O consumo de ovos no RS alcançou em 2017 a marca de 227 unidades por pessoa, um recorde. São 36 ovos per capita a mais desde 2013, quando a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) lançou o Programa Ovos RS, com o objetivo de incluir a proteína na dieta.
E entender o motivo é fácil. Simples de preparar, nutritivo e barato, o ovo venceu muitos mitos nos últimos anos, principalmente o que relacionava a proteína ao aumento do colesterol.
O consumo em alta criou novas oportunidades e investimentos. Em Cruzeiro do Sul, a família Wilgen atua no setor faz mais de três décadas. Com um plantel de 95 mil de poedeiras, tem uma produção diária de 83 mil ovos (brancos e vermelhos).
O produto abastece mercados, cozinhas industriais e restaurantes dos vales do Taquari e Rio Pardo. Os primos Juliano, 33, e Joel, 28, administram o negócio. “O principal desafio está na biossegurança e na sanidade”, comenta Juliano.
Para atender as exigências dos órgãos fiscalizadores e dos clientes, nos últimos meses, iniciaram uma série de mudanças na granja, cujo investimento alcança R$ 1,5 milhão.
Toda área será cercada e aviários recebem tela de proteção contra pássaros. Além da construção de um novo depósito e a compra de máquinas para selecionar os ovos, entrou em funcionamento um aviário todo automatizado com capacidade de alojar 25 mil aves. “Tanto os ovos como o esterco são retirados por esteiras. O fornecimento de água e ração é programado. Garante agilidade e ajuda a reduzir a mão de obra”, explica Joel.
Os ovos são identificados nos rótulos com a marca da empresa, para garantir a rastreabilidade. “Traz mais segurança a quem consome”, afirma.
Conforme os empresários, o consumo registra aumento constante nos últimos anos. Entre os motivos, citam as campanhas de divulgação dos benefícios. “Temos que mostrar todos os dias o quanto essa proteína é nutritiva e saudável”, diz Juliano.
Preço estável e custo alto
Uma das dificuldades para manter a rentabilidade do negócio é o aumento do custo dos insumos como milho e soja, principais ingredientes da ração. Enquanto no ano passado o saco de milho era comprado por R$ 30, em 2018 chega a R$ 45. O quilo do farelo de soja saltou de R$ 1 para R$ 1,40. “Enquanto isso a caixa de ovos (30 dúzias) baixou em 15% nos últimos 12 meses”, compara Juliano. A caixa é negociada a um valor médio de R$ 90.
Por mês, as aves consomem 340 toneladas de ração.
Galinhas soltas
Ao longo da história, outros tipos de ovos foram sendo produzidos. Hoje dez mil aves estão “livres de gaiolas”, conhecidas como caipiras, chamadas de galinha feliz. Elas ficam soltas em um pasto, onde consomem uma ração enriquecida com produtos de origem vegetal.
Para os Wilgen, é um novo nicho de mercado. Apesar de exigirem mais cuidados e mão de obra, o valor da matéria-prima aumenta em até 15% comparado com o produto convencional.
Entre as vantagens do novo modelo, citam o bem-estar dos animais. “A ave de gaiola fica sem bater as asas, perde parte das penas, não cisca e nem consegue socializar com outras galinhas. As nossas estão livres, correm, comem raízes, pedriscos e botam ovos nos ninhos ou no chão mesmo. Estão no hábitat natural delas”, explica Juliano.
Mudança global
Embora a maioria dos clientes ainda não perceba a diferença e ainda resista em pagar a mais pelo ovo produzido no sistema, entende ser uma forma de se adequar às exigências de consumidores e seguir os passos de grandes empresas do ramo.
No Brasil, as maiores fabricantes de maionese, por exemplo (Unilever, Cargill, Bunge, Hemmer e Kraft Heinz), já se comprometeram a eliminar o uso de ovos de galinhas engaioladas entre 2020 e 2025. Na mesma linha, vão grandes redes de fast-food, supermercados e empresas ligadas ao setor como McDonald’s, Subway, Habib’s, Burger King, Giraffas, grupo Pão de Açúcar, JBS e BRF. “Seguimos o mesmo caminho. Voltamos no tempo e reativamos o modelo utilizado bem no início da granja”, recorda Joel.
Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), apenas 1% da produção brasileira adotou o sistema de criação livre de gaiolas.
Campanha rompe mitos
Lançado em 2013, o Programa Ovos RS tem por objetivo a melhoria contínua da qualidade na produção de ovos, o incentivo e promoção do consumo.
Conforme José Eduardo dos Santos, diretor-executivo da Asgav, nos últimos cinco anos, o consumo per capita alcançou 227 unidades por pessoa. “Conseguimos derrubar mitos como o aumento do colesterol atribuído a ingestão de ovos. Precisamos levar informação e destacar os benefícios para a saúde”, explica.
Santos destaca que o programa alcançou destaque mundial, pois atua em duas áreas que se convergem, a qualidade e o consumo. “Com a orientação e suporte aos produtores cumprimos as exigências de órgãos legisladores. Levamos ao consumidor um alimento saudável e rico em vitaminas e nutrientes”, comenta.
Outra ação é a identificação do produto com um selo de qualidade, o qual beneficia 17 granjas, das 30 associadas à entidade. Juntas são responsáveis por 95% da produção. Em 2017 foram produzidas 3,2 bilhões de unidades.
Aves substituem o tabaco
Em Sério, o casal Alceu, 35, e Francielle, 29, investiu R$ 630 mil na construção de um aviário para alojar 18 mil aves. A nova atividade será uma forma de reduzir gradativamente a área cultivada com tabaco. Neste ciclo, foram plantados 15 mil pés. “A cultura se torna inviável pela mão de obra”, sustenta Alceu.
Por dia, são produzidos 1,1 mil ovos. O preço varia de R$ 0,26 a R$ 0,30 dependendo da qualidade. Segundo o casal, a escolha pela avicultura foi motivada pelo aumento do consumo e para garantir a permanência da filha Giovana, 5, na propriedade. “Antigamente o ovo tinha a fama de fazer mal à saúde. Com pesquisas, se provou o contrário e hoje faz parte do cardápio da maioria das pessoas. Precisamos nos unir e divulgar cada vez mais os benefícios para estimular o aumento do consumo”, destaca Sauter.
Saúde e boa forma
A nutricionista Natalia Valandro explica que o ovo é um alimento rico em nutrientes como folato, riboflavina, selênio, colina e vitaminas A,D,E,K e B12, além de sais minerais. “É uma proteína de alta qualidade. Auxilia na perda de peso, ganho de massa muscular, desenvolvimento cerebral, fortalece o sistema nervoso e reduz o risco de doenças cardiovasculares”, garante.
A gema do ovo é rica em antioxidantes que reduzem os problemas de catarata e deficiência visual. Para Natalia, o consumo, em uma dieta equilibrada, não prejudica os níveis de colesterol do sangue, mas é preciso cuidado na forma de preparo. “Quando frito ou mexido, há adição de gorduras, aumentando as calorias e, dependendo do tipo de gordura, pode elevar o colesterol”, alerta.