Ameaça ao plano de saúde dos brasileiros

Editorial

Ameaça ao plano de saúde dos brasileiros

O atendimento em saúde pública sofre baques sucessivos e o SUS perde força. Os problemas de custeio do programa impactam nos serviços nas casas de saúde. A informação de que o país fechou mais de dez mil leitos para internação…

oktober-2024

O atendimento em saúde pública sofre baques sucessivos e o SUS perde força. Os problemas de custeio do programa impactam nos serviços nas casas de saúde. A informação de que o país fechou mais de dez mil leitos para internação pediátrica nos últimos seis anos serve de alerta para toda a população. Os dados foram divulgados na segunda-feira pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Essa realidade também se confirma no Vale. Em sete anos, 20 leitos deixaram de ser ofertados. Apesar do número regional pouco expressivo, trata-se de um retrocesso preocupante. É justo com as famílias mais carentes que acontecem os casos dramáticos da espera por uma vaga.
O contraponto do Ministério da Saúde é quase como para lavar as mãos. Na nota apresentada no dia da divulgação da pesquisa, o governo federal afirmou que a oferta de leitos para crianças segue uma tendência mundial, para que as famílias possam fazer o tratamento em casa ou em um ambulatório.
A justificativa desconsidera o impacto para a economia da família nesse tipo de trabalho. Os responsáveis precisarão faltar ao serviço. Com o desemprego e o aumento da informalidade, um dia afastado significa menos dinheiro para a família. Um problema coletivo com consequência individual. Isso porque o Estado, aqui usado no sentido macro da instituição responsável por arrecadar os impostos e revertê-los em serviços à sociedade, não consegue atender aquilo que é básico. A educação é de má qualidade, a segurança pública capenga e a saúde um drama diário.
Na desassistência contumaz, as desculpas governamentais tentam desqualificar a insatisfação do povo. O fato é que a gestão está errada. A conta para o atendimento da saúde não fecha devido aos constantes desvios. O país tem uma das maiores arrecadações do mundo. A população paga imposto de primeiro mundo. Na área em questão, o cálculo para manter o atendimento público estipula participação das três esferas (União, estados e municípios). Regra instituída em 1990 com a criação do SUS. Sistema falho, mas ainda a única opção para a maioria dos brasileiros.
No papel, trata-se de um modelo exemplar e premiado no mundo, mas descumprido na execução. A cobrança pelas longas esperas, as críticas da falta de alguns procedimentos e o descontentamento com o atendimento tornam-se ônus às autoridades locais. Os governos federal e estadual, para onde vai maior fatia da arrecadação, se omitem das responsabilidades e transferem para o colo dos municípios e das próprias casas de saúde compromissos que lhes cabem por dever.
Neste momento de ajuste, com a confirmação da necessidade de cortar mais de R$ 42 bi do orçamento da União, uma nova ameaça se vislumbra nos serviços básicos à população. O próprio ministro da Saúde já deixou claro a necessidade de uma repactuação, pois, na opinião dele, é impossível manter a universalização do SUS. O sistema é uma das vitórias da sociedade. Garante um atendimento possível a milhares de famílias. Só para se ter uma ideia, 80% dos serviços nos hospitais filantrópicos são de pacientes SUS. Em um país carente, reduzir o serviço para a população é inaceitável. Terminar com o SUS é voltar ao passado. O caminho é torná-lo mais eficiente e transparente.

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