Vale fecha 20 leitos pediátricos em 7 anos

Vale do Taquari

Vale fecha 20 leitos pediátricos em 7 anos

Menor demanda e redução de pediatras são apontadas como causas para retração

Vale fecha 20 leitos pediátricos em 7 anos
Vale do Taquari
oktober-2024

Nos últimos sete anos, os hospitais da região fecharam 20 leitos de internação pediátrica, entre os destinados ao atendimento clínico e cirúrgico. O número representa uma queda de 13,4% na oferta de vagas de internação. As maiores perdas ocorreram nos leitos do SUS, que perdeu 11 leitos no período.

A situação vivida no Vale é reflexo do  cenário nacional, pois o país fechou mais de dez mil leitos pediátricos nos seis anos segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). No RS, foram 521 fechados no mesmo período.

O Hospital Bruno Born (HBB), de Lajeado, é o que mais fechou pontos de atendimento desde 2010. Naquele ano, o hospital tinha 15 leitos de internação na pediatria clínica, dos quais oito eram dedicados ao SUS. Os dados da 16ª Coordenadoria Regional da Saúde (CRS) apontam que hoje a instituição oferece seis leitos, dos quais quatro são exclusivos para pacientes do SUS.

Coordenador regional de Saúde, Ramon Zuchetti acredita que o baixo número de pediatras é um dos principais motivos para os fechamentos. “Há uma dificuldade enorme de conseguir pediatra. Sem o profissional, não tem como dar o acompanhamento e fecha.”

De acordo com Zuchetti, a maioria dos especialistas da região é de profissionais mais antigos. Ele projeta a necessidade de interferência governamental para mudar o cenário. “Nos municípios, os pediatras são os médicos mais antigos. Logo mais, será necessária uma ação do governo federal para estimular a carreira.”

Zuchetti alerta que o maior problema ainda são as UTIs. Na região, existem 20 leitos do tipo, metade do SUS e a outra da rede privada. Apenas o HBB e o hospital de Estrela oferecem o serviço.

Em todo país, a necessidade seria de quatro leitos para cada dez mil habitantes, entretanto, hoje existem apenas 2,9 vagas. No RS, faltam 40 leitos de internação em UTIs, fazendo com que os pacientes precisem migrar em busca de atendimento, como lembra Zuchetti. “Existe um déficit e o paciente acaba se deslocando para outros lugares onde abre uma vaga.”

PrintRemuneração baixa

Pediatra e professor do curso de Medicina da Univates, Sérgio Kniphoff reconhece o desinteresse pela profissão de pediatra. Entre os motivos apontados por ele, está o menor número de nascimentos no período. Além disso, o professor universitário destaca as dificuldades da carreira como motivos de afastamento.

“É uma das especialidades médicas que exige um grau maior de disponibilidade diária do profissional, uma vez que os pais precisam de um grau maior de segurança no cuidado dos seu filhos.” Kniphoff destaca a necessidade de os profissionais estarem constantemente disponíveis. “As urgências clínicas com as crianças fazem com que a jornada de trabalho do profissional nunca termine quando ele sai do consultório.”

O salário oferecido é apontado como outro fator determinante para afastar novos profissionais da pediatria. “Dentre as especialidades médicas, é uma das piores em termo de remuneração. Torna necessário trabalhar muito mais para receber perto do que outras especialidades.”

Demanda Menor

A escassez de profissionais não é o único motivo para o fechamento de leitos segundo especialistas. Diretor-executivo do Hospital Bruno Born (HBB), Cristiano Dickel chama atenção para a necessidade de internação.  “A tendência é que os pacientes não fiquem internados, mas que tenham os atendimentos em consultórios e em casa.”

Hospital que mais fechou leitos neste período, é um exemplo de local que tem cada vez menos demanda por hospitalização. “O hospital não tem um volume grande de internação pediátrica.” Segundo Dickel, essa situação levou a instituição a reduzir o número de leitos nos últimos anos.

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