Com o objetivo de tornar a cultura rentável e valorizar o grão produzido nos vales do Taquari e Rio Pardo, a Arla Cooperativa de Lajeado colocou em prática neste ciclo o projeto de segregação do cereal comprado dos associados.
Responsável pelo acompanhamento técnico direto nas lavouras, o engenheiro agrônomo Elomar Francisco da Silveira destaca a importância de fazer a separação conforme as características e usos na indústria. “É uma forma de incentivar o plantio, agregar valor e elevar os lucros do agricultor. Claro, a qualidade do trigo vai depender do clima e do investimento feito na lavoura”, afirma.
Nesta safra, a cooperativa assiste 113 produtores, cuja área cultivada alcança em torno de mil hectares. As cultivares plantadas são: celebra, sintonia, inova,sinuelo, toruk e sossego, todas apropriadas para panificação. “Definimos variedades com maior aceitação pelos moinhos e as mais produtivas da nossa região. Acompanhamos desde a semeadura ao recebimento”, frisa.
A cooperativa segregará o cereal em três silos, de acordo com a variedade e PH. No último ciclo, foram recebidas 4,8 mil toneladas de trigo. O preço médio da saca chegou a R$ 28.
Para Silveira, é preciso investir em tecnologia para garantir boa lucratividade. “Escolher sementes de qualidade, adubar conforme análise e aplicar corretamente ureia, herbicidas, inseticidas e fungicidas. De plantador, temos que passar a ser produtores de trigo”, entende.
Conforme o presidente Orlando Stein, o cereal é um produto nobre na alimentação, no entanto, nos últimos anos, a área cultivada perde espaço devido vários fatores: preço baixo, qualidade inferior e dificuldades na hora de comercializar. “Com variedades selecionadas, orientação técnica e novas tecnologias, é possível tornar a cultura lucrativa”, afirma.
Queda contida
Enquanto a área de trigo encolhe no Rs, com a previsão histórica inferior a 700 mil hectares cultivados, Erson Bünecker, de Boa Esperança Baixa, Cruzeiro do Sul, decidiu manter os 45 hectares semeados nos últimos ciclos.
A promessa de retorno a ser trazida pela segmentação é uma das justificativas. “Em anos anteriores, tudo era misturado, mesmo quando o PH era mais elevado. Por isso, muitas vezes, o grão era destinado para ração e por consequência o preço era menor”, acredita.
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Este ano foram cultivadas apenas duas variedades, voltadas para a indústria de panificação. Conforme Bünecker, existe a expectativa de um melhor retorno financeiro com a segregação. “É uma iniciativa muito boa. Além da venda garantida, atendemos a demanda da indústria”, opina.
A maior liquidez e o preço superior do trigo não são as únicas vantagens. A produção de palha ajuda na retenção de água no solo, auxilia no controle de ervas daninhas, evita a erosão e favorece no aumento no rendimento da soja, plantada na resteva do cereal.
Bünecker diz que não desânimo em relação ao trigo. “Só dependemos do tempo, o resto conseguimos controlar”, finaliza.
“O ideal seria segregar 100%”
De acordo com dados do Sindicato da Indústria do Trigo no Rio Grande do Sul (Sinditrigo), foram industrializados cerca de 1,7 milhão de toneladas de trigo em 2017, da quais cerca de 70% são produzidas no estado.
Para Diniz Furlan, presidente da Sinditrigo, o ideal seria segregar 100% da produção, pois existem trigos diferentes para fabricação de pães, massas e biscoitos. “Na Argentina a distinção de variedades é comum. É um caminho necessário, pois, além de valorizar o cereal, atende às demandas da indústria”, destaca.
Há dois anos, apenas 15% do cereal era separado. Hoje chega a 50%. A segregação garante um preço até 12% acima do mercado.
Instabilidade meteorológica
Andreas Elter, sócio-diretor de um moinho instalado em Taquari, destaca o clima como fator negativo para conseguir produzir o grão dentro do padrão de qualidade exigido.
Por mês, são processadas até oito toneladas. Para ele, o estado tem um ótimo potencial genético embarcado, porém, as condições meteorológicas variam muito. Para equilibrar a qualidade, a empresa recorre ao cereal do exterior. “O trigo precisa de frio no ciclo vegetativo para ter sanidade e alcançar boa produtividade. Dispomos de genética, área, conhecimento e tecnologia para produzir, mas somos dependente do clima”, analisa.