Alta nos custos sufoca rentabilidade

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Alta nos custos sufoca rentabilidade

Enquanto insumos registraram aumento de até 100%, o preço do quilo da fruta permaneceu inalterado. Produtores apostam no beneficiamento do figo para agregar valor e manter a lucratividade.

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Alta nos custos sufoca rentabilidade
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Apesar do custo de produção mais elevado, o valor pago pelo quilo de figo permaneceu inalterado neste ciclo.

A comercialização ocorre de duas maneiras: com a fruta ainda verde, quando se destina ao processamento pelas indústrias de compota.

O quilo está cotado em R$ 1,30. Quando vendido maduro, para matéria-prima nas indústrias de doce tipo schmier ou para o consumo ao natural, o valor é de R$ 3.

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Conforme o técnico em Agropecuária, Celso Postai, da Emater, de Feliz, para compensar o aumento registrado nos insumos utilizados no pomar e a saca de açúcar, o preço deveria ser de R$ 2 e R$ 5, respectivamente. “Se repassar esse custo, teremos dificuldade em achar compradores.”

No município, maior produtor do estado, a cultura ocupa 120 hectares, sendo 30 em fase de desenvolvimento, cuja primeira safra será colhida em 2017. São em torno de 50 produtores. A variedade mais cultivada é a roxo de valinhos.

A fertilidade do solo é um dos diferenciais do município e favorece a produção de uma fruta mais graúda e doce.
São colhidas 250 toneladas de figo verde e 400 do fruto maduro. Devido ao El Ninõ, as perdas na cultura são estimadas em 20%. “Tivemos excesso de chuva, frio e calor fora de época e agora o sol quente antecipou a maturação. A qualidade é boa.”

Para melhorar o preço e oferecer o produto em maior quantidade, há 15 anos foi criada a Associação de Figo do Vale do Caí. Além de Feliz, participam Brochier, Maratá, São Pedro da Serra, Poço das Antas, Bom Princípio e Linha Nova.

Em Nova Petrópolis, ocorreu a 43ª Festa do Figo em janeiro. Cerca de 70 famílias cultivam 40 hectares da fruta. O secretário de Agricultura e Meio Ambiente, André Dall’Agnol, ainda ressalta novos oito hectares ainda em formação, que devem expandir a colheita nos próximos anos.

A expectativa para esta safra é de 400 toneladas de figo. “Poderia ter sido mais, não fossem as condições climáticas”, comenta Dall’Agnol, saudando o ressurgimento da cultura na região.

Um dos motivos apontados é a escalada dos preços da fruta, que passaram de R$ 0,85/quilo em 2013 para R$ 1,31/quilo no ano passado, graças, em parte, à inversão do fluxo entre o estado e a Região Sudeste.

Propriedades medicinais

Uma das formas de estimular o aumento da área cultivada, o preço e o consumo seria criar campanhas para divulgar as propriedades medicinais da fruta. Segundo Postai, elas são desconhecidas pela maioria.

De acordo com ele, o figo tem uma boa quantidade de sais minerais, destacando o potássio, cálcio e o fósforo, importantes para a formação dos ossos e o bom funcionamento do organismo.

“A vitamina C combate inflamações no sistema respiratório. Ajuda a nutrir e rejuvenescer a pele, além de restringir o metabolismo das células cancerígenas. Poucos sabem disso”, destaca.

O consumo das folhas da figueira é benéfico para os diabéticos por ajudar a reduzir a necessidade de insulina para estabilizar o açúcar no sangue.

Mercado diferenciado

O agricultor Orestes Gabardo, 71, de Feliz, plantou as primeiras mudas (200) em 1970. Após assistir ao filme Mazzaropi, resolveu cultivar o fruto após ganhar algumas mudas de um amigo. Produtor de hortigranjeiros, transformou o figo em mais uma forma de lucro na propriedade.

Após 46 anos, tornou-se o maior produtor de figo no município. Há oito mil pés, cuja produção média chega a cem toneladas por safra. Em função do excesso de umidade, frio e calor fora de época, neste ciclo estima uma perda de 30%.

A variedade roxa de valinhos é destinada para a rede de supermercados Zafari para a venda in natura. O pingo de mel vai para as indústrias. As sobras viram geleias, compotas, shmiers e doces na agroindústria construída em 1999. Produzidos sem conservantes, atendem um público seleto, de alto poder aquisitivo. “Tudo é feito de forma artesanal.As pessoas buscam produtos naturais, de alta qualidade, que façam bem à saúde. Pagam bem por isso.”

A maior parte é vendida para o Paraná, Santa Catarina, São Paulo e até Piauí. O preço médio de um pote de 800 gramas é de R$ 8. Entre as dificuldades, destaca o aumento dos custos neste ciclo. “O adubo custava R$ 42 e foi para R$ 85.

O sulfato de cobre saltou de R$ 112 para R$ 240 a saca. Compramos em dólar e vendemos em real. Ou se tem um produto de alta qualidade e diferenciado ou se abandona o pomar.” Além do figo, outras frutas como amora, morango, goiaba e uva são processadas, num total de 50 toneladas ao ano.

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