Ferramenta capaz de acelerar o crescimento das empresas, o crédito concedido por instituições financeiras pode se tornar um transtorno caso não seja utilizado da maneira correta. Bancos e cooperativas de crédito oferecem linhas com diferentes taxas e tarifas, de acordo com o tipo de empréstimo, a natureza da operação e o cálculo do risco de não pagamento.
O assunto foi abordado no workshop Negócios em Pauta de agosto, que reuniu representantes do Sebrae, Banrisul e das cooperativas Sicoob e Sicredi. Realizado no auditório do Sincovat, o evento discutiu os mecanismos das operações e a forma como funciona o sistema financeiro.
Mediador do debate, Adair Weiss afirma que o crédito é um desafio devido à voracidade de um sistema comandado por grandes bancos que abocanham grande parcela da lucratividade das nossas empresas, cidades e da população em geral.
Segundo ele, a opção por convidados do Banrisul, um banco público, e das cooperativas de crédito com atuação local ocorre justamente pela identificação e o comprometimento dessas instituições com o desenvolvimentismo regional.
Presidente do Conselho de Administração do Sicoob Meridional, Solange Martins iniciou o debate apontando a diferença entre as grandes instituições bancárias privadas e os bancos públicos. Lembra que, mesmo durante a crise, os bancos privados continuaram anunciando lucros bilionários ao mesmo tempo em que reduziam a oferta de crédito, travando investimentos.
“Qual a preocupação deles com seus clientes, se o objetivo final é apenas gerar lucro para seus acionistas?”, questiona. Segundo ela, nas cooperativas, a sociedade não é de capital e sim de pessoas, por isso, é possível praticar tarifas e taxas mais justas, e o resultado fica na região onde elas atuam.
“O empresário é favorecido no seu fluxo de caixa, pois paga menos pelo crédito, e as sobras são divididas entre os associados”, destaca. Conforme Solange, o crédito em si é benéfico desde que atenda as necessidades do tomador, seja para investir na empresa, realizar seus sonhos, ou sair de uma situação difícil. Para ela, o uso do crédito consciente faz as pessoas se desenvolverem.
Gerente da agência Banrisul Florestal, em Lajeado, Lari Cagnini ressalta que, como banco público, a instituição tem compromisso com a população do estado, por isso, mantém agências em 95% dos municípios e postos de atendimentos em todos os demais.
“Se deixar de ser público, muitas comunidades não terão mais o Banrisul, porque não dará o lucro que os grandes conglomerados esperam”, alerta. Segundo ele, por não olhar apenas para o resultado, bancos públicos e cooperativas ajudam os empresários não apenas com o recurso, mas também com o diálogo e a orientação necessária para seu uso consciente.
Tomada consciente
Gerente da agência Sicredi Empresas, Fabrício Diedrich falou sobre as formas de acesso ao crédito empresarial. Segundo ele, existem linhas para as diferentes necessidades, e o empresário não deve tomar um empréstimo sem um objetivo definido.
Caso o objetivo seja a compra de máquinas, carros ou a construção de estruturas, as linhas voltadas para o investimento são mais indicadas devido a taxas, prazos e tarifas mais atraentes. As linhas de capital de giro, usadas para solucionar problemas, custam mais caro. Conforme Diedrich, a concessão ou não do crédito depende de uma análise criteriosa sobre a empresa.
“Antes de buscar uma linha de crédito, a instituição vai olhar como você chegou hoje aqui para buscar o crédito. É um estudo para entender a sua situação cadastral e patrimonial”, ressalta. O gerente do Sicredi alerta para as armadilhas que fazem as empresas precisarem do crédito mais caro, o de capital de giro.
A primeira delas é não saber separar o dinheiro pessoal do da empresa, gastando recursos da organização com despesas alheias às suas operações. Outro erro é não conhecer o fluxo de caixa. “Se compro com prazo de sete, oito e 15 dias e entrego com prazo de 30, 60 e 90. Quanto mais vender, maior será o buraco entre as entradas e saídas.”
Outra armadilha, alerta, é raspar o caixa da empresa para fazer investimentos. “Ao comprar um terreno, um carro ou construir um pavilhão com o dinheiro das sobras, além de imobilizar o capital de giro, perde a oportunidade de fazer um empréstimo mais alongado com taxas menores.”
