A apresentação da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) lotou o Teatro do Centro Cultural Univates nesse domingo. Mas o que poucos sabem é que um representante da região integra o grupo.
O violinista, Elsdor Ricardo Lenhart, 55, nasceu em Cruzeiro do Sul. Ele deixou a cidade ainda pequeno, em 1973. Foi para Porto Alegre. Sete anos mais tarde, tornou-se bolsista da orquestra. Naqueles anos, diz, a Ospa era uma das poucas instituições no estado.
Hoje, acredita, houve aumento do número de iniciativas e entidades tocando música clássica. “Isso é muito positivo, principalmente para jovens que pretendem seguir a música como profissão.” Com uma experiência de 35 anos, comemora a renovação do interesse e da curiosidade. “Hoje tem mais muito mais oportunidades tanto de aprender quanto de trabalhar”, comenta.
Voltar para retribuir
A distância do Vale não reduziu o apreço pela cidade natal. Para popularizar e ensinar a música de concerto para jovens locais, Lenhart pretende desenvolver um trabalho social. No estado, indica, há um movimento de renovação do público. Inquietação estimulada por projetos didáticos voltados para adolescentes e crianças, acredita.
Aprendizado
De acordo com Lenhart, a Ospa oferece uma formação que começa do nível mais básico. Saindo dessa escola, cujos primeiros estágios são voltados a iniciantes, muitos alunos vão direto para a faculdade.
Como a orquestra é uma instituição vinculada ao governo do Estado, o ingresso no quadro de músicos se dá por meio de concurso público. Segundo Lenhart, por ser referência em toda a América Latina, a concorrência para uma vaga é muito grande. A última vez que houve uma seleção foram mais de 800 inscritos para 23 vagas.
Maestro celebra a renovação
O diretor artístico e regente da Ospa, Evandro Matté, confirma a renovação do público e de jovens interessado em aprender música clássica. Nome que vem sendo substituído, já que, devido a um certo nível de modernização e contato com outros gêneros, convencionou-se chamar de “música para concerto”.
Para ele, guardadas as devidas proporções, e respeitando a tradição de alguns compositores, a relação com estilos diferenciados pode tornar o músico mais versátil. O conservadorismo, sugere, tem deixado de acompanhar as orquestras.
Retribuição ao público
A Hora – Sabe-se que a Ospa realiza o primeiro concerto do ano em Porto Alegre. O que motivou a mudança e trouxe a apresentação para o interior?
Evandro Matté – Foram 64 anos abrindo em Poa. No ano passado, pela primeira vez, foi no interior, em Pelotas. A Ospa tem esse nome, mas ela é de todos os gaúchos, pertence e é mantida pelo Estado. Sempre tivemos uma atuação intensa no interior. Portanto, essa mudança de postura é uma retribuição ao público.
Quais são os critérios para a definição do repertório para o começo de uma temporada?
Matté – São inúmeros fatores que pesam sobre a estrutura de uma programação completa. É preciso atender diferentes períodos da história da música.
Sabe-se que já é possível ver a democratização de algumas obras clássicas. Ainda que remeta a um período histórico distante, o senhor vê alguma via de popularização da música clássica? Ou propostas nesse sentido podem deturpar a essência desse gênero musical?
Matté: Isso acabou, não existe mais esse conservadorismo. Para mim, música é uma coisa só. Não gosto muito dessa diferenciação. Já montei peças de jazz com orquestra, rock, trilha sonora de cinema. A questão toda é fazer essa parceria bem feita. Cada vez mais as pessoas aceitam isso, e é um fato positivo. Se você pega aqueles que são acostumados a uma coisa só e coloca junto com a orquestra, ele pode se interessar pela orquestra. Há quem assista a espetáculos mistos, e depois vai para a ópera. Sou trompetista da Ospa faz 25 anos, em 2016 assumi a direção artística e regência. Sempre trabalhei com MPB, música gaúcha, jazz, samba, têm alguns cantores de rap que acho interessante. Estar ligado no que está acontecendo contribui muito para a minha formação como maestro.