Em um mundo marcado pelo avanço tecnológico e a consequente mudança no comportamento dos indivíduos, as empresas que não se adaptarem às novas realidades estão fadadas a desaparecer. O alerta é do CEO do Administrar é Preciso, Maurício Schneider, durante a palestra de abertura da 18ª Convenção CDL Lajeado.
Consolidada como um dos principais eventos de qualificação empresarial do RS, a Convenção deste ano teve como foco tema o “Poder do Consumidor”, evidenciado na apresentação de Schneider. Para ele, as empresas precisam de um choque de inovação para sobreviver e crescer em um mercado cada vez mais exigente, mas repleto de oportunidades.
“É preciso fazer diferente e parar de tratar os negócios como commodities, oferecendo experiências que conquistem o consumidor”, aponta. Conforme Schneider, esse conceito pode ser aplicado em todos os setores da economia, mas dá trabalho e exige atitudes diferentes das triviais.
Cita como exemplo o trabalho da empresa Azul no setor de transportes aéreos, extremamente commoditizado e teoricamente com pouca margem para inovação. A empresa criou nas aeronaves o Espaço Azul, onde oferece mais conforto nas poltronas, embarque prioritário e compartimento de bagagem exclusivo por um valor relativamente baixo na comparação com o total da passagem.
A empresa também pintou a parte externa dos aviões de forma a reforçar a imagem da marca. “São movimentos que exigem investimento e dão trabalho, mas com resultados expressivos em um mercado onde todas as empresas são muito parecidas.”
O palestrante falou ainda sobre os conceitos da Indústria 4.0 e a necessidade das marcas se adaptarem às tendências da realidade virtual, impressão 3D, conectividade e internet das coisas. Para Schneider, os empresários precisam parar de fazer o mais fácil, sem perder a simplicidade.
Sucesso de público
Cerca de mil pessoas participaram do evento realizado na sede do Clube Tiro e Caça. Além de Maurício Schneider, o evento teve como palestrantes a Psicóloga e Coach Fernanda Tochetto, o jornalista e cientista político Gerson Camarotti e o poeta e escritor da literatura de Cordel, Bráulio Bessa.
Fernanda apresentou as cinco atitudes que os líderes podem despertar nas equipes para melhorar o desempenho. Camarotti apresentou a frágil conjuntura política e econômica do país em um ano de eleições presidenciais e Bessa mostrou como a cultura e o empreendedorismo podem caminhar juntos, e como a tecnologia pode beneficiar esse movimento.
Entrevista
“O grande desafio é estar disposto a mudar.”
– O que é preciso compreender neste momento de mudanças tecnológicas e do comportamento do consumidor?
Maurício Schneider – Estamos em um momento em que muitas coisas que deram certo no passado não dão mais certo e o inverso também é verdadeiro. Muitas vezes percebo alguma coisa do passado e digo que não funcionou. Mas será que existia a tecnologia certa? Um exemplo é o telemarketing. Dizem que as pessoas estão cansadas, mas hoje temos ferramentas de pré-venda, com matrizes e diferentes aderências que se tornam extremamente s eficientes. A primeira coisa é compreender onde ele está. Muitas vezes o empreendedor não sabe em que canal está e qual cliente ele quer. Tem muita empresa que deu certo até o momento, percebe que o mercado mudou, mas pensa que é só uma onda. Nas cidades, se você passar na rua mais tradicional no comércio, percebe que poucas empresas tem mais de 20 anos. Quais empresas estavam lá 30 anos atrás e quais ainda estão? Elas não se adaptaram.
– Onde os empreendedores pecam?
Schneider – Não é o cliente que escolhe a empresa. A empresa escolhe o cliente de acordo como ela se posicionar. Pelo preço, pelo ponto, pela maneira como se comunica, qualidade do produto ou a experiência que oferece, entre outras coisas. Diante disso, ele se desespera e começa a dar tiros para todos os lados. Como ele não tem estratégia, gasta mais e tem menos efetividade. Não se posiciona para público nenhum e não tem resultado. Quem fala para todo mundo não fala para ninguém e é isso que acontece com nosso empreendedor. A maior taxa de mortalidade de empresas no mundo é brasileira, e o Brasil tem a maior taxa de empreendedorismo do mundo. Empreendemos muito, mas sem qualidade. Não é uma questão tecnológica. Passa por se aproveitar da tecnologia, mas é uma questão comportamental.
– Como desvendar esse momento do mercado?
Schneider – Não acredito em uma solução única, e sim em multiplataformas, com vários setores e diversas pessoas. Não é porque os gestores da Ambev fazem de um jeito que devo aplicar essa fórmula na minha empresa. Funciona no negócio deles, mas qual a cultura da minha cidade, do colaborador e da minha empresa? Eu posso pegar coisas boas, mas cada empresa é diferente, não posso posso passar a régua e aplicar uma fórmula pronta. Preciso testar ferramentas até encontrar o que funciona. O grande desafio é estar disposto a mudar.
– O que é a descomoditização?
Schneider – Hoje não existe nada fora do acesso de uma pessoa ou uma empresa. Se eu quiser vender sapatos, eu tenho acesso a todos os sapatos existentes no mercado em menor ou maior preço. Como me diferencio? Quatro anos atrás fui em uma loja em Maringá com um amigo que queria comprar um sapato. A primeira coisa que me ofereceram foi um cafézinho, o que já é normal, todo mundo oferece. Depois a menina me ofereceu uma hidratação no couro do meu sapato, por cortesia da casa. Eu aceitei, pois estava ali parado esperando meu amigo. Quando tirou meu sapato, colocou uma bandeja vibratória de massagem sob os meus pés. Olha a experiência que eu tive. É um lugar onde eu compro, recompro e indico. Dependendo do perfil do cliente, ele nem vai pensar no preço dos produtos, ainda mais quando a diferença é pequena. Descomoditizar é chocar o consumidor, é mudar de uma maneira positiva, entregando a mesma coisa de uma forma diferente. Qualquer segmento pode ser descomoditizado.