Faroeste gaudério e a poção mágica

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Faroeste gaudério e a poção mágica

Por

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“Não há arrependimento – ou sentença – que faça bala arrepender-se e retornar para o tambor do revólver.”
De O Sujeito da Frase, livro que escrevi e ainda não publiquei

Pouco tempo atrás, visitar o Interior significava imergir na paz ausente das metrópoles. Maravilhosos dias com mais horas ritmadas por relógios sem pressa.
As pequenas cidades ostentavam a tranquilidade como um bem comum  parte da paisagem e refreavam a inquietude acumulada pela correria da cidade grande. Balbúrdia? Havia sim, na correria natural das crianças. Tanta calma misturou conceitos. Essa qualidade de vida virou “atraso” e  o lufa-lufa dos grandes centros tornou-se símbolo de “progresso”.
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FAROESTE. Sem progresso e irrelevantes economicamente, as pequenas cidades perderam serviços essenciais para o funcionamento equilibrado de suas comunidades. Assim, o patrimônio social construído com labor e perseverança definhou – segurança, saúde e educação regrediram à estagnação. Aos farrapos e desorganizado como nunca, o Rio Grande permaneceu estático ante a decadência. Fraquejou e abriu espaço para o surgimento do empreendedorismo criminoso. Grupelhos experimentaram ações como quadrilhas e evoluíram para facções. Administradas com princípios gerenciais primários,  estabeleceram-se como redes de serviços – venda de drogas,  contrabando de cigarros e armas. Com a organização conquistada,  agora, afrontam a sociedade com o desejo explicito de ser o Estado. Encontraram uma fonte de recursos fartos e de poucos riscos nas agência bancárias dos municípios desprotegidos. Na lista crescente, Anta Gorda, Arroio do Meio, Arvorezinha, Bom Retiro, Cruzeiro do Sul, Santa Clara, Paverama, Progresso, Putinga, Tabaí, Taquari, Teutônia revivem Tabernas* de um novo faroeste: gaudério, real e violento.
RESISTIR. A atrapalhada Operação Carne Fraca da PF em Arroio do Meio, leva este escrevinhador a provocar o setor da alimentação. Não há espaço para a região como produtora de commodities. Fumo, soja e proteína animal bruta não geram referências. Por isso, a intelligentsia local precisa construir a marca “Vale dos Alimentos”. Tem de investir na própria história, criar um ambiente introdutório ao “terroir” e inovar. Construir conceitos para resistir à força avassaladora dos empreendimentos globais.
ASTERIX. Os franceses nunca engoliram a expansão das legiões romanas. Orgulhosos recriaram a Galia na ficção bem-humorada de Asterix. Nas bandas desenhadas de Albert Urdezo e René Goscinny, o druida Panoramix cozinha uma poção no caldeirão mágico. O caldo dá uma força sobre-humana e uma resistência formidável aos gauleses. Seguram César, pelo menos na imaginação.
Cercado por ameaças poderosas, o Vale do Taquari – como a Gália de Asterix – precisa de imaginação para extrair o melhor de seu caldo cultural.
*Deserto de Tabernas, Almeria, Espanha.
Locação preferida dos western spaguetti produzidos nos anos 1960/70

“Estradas e florestas estavam infestadas de ladrões. Por essas regiões os bárbaros marchavam…”
Uma História do Mundo, livro de H. G. Wells, trecho sobre a queda romana

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