Impasse deixa paciente sem remédios

Marques de Souza

Impasse deixa paciente sem remédios

Coordenadoria de Saúde alega não ter o cadastro, o que impossibilita o fornecimento

Impasse deixa paciente sem remédios
Vale do Taquari

Uma crise de asma levou Noeli Sauter, 52, para a UTI no fim do ano passado. Antes disso, a dona de casa já havia ficado internada por quatro dias para tentar controlar a doença com a qual convive faz sete anos.

Para manter a asma sob controle, depende de até quatro cápsulas de 12 mcg do Fumarato de Formoterol Di-hidratado. No entanto, o tratamento foi interrompido após ela não conseguir fornecimento da farmácia básica do município.

Cada caixa do remédio contém 30 cápsulas e custa cerca de R$ 45. Com receita para uso contínuo, ela costumava receber o medicamento de forma gratuita, no posto de saúde do município.

O benefício foi interrompido no fim do ano passado, quando Noeli buscou o remédio na unidade e foi informada sobre a exclusão dele da relação de fornecimento. “Me falaram que, por ele não estar na lista básica do município e por não haver recursos para comprar, não poderia receber.”

Ela depende do remédio faz quatro anos. Sem ele, a dificuldade de respirar e falar se agrava e chega a causar desmaios. Segundo Noeli, os efeitos são mais intensos de acordo com a exigência física. Por causa da doença, ela tem dificuldade para desenvolver atividades simples como os afazeres domésticos ou mesmo andar no pátio da casa.

Os dias secos do verão costumam ser de maior risco para a saúde de Noeli. As crises são mais frequentes e intensas e, segundo ela, exigem a ingestão de mais cápsulas. A situação, afirma, causa insegurança nos familiares devido ao histórico familiar. A avó dela morreu devido à asma.

Sem conseguir o medicamento de forma gratuita, ela precisou comprar uma caixa. Pela estimativa da dona de casa, o estoque deve durar poucos dias e, desempregada, não tem condições financeiras de manter o tratamento. O caso de Noeli tem gerado pedidos de explicações na câmara de veadores local.

Dificuldade familiar

Segundo Noeli, em virtude do agravamento da doença e das limitações geradas pela artrose, foi demitida dos locais onde trabalhava como faxineira. Apesar da saúde debilitada, afirma já ter buscado um novo emprego.“Não tenho nada contra ninguém, só preciso do remédio.”

Com dificuldades em conseguir emprego, Noeli tentou se aposentar por invalidez. Procurou o posto de saúde para emissão do laudo médico exigido para abrir o processo.

A solicitação foi negada e precisou recorrer ao serviço particular. Foram gastos R$ 110 para a avaliação de um perito e dois meses de duração do benefício. Sem a renda de cerca de R$ 1 mil do trabalho como doméstica, depende do irmão para manter a alimentação, custeio dos medicamentos e da casa.

Sem cadastro

O medicamento usado por Noeli faz parte da lista de remédios oferecidos pelo Estado, segundo a responsável pelo Assistência Farmacêutica da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Betina Schwingel. Apesar da possibilidade, a moradora de Marques de Souza não integra os cadastros de beneficiários na região da CRS, com abrangência no município. Todos os meses, 25 pessoas dos 37 municípios recebem o número de cápsulas indicados pelo médico de forma gratuita e nenhum deles é da cidade.

A situação foi descrita pela servidora da CRS como um caso específico na região. De acordo com ela, o problema de abastecimento pode ter ocorrido por erros na orientação da moradora. “Não existe falta do medicamento, mas, talvez, outros fatores. Esse tipo de situação é comum por problemas na comunicação ao paciente.”

Na região, a demanda por medicamentos para o tratamento de problemas respiratórios é comum. Segundo ela, variedades do formoterol e variações com budesonida estão entre os mais usuais. Ao todo, 437 pacientes da regional recebem ou têm processo aberto para ser beneficiados com o remédio. As características meteorológicas e de umidade dos municípios são indicadas como um dos motivos para a recorrência do problema.

De acordo com Betina, o fornecimento de medicamentos fora das relações de básicos ou essenciais costumava ser comum nos municípios. Em muitos casos, afirma, a medida era encerrada por redução de recursos. Solicitações judiciais pelo remédio utilizado pela moradora costumavam ser comuns, mas cessaram após a inclusão dele entre os fornecidos pelo Estado.

Procurado, o secretário de Saúde do município, Elson Griesang, solicitou tempo para se inteirar do caso.

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