Quando entrar setembro…

Opinião

Ricardo Petter

Ricardo Petter

Músico e professor

Quando entrar setembro…

Por

Estamos deixando para trás as águas de agosto, ou melhor, mais do que as águas, o frio invernal desse último mês. E a entrada de setembro também anuncia uma boa nova: a chegada da primavera. Aos poucos, sentimos os dias ficarem mais longos, percebemos as plantas e árvores brotando e uma nova paisagem sonora se formando com o canto e o alvoroço dos pássaros, que começa a ficar cada vez mais intenso. Contudo, se olharmos para trás nas últimas semanas, independente de fatores climáticos, estamos realizando algo novo e com muita alegria: ocupar esse espaço para escrever, provocar, conversar e refletir sobre cultura, música, educação, o tempo e o espaço da infância, num Papo de Gente Grande!
Então, gente! Precisamos considerar nesse nosso Papo, que as crianças sempre estão muito atentas ao que está acontecendo. Dessa maneira, vamos pensar e escrever não somente PARA as crianças; mas, vamos nos propor a pensar, a escrever, a cantar e a contar histórias COM as crianças. Essa inversão torna-se fundamental quando entendemos que a infância deve ter garantida o seu pleno direito à vida, à família, ao cuidado, à cultura e à educação. Assim como entendemos, também, que devemos valorizar, nas crianças, a construção de sua identidade pessoal e de sua sociabilidade. Isto envolve um aprendizado de direitos e deveres, bem como ampliar certos requisitos necessários para adequada inserção da criança no mundo atual: sensibilidade (estética e interpessoal), solidariedade (intelectual e comportamental) e senso crítico (autonomia, pensamento divergente). Entretanto, nesse contexto de valorizar e garantir os direitos da infância, vivemos um tempo/momento social repleto de desafios e dificuldades. E, ainda, mas não menos importante, precisamos considerar que sempre há uma criança nos olhando, nos observando e aprendendo muito mais pelo que a gente FAZ, do que pelo que a gente DIZ.
Devemos assumir a responsabilidade de ser exemplo, não simplesmente dar exemplo. Educação se faz com presença – mediar conversas, diálogos, situações e oportunidades que possam ajudar as crianças a ampliar suas compreensões sobre o mundo e toda sua complexidade.  E, fundamentalmente, educação se faz com afeto e conhecimento, não com motivação e treinamento. O escritor Rubem Alves acredita que tudo começa na educação dos sentidos. “Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. (…) A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver. (…) É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. (…) O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido”.  E, me arriscando a continuar, Educação é ensinar a escutar, a sentir, a cuidar, a viver e amar.
Para terminar nosso papo de hoje, fica um convite: pegue sua criança no colo, pela mão, coloque no sling ou carrinho, na bici. Convide-a para passear! Sua filha, seu filho, seu sobrinho, afilhado ou netinho, seu aluno… E, como na canção Sol de Primavera, de Beto Guedes, permita-se “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos, (…) ver brotar o perdão, onde a gente plantou, juntos outra vez…”

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