das mais diferentes áreas.