Cagnini lembra que todos os bancos têm linhas de crédito semelhantes, com nomes diferentes. Para ele, há análise criteriosa da empresa antes de conceder o empréstimo. “Não posso dar crédito sem conhecer a empresa. Tenho que ser um parceiro do empresário, conhecer as instalações e a estruturação do negócio para oferecer a melhor solução.”
Segundo Cagnini, o Banrisul oferece praticamente uma consultoria, porque quer que o empresário cresça, gere emprego e faça o RS crescer. Para ele, essa é uma função social que apenas bancos públicos e cooperativas cumprem.
Custo efetivo total
Analista Sênior do Sebrae-RS, Augusto Martinenco questionou o público sobre qual a pergunta mais importante a fazer quando se busca crédito. Para ele, mais do que taxas de juros, o principal fator é o valor da parcela.
“O que importa é o impacto do crédito no orçamento e no fluxo de caixa do negócio”, alega. Segundo Martinenco, não adianta ter taxa de juros de 2% se a parcela não couber no orçamento. O custo total da operação, ressalta, é o que determina o valor final da parcela.
De acordo com Solange Martins, quando uma taxa de juros é contratada a 1,5% ao mês, por exemplo, não estão incluídas as tarifas para abertura do crédito que compõem o custo efetivo total das operações.
Lembra que as taxas dependem muito do tipo de crédito e estão atreladas ao risco do tomador. Nessa análise, entram a capacidade de pagamento, o faturamento, o custo da operação e quanto da sua renda mensal está comprometida com outros financiamentos.
“Depende muito da atividade de cada setor e da margem do negócio”, aponta. Outro fator decisivo é o histórico e perfil de bom pagador da empresa e se está com restrição em órgãos como o Fisco e o Banco Central.
“Medindo o risco e avaliando a garantia oferecida, é feito um histórico que nos aponta qual a possibilidade de ele nos pagar ou não esse crédito”, explica. Conforme o gerente do Banrisul, se é verdade que os grandes bancos não baixaram os juros do cheque especial, as operações de crédito estruturadas tiveram redução nas taxas.
“Neste momento, com uma Selic de 6,5%, temos conversado com os empresários para fazer operações estruturadas. A economia está retomando após quatro anos”, destaca.
Para Martinenco, ainda há muito para crescer e desenvolver em termos de oferta de crédito, mas os empresários também precisam compreender que o momento é favorável para a tomada de empréstimos.
“Quando voltarmos a ter confiança no mercado, é provável que as torneiras do investimento voltem a se abrir”, destaca. Lembra que a economia brasileira vinha em uma trajetória de crescimento até a greve dos caminhoneiros, que freou a recuperação.
Impactos da greve
O empresário Valmor Scapini questionou os palestrantes sobre os impactos da greve na concessão de crédito para o setor dos transportes.
De acordo com Lari Cagnini, o Banrisul não é muito ousado na área de transportes devido à forte concorrência de instituições maiores e com mais conhecimento no setor.
Lembra que as transportadoras tiveram uma queda de faturamento médio de 30% devido às manifestações. “A greve foi 15 dias, mas os reflexos continuam”, alega.
Conforme Fabrício Diedrich, quando se fala em ciclo financeiro, as empresas estão sendo afetadas agora. “As vendas de maio que não ocorreram entrariam no caixa das empresas entre em agosto e setembro”, explica.
De acordo com os palestrantes, após as eleições o país deve passar por um período de maior estabilidade política o que dará a confiança necessária para a volta dos investimentos e do crescimento econômico.
Parceria
O evento também foi marcado pela apresentação do novo parceiro do Negócios em Pauta, a empresa Reinigend, de Teutônia. De acordo com os administradores da empresa, Renato Scheffler e Gicele Mylius, a parceria ocorre por identificar que o Negócios em Pauta entrega um trabalho de valor para a sociedade.
“Só com conhecimento e planejamento vamos elevar nossas organizações e as comunidades ao redor dela”, afirma Gicele. Segundo ela, a Reinigend é uma indústria química voltada para a produção de higienizantes que visa ajudar no desenvolvimento do Vale.
Conforme Scheffler, as pessoas costumam ter uma visão negativa do que representa os produtos químicos. “Queremos mostrar que estamos trabalhando com algo que contribui e que faz parte do nosso cotidiano.”
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br