“Não foi desonra”, diz dono da Blip

Teutônia

“Não foi desonra”, diz dono da Blip

Luís Eidelwein revela que há dinheiro empenhado para pagar os ex-funcionários

“Não foi desonra”, diz dono da Blip
Teutônia

Oex-dono da Blip, Luís Eidelwein, 56, diz lamentar o drama vivido pelos ex-funcionários sobre o pagamento dos direitos trabalhistas.

Segundo Eidelwein, a empresa se preocupava na valorização do quadro funcional para garantir qualidade e produtividade. Vale-rancho e refeitório eram diferenciais, assim como a parceria firmada com o Reifer para trazer a unidade do Sesi para a cidade. A fábrica produzia calçados em couro com foco na exportação. A dependência da estabilidade do dólar para manter os negócios foi a causa do declínio.

Em 2001, Bertholdo Heirich anunciou o desligamento da sociedade. Ele deixou a empresa com a matrícula de um dos prédios como garantia real de que receberia sua parte na empresa. Eidelwein acreditava na recuperação das vendas e na estabilidade da moeda americana. Na primeira remessa, foram demitidos 400 funcionários que tiveram os direitos acertados. O restante dos trabalhadores ficou dividido entre o parcelamento e a rejeição de qualquer proposta.

Irritados com a situação, os remanescentes fizeram greve e impediram o ingresso de outros trabalhadores na industria. Para Eidelwein, foi a gota d’água que acarretou na decisão considerada mais dolorosa. “Fizemos uma reunião quando ainda tínhamos cerca de cem funcionários. Alguns faziam greve e estavam prejudicando até os clientes que haviam permanecido conosco. Tinha fechado um pedido três dias antes. Havia um projeto com um cliente que não foi como queríamos. Chegou no fim e eles disseram que não daria mais. Em três dias, ligamos para o advogado e dissemos: chega”.

Os funcionários receberam a semana de dispensa e, quando retornaram, encontraram as portas fechadas e a notícia que não esperavam. “Não foi desonra. Peço até desculpa se entenderam dessa forma, mas quando a gente fecha uma empresa com 25 anos aquilo é mais do que a vida.”

A esperança de retomar a produtividade e rentabilidade da empresa ainda levou Eidelwein a buscar parceria com outras marcas. Era tarde demais, diz. O resultado está nas dívidas com fornecedores, amigos e parentes. O segundo passo depois da falência foi alinhar formas para quitar os débitos com os funcionários.

Eidelwein questiona poder público

Com a falência da Blip, a direção da empresa solicitou a liberação do montante referente ao Pis/Cofins que havia em crédito. Os valores foram depositados em conta no Banrisul, em nome da Vara Cívil de Teutônia, e serviria para pagar os funcionários. Além disso, foram acrescidos valores oriundos das vendas de máquinas e utensílios.

A direção também abriu dois processos exigindo retorno de impostos. Uma das causas foi vencida, totalizando R$ 892 mil que foram repassados para a massa falida. O outro está tramitando. “Deixamos o prédio como garantia. Conseguimos o dinheiro para saldar a dívida que não foi paga. A planta industrial pertencia a meu sogro muito tempo antes e foi dada como garantia de pagamento, mas ele não tem o prédio e os funcionários não receberam”.

Para Eidelwein, a lei deve ser cumprida, dando prioridade para os funcionários, seguidos dos impostos e agências bancárias. A Justiça está há mais de seis anos com o dinheiro, mas não há definição de pagamento, afirma. Como alternativa, sugere mais transparência e agilidade dos administradores da massa falida. “Até hoje não há lista de credores. Ninguém sabe quem tem direito a receber, nem os valores certos”.

Avaliando a gestão da Blip, Eidelwein destaca que o olhar sobre o mercado interno deveria ter começado antes da crise com o dólar. A construção de uma marca para deixar de depender da exportação é outro ponto ressaltado. Três empresas foram procuradas para incluir o produto no portfólio deles, conta. Uma aceitou. “Talvez deveria ter diminuído o tamanho da fábrica. Pensava que perderíamos mais do que poderíamos recuperar. Isso eu faria diferente.” Eidelwein está aposentado faz mais de um ano.

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