Exemplos de sucesso, trabalho, perseverança e visão de futuro inspiraram a plateia durante a 6ª edição do Encontro Estadual de Jovens Empresários. Promovido pela CDL Lajeado, o evento reuniu mais de 800 pessoas no Teatro Univates.
A lajeadense Andrea Feine abriu o evento contando a história da empresa que leva seu nome. Ela apresentou as ações sobre gestão, inovação e as mudanças de comportamento que transformaram uma pequena loja em uma gigante do setor de cortinas.
“Nós temos paixão por vestir janelas”, declarou. De família humilde, trabalhava na loja de tecidos dos sogros quando teve a inspiração de iniciar o próprio negócio. Andrea viu uma cliente comprar um rolo de 50 metros de tecido para fazer cortinas para a própria casa.
“Ela mesmo ia costurar e instalar as cortinas. Percebi que havia um nicho de mercado”, relata. Aos 29 anos, no ano 2000, conseguiu empréstimos para abrir a primeira loja e comprar uma câmera digital com a qual tirava fotos dos ambientes onde os clientes queriam instalar as cortinas, uma inovação para época.
Entre erros e acertos, a empresa foi crescendo, sempre com propostas inovadoras para divulgação e serviço. Por dois anos, Andrea trabalhou sem receber salário. Aos poucos, os clientes foram aumentando, permitindo a abertura de filiais e da fábrica própria.
“Em 2010 vendíamos que nem loucos, tínhamos um faturamento extraordinário, mas o lucro não acompanhava”, lembra. O momento fez com que Andrea parasse para repensar o negócio. O investimento em planejamento resultou na contratação de gestores capazes de melhorar os setores onde a empreendedora tinha dificuldades.
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“Centralizar e se meter em tudo trava o crescimento. Temos que olhar o que está errado, consertar, fazer gestão e não se meter no operacional”, destaca. A partir do momento em que deixou a parte operacional, Andrea teve tempo para se conectar com o mundo e trazer para a empresa conceitos e tendências das principais companhias do mercado global.
“Fui a 24 países, onde conversei e aprendi com os melhores CEOs”, ressalta. Um dos principais ensinamentos, lembra, foi o de não pensar no produto, e sim no benefício que ele traz para as pessoas, inspiração obtida na fábrica da Mercedes Benz.
Outro ensinamento fundamental foi o de investir o tempo necessário em planejamento para depois entregar com rapidez o que foi determinado. Segundo ela, muitas vezes, as pessoas e empresas passam muito tempo executando sem planejamento e com isso nunca concluem os projetos.
Andrea destacou ainda a valorização dos funcionários, a aproximação da fábrica e das lojas e a preocupação com a sustentabilidade de todas as operações como motivos pelos quais a empresa se tornou, hoje, uma marca reconhecida internacionalmente.
Dedicação familiar
A história de empreendedorismo da Lisaruth Delícias Caseiras, de Santa Cruz do Sul, foi contada pelo empresário Mathias Bertram. Hoje um dos principais empreendimentos das margens da ERS-287, o negócio começou com a venda de massa, cucas e pães caseiros para vizinhos da família e foi crescendo até se tornar uma empresa de 1,3 mil metros quadrados e 320 produtos no portfólio.
“A família é grande e minha mãe fazia. Minha irmã também fazia bolos desde bem nova. Os vizinhos começaram a pedir até que decidimos iniciar o negócio”, lembra. Com poucos recursos e a ajuda de um pedreiro amigo da família, a obra da primeira loja foi iniciada em 1996. Dois anos depois, o espaço de 48 metros quadrados foi inaugurado.
“Apareceram os clientes e o carro da família virou um carro de entrega”, lembra. A clientela foi aumentando, os produtos se diversificando e foi necessário expandir a área física. Em 2007, a empresa inaugurou novo espaço com quase 200 metros quadrados de atendimento além da área de produção.
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“A demanda foi aumentando junto com a loja e em 2011 não cabia mais todo mundo. No ano seguinte, começamos a construir o prédio onde estamos hoje”, lembra. O espaço inaugurado em 2014 tem dois andares e 1,3 mil metros quadrados, sendo 500 metros quadrados de loja.
Para Bertram, o sucesso da Lisaruth demonstra a importância da ERS-287 e é resultado de uma mistura entre dedicação, sorte e união familiar em torno de um objetivo. “Tratamos todos os clientes e funcionários como se fossem da família.”
Segundo ele, a confiança do consumidor foi obtida graças à qualidade do produto e à conexão com os anseios dos clientes e tendência do mercado. Lembra que as receitas continuam caseiras, sem uso de conservantes, e destaca a incorporação de produtos diets, lights, sem lactose, integrais e orgânicos.
Valor da reputação
Criador do site Reclame Aqui, Maurício Vargas falou sobre as tendências para o futuro dos negócios a partir das mudanças no comportamento do consumidor para explicar o sucesso da plataforma, e contou a trajetória de fracassos pessoais antes de alcançar o sucesso.
“Era considerado uma pessoa medíocre, pois fiz cinco faculdades, não terminei nenhuma e ainda quebrei três vezes”, lembra. A primeira experiência como empreendedor foi vendendo picolés para os amigos nos campos de futebol de Campo Grande (MT).
“Vendi fiado para todo mundo e recebi só a metade. Adiantei toda minha mesada de dois anos para comprar o carrinho, quebrei e nunca consegui vender esse carrinho”, lembra. No início dos anos 1980, Vargas abriu uma locadora de livros, mas percebeu que pessoas não devolviam. Começou a comercializar produtos de papelaria, até que tentou vender para os governos.
“Não recebi e acabei entregando a livraria para os funcionários como forma de pagamento”, aponta. Em 1995 o palestrante montou uma empresa de tecnologia e começou a fazer projetos de sites para internet. O negócio ia bem, mas novamente as vendas para o governo tornaram a situação difícil e resultaram na falência da empresa.
Em 1999, o empresário estava sem dinheiro e havia marcado uma reunião em São Paulo com a perspectiva de recomeçar. Após fazer um esforço para comprar uma passagem de avião, perdeu o voo devido a um overbook. O episódio serviu como inspiração para o Reclame Aqui.
“Fui para casa e mandei e-mail para os meus amigos, contando toda a história e dizendo que criaria o site”, relata. No quartinho de empregada da casa da família, ele montou a empresa e começou a desenhar a página, lançada em 2001. “Tivemos 23 reclamações em todo o ano e 99% era da minha família.”
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Hoje, a plataforma recebe em média 45 mil reclamações por dia, tem mais de 15 milhões de usuários cadastrados e 18 milhões de visitas únicas por mês. “Não somos um site de reclamações, pois 95% dos acessos são pessoas querendo saber a reputação de vocês empresários.”
Para ele, ao contrário de ser um problema, o Reclame Aqui se tornou a solução das empresas, uma vez que reúne 9,5 milhões de pessoas que estão formando a opinião sobre as marcas. Por isso, ressalta a importância de sempre responder e ouvir o que os clientes têm a dizer sobre a empresa, independente do canal de comunicação utilizado.
“A disruptura digital já começou e todo mundo precisa entender isso”, destaca. Para se adaptar aos novos tempos, lembra que não existe mágica, e sim uma mudança de cultura focada em pessoas, gestão e processos.
Por fim, destacou a importância da honestidade, citando o projeto detector de corrupção, lançado pelo Reclame Aqui que aponta os processos judiciais dos candidatos. Para ele, no futuro, o sucesso não será medido pela quantidade de recursos que a pessoa tem, e o dinheiro terá a sua reputação de acordo com o caráter e o modo como foi ganho.