Cerca de sete mil pessoas participaram entre os dias 12 e 14 de julho da 5ª edição da Feira Brasileira do Varejo (FBV). Promovido pelo Sindilojas Porto Alegre no Barra Shopping Sul, o evento reuniu mais de 40 palestrantes e 60 expositores nacionais e internacionais. Entre os destaques, esteve Claudir Dullius, de Cruzeiro do Sul.
Presidente da Lojas Dullius, o empresário foi um dos cases de sucesso apresentados. Ele participou de painel mediado pela jornalista da RBS, Giane Guerra, com a presença do CEO da Usaflex, Sérgio Bocayuva, e do fundador e CEO da 4all, José Renato Hopf.
Dullius contou sobre a história da empresa e apontou as razões para o crescimento anual médio de 10% nos últimos anos, mesmo no auge da crise. “Me criei na dificuldade, na adversidade, e isso tem me ajudado na crise atual.”
De forma descontraída, apontou como começou a desenvolver a aptidão para os negócios. “Aprendi na escola da vida a negociar e vender”, ressalta. Hoje, comanda uma rede com 21 lojas em 13 cidades gaúchas e cerca de 230 funcionários.
Segundo ele, um dos motivos para o franco crescimento da empresa é fazer uma gestão voltada para as pessoas. “O ser humano é mais importante do que os produtos”, alega. De acordo com o empresário, a participação na feira contribui para compreender o varejo do futuro e se preparar para as mudanças do setor.
Cita como exemplo uma integração cada vez maior entre as lojas físicas e virtuais, além da redução da procura por grandes centros de compras e shoppings centers. “Ninguém mais tem paciência para ficar em filas e conviver com grandes aglomerações.”
De acordo com Dullius, a tendência mais forte é o posicionamento do cliente no comando das ações. Segundo ele, a experiência de compra e o relacionamento se tornaram peças fundamentais nesse cenário. “Quem não se preparar para essa mudança está fadado a ser eliminado do mercado.”
Conforme estimativa dos organizadores do evento, durante os três dias da FGV, foram mais de R$ 4 milhões em negócios fechados. Presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse afirma que a feira foi capaz de oxigenar o setor e promover o desenvolvimento, não só do varejo, mas da economia gaúcha como um todo.
Em paralelo à FBV, o Barra Shopping Sul também recebeu o RS Moda – Varejo & Indústria Conectados. Criado pelos sindicatos das indústrias de vestuário e calçados, o evento recebeu mais de dois mil lojistas da cadeia têxtil e do vestuário do estado.
Tecnologia para elevar vendas
As opções mais modernas e tecnológicas do mercado varejista mundial foram reunidas na Trend Store da FBV. Construído em parceria com as Lojas Lebbes, o espaço apresentou uma série de funcionalidades e inovações, como máquinas que permitem a compra de produtos sem vendedores, identificação de itens por meio de sensores e óculos de realidade virtual para acessar a loja diretamente de casa.
Os cerca de 1,2 mil visitantes conheceram uma tecnologia de check out automatizado, que possibilita a leitura de todos os códigos de barra de uma só vez. Chamada de Itag, é baseada no sistema RFID. Também chamou atenção no espaço um robô que auxilia o cliente a comparar produtos.
Outra novidade apresentada foi experiência Click and Colect. Por meio dela, o consumidor compra o produto no e-commerce e retira na loja física, evitando a espera pelos serviços de entrega.
O varejo eletrônico recebeu atenção à parte na FBV. Sócio da Cabanellos Schuh Advogados, Roberto Lopes falou sobre as obrigações legais da modalidade que deve faturar R$ 55 bilhões no país em 2017.
Segundo ele, enquanto o faturamento do comércio em geral cresceu cerca de 6,5% nos últimos cinco anos, o do comércio eletrônico avançou mais de 130% no mesmo período. “É um crescimento linear e sustentável, o que gera uma angústia dos lojistas para migrarem para esse mercado.”
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Conforme o advogado, este momento de transição estimula varejistas a inovarem na integração entre o mundo físico e virtual. Para evitar contratempos, recomenda investir em segurança nas transações financeiras e em uma estruturação da logística com atenção especial à gestão de contratos de locação, depósitos, transporte e empregados.
Poder grisalho
O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno ainda pouco explorado pelo varejo. O país tem mais de 25,4 milhões de pessoas acima dos 60 anos, que representam um poder de compra de mais de R$ 700 bilhões.
Fundador da empresa SeniorLab Inteligência em Mercado 60+, Martin Henkel alerta para o potencial desse segmento que ainda é esquecido pelo comércio. Segundo ele, o mercado deveria estar mais atento ao “poder dos grisalhos”, pois eles representam uma população com capacidade de consumo elevada.
“É muito difícil de conquistar essa população pois eles têm tempo, experiência, são críticos, seletivos, sensíveis e tem dinheiro. Ainda são muito racionais”, ressalta. Conforme Henkel, a terceira idade de hoje tem hábitos completamente distintos na comparação com as gerações anteriores.
Lembra que 70% dos consumidores acima dos 60 anos já realizaram compras on-line, e que 23,9% deles compram por meio dos smartphones. Conforme o palestrante, 83% dos idosos acessam a internet todos os dias e 15,3% deles estão no Facebook.
“Juntos, eles gastam R$ 15 bi ao ano em compras no e-commerce”, aponta. Apesar desse potencial, Henkel afirma que as empresas não pensam nos idosos no momento de criar as estratégias de marketing.
“Há produtos nos supermercados voltados para eles que estão na última prateleira. Mesmo sendo o maior público do Jornal Nacional, as propagandas não são direcionadas à terceira idade”, alerta. Para ele, as empresas que descobrirem formas para dialogar com esse público têm grande potencial para prosperar.