A corrupção corrói, contamina e mata. Delenda est

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

A corrupção corrói, contamina e mata. Delenda est

Por

“Político, quando se elege, assume dois compromissos: um com ele e outro com o povo. O primeiro ele cumpre.”
De Folclore Político 2, livro de Sebastião Nery
A corrupção é uma moléstia pérfida com o poder de aprisionar a república ao passado colonial. Seus vetores, sob o brilho das luzes, assemelham-se às pessoas de bem. Na penumbra do anonimato, revelam-se parasitas disseminadores desse mal. Alimentam-se das riquezas do país, enquanto as contaminam.
TREMOR. Autoridades em ternos bem cortados, sapatos italianos nos pés e Rolex no pulso vivem tempos de inquietude ante a determinação de policiais federais, promotores e juízes de primeira instância. Agora, a força-tarefa chegou às transações tenebrosas da olimpíada recente e abateu Carlos Arthur Nuzman, presidente da COB e do Comitê Organizador da Rio-16. O dirigente foi preso pela suspeita de comprar votos de membros do Comitê Olímpico Internacional responsável por escolher a sede do evento. Nuzman já chamara atenção por emular Gilberto Gil – “O melhor lugar do mundo é aqui…” – no discurso de abertura dos jogos e pelo tremor das mãos. Findo o glamour, melhor lugar e tremedeira ganham novos sentidos.
GENTE FINA. A prisão tem o efeito colateral de desnudar os dignitários encarcerados. Nesta semana, O Estadão revelou o fenômeno na altercação entre estes anjos caídos do “Poder”: Lúcio Funaro, Geddel Vieira e Roberto Saud – o doleiro, o político e o executivo. Separados por muros da Papuda, os três digladiaram-se durante o banho de sol. Funaro, aos berros, atacou:
– Saud, vou te matar!
Fino e criativo, Geddel disparou:
– Saud, também vou te matar!
O homem da JBS respondeu a Geddel e excedeu-se em elegância:
– Cala boca, seu gordo!
Além de curioso, o animado barraco introduziu o tempo de insultos nos ambientes da Papuda. O inusitado fez-me lembrar a reação de Juan Carlos I, rei da Espanha, à verborrogia de Hugo Chaves, presidente da Venezuela, na XVII Conferência Íbero-Americana: “Por que no te callas?”
Não! Corruptos morrem pela boca.
JOGO SUJO. Enquanto José Maria Marín, ex-presidente da CBF. continua preso em Nova York, o atual, Marco Polo de Nero, não vai além da ponte aérea Rio-São Paulo. É o avesso do explorador veneziano cujo nome o ficou para a história. Acossado pelo longo braço das leis norte-americanas não sai do Brasil nem que a vaca tussa. Teme a eficiência do FBI, lançou âncora e criou raízes – centroavante aipim em “futebolês”. A descoberta do esquemão na FIFA revelou ao mundo um Marco Polo imóvel.
CATÃO, O VELHO. O juiz Sergio Moro disse que o trabalho da Lava-Jato está no fim. Mesmo que haja muito mais a esclarecer, ganha vigor a reação de corruptos e corruptores. A manifestação de Moro encerra um desabafo corroborado por estes números: o tribunal de Curitiba proferiu 118 condenações. O Supremo Tribunal Federal não condenou ninguém. Repito: ninguém. Para o STF, corrupção é ficção. E fim!
INDIGNAÇÃO. Durante a ll Guerra Púnica, o senador romano Catão, o Velho, terminava todo os seus discursos com o imperativo *“Delenda est Carthago”. A cidade cartaginesa caiu ao fim do terceira guerra e os romanos predominaram sobre o Mediterrâneo. Aqui, o consórcio criminoso sobreviverá à Lava-Jato. Mesmo assim, as prisões exemplares e a certeza de vivermos sob o império do crime são lições a serem assimiladas. Como ensinou o Velho, os malfeitos que nos afligem têm de ser expostos pela poder das palavras. Repetir “Corrupção corrói”, “Corrupção contamina” e “Corrupção mata” é nosso “delenda est”.
*Cartago tem que ser destruída

“Sai do lixo a nobreza
Euforia que consome
Se ficar o rato pega
Se cair urubu come.”
Trecho de Ratos e urubus, larguem minha fantasia, samba-enredo da Beija-Flor em 1989

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