Casais dispensam cerimônia religiosa

Comportamento

Casais dispensam cerimônia religiosa

Número de casamentos no civil aumentou na maioria dos municípios da região. Namorados também optam por união estável, ou apenas moradia conjunta

Casais dispensam cerimônia religiosa
Vale do Taquari

“Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe.”

Os tradicionais votos do casamento, que sacramentam o contrato de união, já não são mais ouvidos com tanta frequência quanto antigamente.

Muitos casais têm dispensado a cerimônia religiosa. Na Igreja Santo Inácio de Loyola, em Lajeado, por exemplo, até 2014, eram realizados cerca de 60 casamentos ao ano.

Em 2015, a quantia caiu para 50, e em 2016 ficou em 47. Para este ano, há apenas 26 enlaces marcados. “As pessoas costumam agendar com antecedência. Então, ainda esperamos um aumento para este ano, mas acredito que não vá passar de 35 a 40”, comenta o pároco Antônio Puhl.

A situação também é desanimadora quando se fala no curso para noivos. De acordo com o padre, era normal que cerca de 25 casais, de várias cidades da região, participassem. Porém, no primeiro treinamento realizado neste ano, apenas nove pares compareceram.

Enquanto isso, o número de troca de alianças no civil cresce. Em Lajeado, a quantia passou de 259 em 2013, para 318 em 2016. Entre 2013 e 2015, o IBGE também contabilizou aumento em Estrela, Teutônia e Taquari.

Funcionária do Registro Civil de Lajeado, Sílvia Griebeler afirma que a maioria dos casais faz o contrato de casamento somente para formalizar a união, e garantir direitos em comum. O mesmo acontece com quem opta apenas por fazer o documento de união estável. No Tabelionato Klein, cerca de 30 casais fazem o documento por mês, uma média de 360 ao ano.

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União estável

É o caso da agente de cultura e lazer, Claudine Becker, 31, e do gerente Robson Spohr, 33. Juntos faz 17 anos, oficializaram a união estável há dez. Os motivos foram o compartilhamento do plano de saúde e do clube.

Ela, evangélica luterana, ele, católico não praticante, nunca sonharam em casar na igreja. O que mais pesa na contramão são os altos custos do casório. “Preferimos ir viajar com esse dinheiro”, comenta Claudine.

Hoje, com o filho Bento, de 6 meses, ela não se arrepende da atitude, e pensa que a felicidade independe do casamento. “Não perdemos nada, pois temos todos os direitos que são importantes. Acho que hoje é algo totalmente dispensável”, comenta.

PrintJunção das escovas de dente

A estagiária Malu Cortez, 26, compartilha da opinião. Ela está junto com Leandro Luís Cordeiro, 23, faz cinco anos. Moram juntos com a filha de 3 anos, mas não oficializaram a relação.

“As pessoas não têm mais essa ideia de que precisam casar para ter filhos. As coisas meio que ‘se atropelam’.” Ela acredita que há questões acima da troca de alianças. “Estamos bem, e é isso que vale para nós.”

“Na verdade é uma questão cultural. Não há como se casar sem realizar uma festa, convidar familiares e amigos. É um momento de comemoração.”

“Falta purificação nesta união, falta a bênção sagrada”

O pároco da Igreja Santo Inácio de Loyola, Antônio Puhl, comenta sobre os motivos que levaram à diminuição no número de casamentos no religioso. Acredita que, quem deixa o casamento religioso de lado, perde na união.

A Hora – Ao que o senhor atribui essa redução?

Padre Antônio – Considero quatro causas principais. A primeira delas é a falta de iniciação da vida cristã. As crianças passam pela catequese, crisma e acreditam que terminaram a formação. Quando, na verdade, deveria haver o acompanhamento da família para que isso continuasse. Muitas famílias nem mesmo fazem essa iniciação.

As outras causas são o desprezo à tradição, e a secularização, quando as pessoas abandonam o religioso para se tornarem leigas. Nesse caso, há uma banalização do sagrado. As pessoas acreditam que não precisam mais da religião. E, por fim, atribuo às questões financeiras. Muitos deixam, ou adiam o casamento na igreja, por falta de dinheiro para realizar uma festa.

O senhor acredita, então, que o casamento religioso tem sido muito vinculado a grandes festas?

Padre Antônio – Na verdade é uma questão cultural. Não há como se casar sem realizar uma festa, convidar familiares e amigos. É um momento de comemoração. Claro, há os escandalosos. Mas a maioria é porque falta uma base financeira. Noto que muitos conquistam uma casa, um carro, e depois se casam no religioso, quando já há uma situação mais estável, para poder fazer a merecida festa.

Qual a perda que os casais têm ao não se casar na igreja?

Padre Antônio – Falta purificação nesta união, falta a bênção sagrada. Deixam de dar um passo importante para iniciação da vida religiosa de toda família.

E quanto à secularização, por que o senhor acredita que há esse afastamento do religioso?

Padre Antônio – Esse é um fenômeno mundial, né. O ser humano ganhou essa sensação de poder, de que é capaz. Então acredita que não precisa mais do seu criador. Sozinho pode conseguir o que quer. Creio nisso, de que está muito ligado ao ufanismo, à soberba humana. Mas, apesar disso, por outro lado, percebo que quem permanece na igreja busca a formação, quer participar, se integra, quer a religião.

A igreja errou para que isso acontecesse? E se errou, o que poderia fazer para atrair essas pessoas?

Padre Antônio – Nós, como igreja, sabemos que algo deu errado. Por que antes fazíamos a catequese e todos se encaminhavam e hoje não dá mais certo? Acreditamos que devemos reforçar e rever a iniciação.

Muitas crianças têm a percepção de que a crisma é uma formatura, que ali acabou a formação, quando, na verdade, isso é apenas o começo. A partir de então, que o jovem deverá participar mais da comunidade. Mantê-lo na igreja é nosso objetivo.

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