“O corruptocrata não se entrega, jamais. Vende-se, sempre.”
De O Sujeito da Frase, livro que ainda não publiquei
Uma imagem vale mais que 1.000 palavras, ensinou Canfúncio 2.500 anos atrás. A máxima, somada a esta de pouco mais de dois mil anos: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”, deveria ser um mandamento para os homens públicos. Todo gângster sabia disso e procurava manter um comportamento social próximo ao que imaginava ser o dos probos. Cínico, mas atento à opinião pública. Já nossos políticos…
MAL NA FOTO. A foto da posse da procuradora-geral Raquel Dodge é lastimável. Michel Temer no centro, ladeado pelo procuradora e por Carmem Lúcia, presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Os três são flanqueados por Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Eunício Dias, presidente do Senado. Ninguém sorri com a troica masculina enrolada com a lei. Um registro para a história no qual os principais homens públicos da República – denunciados e sob suspeição – dividem espaço com uma Justiça constrangida.
DEBOCHE. Geddel Vieira Lima é eclético – administrador, pecuarista, produtor de cacau, ministro de Lula e Temer. Mestre em maracutaias, seria um satélite na constelação de figuras que gravitam em torno da coisa pública brasileira. Foi além. É um campeão com a descoberta de seus R$ 51 milhões jogados relapsamente em um apartamento. A imagem das malas é um deboche indescritível com brasileiros e brasileiras. Ah, integrante de uma dessas marchas contra a corrupção, está preso por corrupção – redundante, mas verdadeiro
TRÈS CHIC. O juiz Marcelo Bretas enquadrou o ex-governador Sérgio Cabral com uma pena de 45 anos de prisão. Cabral, é aquele flagrado em um restaurante “très chic” de Paris, dançando com guardanapos na cabeça. Na época, comemorava bons negócios ilícitos com Fernando Cavendish, dono da Delta Engenharia. O jantar saiu caro para os cariocas e gerou aquela imagem deplorável para um Rio de Janeiro de folclore tragicamente criminoso.
MARIANA. Dia 5 de novembro de 2015, rompeu-se a barragem da Samarco e o barro contaminado desfigurou Mariana. Morreram pessoas, o rio Doce quase foi arrasado e a desgraça chegou ao mar. A condescendência com um grande pagador de impostos havia atenuado o rigor da fiscalização a ponto de não conter uma tragédia anunciada. Os instantâneos captados pelos fotógrafos correram mundo e a consternação foi geral. Agora, a indignação acompanhou o correr do rio – e se foi. Todos, com exceção daqueles do lugar, esqueceram-se da lama em Mariana.
MOEDA. Os quatro tópicos anteriores são metáforas de uma moeda com um lado no passado e outro no presente. O ontem quer perpetuar a manipulação obscurantista. O hoje debate-se para sair do pântano criado pelo poder da impunidade. Encarando dessa forma, talvez, possamos explicar tantos flagrantes de malfeitos e convencer nossos filhos que essas imagens precisam ficar no passado.
PIRRO. A Urcamp, primeira universidade de Bagé, é a penúltima colocada entre 195 instituições cotejadas pelo Ranking Universitário Folha – Ruf. Deveria ser o dínamo regional, mas é uma das causas da marcha à ré de minha cidade natal. A Univates, universidade recente, não foi avaliada. O primeiro lugar ficou a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ –, penalizada pela União com o mais rigoroso corte de verbas em todos os tempos. Ou seja, lutou para conquistar uma legítima vitória de Pirro. Lamentável.
“Político é o indivíduo que pensa uma coisa, diz outra e faz o contrário.”
José Cavalcanti, do livro Folclore Político 2, de Sebastião Nery
