Para aproximar a população urbana da produção de alimentos livres de agrotóxicos, a 1ª Feira Regional de Agricultores Familiares Agroecologistas foi inaugurada neste mês.
As vendas ocorrem na primeira e terceira quinta-feira do mês, das 17h às 20h, nos prédios 3 e 7 da Univates, em Lajeado. São ofertados produtos como alface, morango, pepino, agrião, alho-poró, rúcula, espinafre e couve-flor, além de temperos e chás. Os alimentos são produzidos por grupos como o de Agricultores Ecologistas da Forqueta, da Organização de Controle Social (OCS) Defensores da Natureza, da OCS Orgânicos do Vale e do Grupo Ecológico Mãos da Terra.
Com mais um canal de vendas para os produtos e com a população mais consciente da importância de consumir alimentos mais saudáveis, Leandro Lange, de Lajeado, pretende ampliar a oferta.
Faz três anos e meio que o músico e técnico em Prótese Dentária investe na produção de hortaliças ecológicas. Em um hectare, cultiva alface, couve-flor, brócolis, berinjela, beterraba, entre outros. “Muitos frequentavam locais fora da cidade. Isso demonstra a importância e a preocupação que muitas pessoas têm quanto ao consumo consciente. Muitas doenças são originadas pela má alimentação”, opina.
Lange espera incrementar os lucros e aumentar o número de clientes. “Precisamos oferecer cada vez mais oportunidades de as pessoas terem acesso a esse tipo de alimentos. Conseguimos explicar aos consumidores as diferenças entre o cultivo orgânico, ecológico, hidropônico e convencional”, comenta. Integrante da OCS Orgânicos do Vale, o agricultor acredita que a feira tenha potencial para se tornar semanal. “Quem sabe não seja algo para se projetar para o próximo ano”, completa.
Outra vantagem é a venda direta, sem intermediários. “Além de o cliente poder comprar um produto saudável, ganhamos um valor justo”, finaliza.
De acordo com o chefe do escritório da Emater de Arroio do Meio, André Müller, a rede de entidades surgiu a partir da constatação sobre a necessidade de organizar melhor a comercialização desses produtos. “Sentimos falta de um reconhecimento maior do esforço do agricultor em trabalhar com os orgânicos” afirma.
Segundo ele, os produtores precisam de muito conhecimento, tecnologia e empenho para controlar pragas e doenças de forma adequada e impedir a contaminação. Conforme Müller, além de ser mais saudável para os consumidores, a produção orgânica ainda traz benefícios ecológicos. Sem a utilização de insumos químicos como adubos e agrotóxicos, alega, protege o solo e a água da contaminação com esses produtos.
Consumidor aprova
O casal Adriano Schwingel e Anemari Menhard, de Lajeado, comemora a disponibilidade de um novo espaço para a compra de alimentos agroecológicos. “Somos consumidores faz muito tempo, Às vezes buscávamos em outros lugares essas alternativas”, diz Anemari.
Para Schwingel, é muito bom ter a oferta de produtos sem venenos e saudáveis mais perto de casa. Lamenta a falta de uma oferta maior de orgânicos no mercado.
Márcia Ferrari, do grupo de Agricultores Ecologistas da Forqueta, de Arroio do Meio, valoriza a iniciativa, que permite aos produtores um canal a mais de comercialização. “É algo que nos motiva a produzir um pouco a mais, já que temos essa demanda garantida”, comenta.
Pesquisa aponta preferência
Para saber o perfil e as preferências do consumidor de produtos orgânicos no RS, seis universidades uniram forças para realizar uma pesquisa que ouviu 2.732 pessoas em 80 municípios. Um dos dados revelados é de que mais de 40% dos gaúchos passaram a incluir esse itens nas compras. E mais de 75% afirmam que são compradores frequentes.
Conforme Marlon Dalmoro, professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis da Univates, uma das constatações é a de que vegetais, hortaliças e frutas são os produtos mais comprados. “Isso se deve ao fato desses itens serem de mais fácil acesso e de o consumidor enxergar neles o típico produto orgânico”, complementa.
Além de Univates e Unisinos, participaram do levantamento a Universidade Federal do Pampa, Universidade de Santa Cruz do Sul, Universidade de Cruz Alta e Faculdade Anglicana de Tapejara.
Um dos coordenadores da feira, Dalmoro diz que os produtos agroecológicos ainda encontram barreiras para chegar aos consumidores nos canais de venda tradicionais.
Segundo ele, a universidade pode contribuir com os produtores dispondo de espaço físico, profissionais com conhecimento sobre agroecologia, além de alunos e funcionários conscientes dos benefícios à saúde e ao ambiente.
Alimento seguro e sustentável
De acordo com o assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar, extensionista Lauro Bernardi, a feira é um ponto diferenciado de comercialização, fruto de um debate entre diversas parcerias, que buscam acolher a forte sinalização dos consumidores que, atentos a esse significado, percebem no alimento seguro o resguardo da saúde familiar.
Bernardi explica ainda que a garantia da qualidade e da origem dos produtos ofertados será atestada pelo Mapa, de acordo com a legislação vigente. Somente poderão comercializar nesse espaço os agricultores orgânicos ou em fase de conversão.
Para o extensionista, o sucesso da iniciativa, capaz de constituir-se como referência na promoção da soberania e da segurança alimentar e nutricional, passa também pelos consumidores, uma vez que comprar constitui-se em um ato político que permite escolha e remuneração de acordo com escalas diferenciadas de valores. “Podemos optar por produtos convencionais que vêm não se sabe de onde, ou por aqueles produzidos tomando por base os preceitos da vida, da ética de quem os cultiva e consome e ainda mediados por adequado controle social”, pondera.
Participe
Agricultores e entidades que apoiam a modalidade se reúnem no dia 26, em Imigrante, para o 5º encontro Regional de Agroecologia do Vale do Taquari. O evento ocorre a partir das 8h30min, no Piquete Raça Campeira.
Serão abordados temas como produção pecuária orgânica, agricultura ecológica em escala, controle de pragas e doenças, agricultura biodinâmica, mineralização de sistemas e homeopatia. Também haverá relatos de produtores.