Após o morte do marido, há um ano, vítima de câncer, Helena Lenhardt, 56, de Picada Santa Clara, Santa Clara do Sul, decidiu adotar uma nova filosofia de vida, com foco na saúde e harmonia com a natureza. “Meu marido trabalhou muito com agrotóxicos no plantio de tabaco desde a infância e isso pode ter colaborado para ele contrair a doença”, conta.
Ao lado do filho Dimas Rafael, 12, aposta na produção de hortigranjeiros como beterraba, couve, temperos, alface, chás e frutas como laranjas e bergamotas, tudo sem agrotóxicos. “Usamos produtos naturais para fazer o controle de pragas e doenças. Cuidar da nossa saúde e de quem consome esses produtos é nossa principal motivação”, afirma.
Helena planeja um futuro melhor para o filho no campo. “Eu trabalhei por décadas em fábrica de calçados. Depois cultivamos fumo e produzimos leite. Era muito veneno. Meu filho terá uma vida diferente. Uma opção de renda que alia bem-estar e saúde. Vai depender dele ficar, mas eu gostaria”, adianta.
Boa parte da produção é vendida em uma feira em Lajeado. No entanto, a partir deste sábado, ela e mais 16 famílias, todas integrantes do programa Santa Clara Mais Saudável, desenvolvido pela administração municipal desde junho de 2017, terão mais uma opção de venda dos produtos,
A Feira de Agricultores Agroecologistas será montada ao lado do ginásio de esportes, no centro, Oferecerá alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, cultivados por produtores do município em transição ao modelo orgânico. O lançamento ocorre a partir das 9h. “A conversa com o cliente será a oportunidade de criar credibilidade e ajudar as pessoas a ter mais saúde no prato”, acredita.
O secretário de Infraestrutura, Edson Mallmann, concorda. Entende ser uma chance singular de as pessoas comprarem produtos frescos, sem veneno. “Ajuda a difundir a cultura orgânica”, entende.
Educação alimentar
Segundo o prefeito Paulo Kohlrausch, o programa de agroecologia visa formar uma cultura de consumo e produção de alimentos saudáveis no município. “Com produtos orgânicos, sem venenos, o governo municipal promoverá saúde e qualidade de vida à população”, ressalta.
Outro propósito é estimular a educação alimentar, fazendo com que as pessoas sejam mais exigentes ao comprar alimentos. E o terceiro eixo é a sustentabilidade, tanto ambiental quanto econômica. “Será uma opção dos jovens ficar no campo, pois vamos oferecer subsídios a quem produzir”, comenta.
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Hoje 50% da merenda consumida na rede municipal de ensino já tem origem orgânica. Também é feito o trabalho de certificação nas propriedades dos agricultores participantes do programa para que recebam o selo de produção agroecológica, por meio do sistema participativo. E, após esse processo, serão credenciados legalmente como produtores de orgânicos.
Viver em equilíbrio
Empregado em uma fábrica de calçados por mais de uma década, Marcelo Eckhardt, 40, de Nova Santa Cruz, decidiu mudar o sistema de produção implantado na propriedade após o Executivo apresentar o projeto de orgânicos.
O objetivo é melhorar a qualidade de vida da família. “Pensei em meus filhos. Não queria que eles ingerissem frutas e verduras contaminadas com veneno. Ao nos tornamos pais, ficamos mais responsáveis e a saúde deles está em primeiro lugar”, argumenta.
Na propriedade, há duas estufas com mais de oito mil mudas de morango. Na safra passada, colheu 1,6 mil quilos. Aos poucos, outras variedades incrementam a oferta: abacaxi, banana, mamão e melancia.
Segundo ele, o modelo agroecológico só é possível quando o agricultor muda a relação com a terra e dá aquilo que ela precisa. “O adubo é preparado com esterco de animais e serragem. Caldas naturais controlam os insetos. É preciso ter paciência e saber respeitar os ciclos da natureza”, aponta.
Embora a aparência às vezes esteja prejudicada, quando comparado aos convencionais, Eckhardt diz que a diferença está no sabor e no benefício ao organismo. “O importante é que serão saudáveis, produzidas em harmonia com a natureza”, comenta.
Quanto à feira, entende ser um importante canal para conquistar novos clientes, aumentar a produção e conscientizar as pessoas da importância de uma alimentação a base de produtos cultivados sem veneno.
Fique atento
• O quê – Feira de Agricultores Agroecologistas
• Onde – Ao lado do Ginásio de Esportes, no centro
• Horário – Das 9h às 13h
• Quando – Sábados
Entrevista
“Vai muito além de não utilizar agrotóxicos”
A coordenadora do programa Santa Clara Mais Saudável destaca a importância do projeto e os benefícios do consumo.
O que torna um alimento agroecológico?
Daiana Bald – A produção de alimentos agroecológicos vai muito além daqueles produzidos sem a utilização de agrotóxicos e outros produtos químicos. É um sistema de produção sustentável, em que os alimentos são cultivados em um ambiente que considere sustentabilidade social, econômica e ambiental. São alimentos mais saudáveis, saborosos e nutritivos se comparados aos convencionais.
Por que as pessoas buscam alimentos cada vez mais saudáveis?
Daiana – As pessoas estão constantemente em busca de uma melhor qualidade de vida. O consumo de alimentos mais saudáveis, isentos de contaminantes, contribui para essa melhora da qualidade. Um dos objetivos do programa Santa Clara Mais Saudável quer justamente que as pessoas sejam mais exigentes na hora de comprarem seus alimentos. Precisam saber de que forma eles foram produzidos e quem os produziu.
Qual a importância da feira?
Daiana – Será um local onde os consumidores poderão adquirir os produtos direto dos agricultores, tendo acesso a alimentos saudáveis e de qualidade, oriundos de uma produção mais sustentável, produzidos por agricultores em processo de transição para a agroecologia. Mais do que um local de comercialização, queremos que a feira seja um ponto de encontro, onde as pessoas se sintam bem por estar ali.
Como incrementar a produção, as vendas e o consumo?
Daiana – Com iniciativas para fomentar a produção e o consumo de alimentos orgânicos. Nosso programa é um exemplo. Através de uma política pública, o município apoia e dá o suporte necessário para os agricultores que tiverem interesse em produzir alimentos saudáveis. Como forma de incentivar o consumo, estamos disponibilizando esses alimentos na alimentação escolar dos nossos alunos. Ainda, outra forma de incentivar o consumo é proporcionar que as pessoas tenham acesso a esses alimentos, como é o caso das feiras por exemplo.
Considerações finais
Daiana – Queremos que as pessoas sejam exigentes na hora de comprarem seus alimentos, que conheçam esses produtos agroecológicos, a forma como foram produzidos e quem os produziu.