“Também somos vítimas da  criminalidade”, diz delegado

Vale do Taquari

“Também somos vítimas da criminalidade”, diz delegado

Entre a noite de terça-feira e a manhã de ontem, pelo menos dois criminosos invadiram a Delegacia Regional de Polícia Civil, no centro. Colete à prova de balas e carregadores de pistola .40 foram furtados pelos meliantes, além de outros produtos. Parte dos objetos foi recuperada na manhã seguinte. Agentes reclamam falta de recursos para investimentos

Por

“Também somos vítimas da  criminalidade”, diz delegado
Vale do Taquari

Um dos suspeitos de arrombar uma janela do banheiro da Delegacia Especializada da Mulher estava detido em flagrante no prédio do plantão da Polícia Civil (PC) minutos antes de ser liberado e cometer novo crime. Distantes poucos metros uma da outra, as estruturas integram a sede da Regional da PC, invadida outra vez entre a noite dessa terça-feira e a madrugada de quarta-feira. Dois homens foram presos.

Os agentes da PC perceberam os furtos no início do expediente de ontem. Um colete balístico, dois carregadores municiados de pistola .40, um rádio-comunicador e objetos pessoais foram levados da sala de um policial, que não estava trancada durante a noite. Investigadores acreditam que os meliantes pularam a cerca e entraram pelos fundos do prédio.

O Instituto Geral de Perícias (IGP) foi chamado para averiguar as impressões digitais que ficaram na parede do banheiro. Após, uma equipe da PC investiu sobre áreas escolhidas por usuários de drogas, como o “Cantão do Sapo”. Ao se aproximarem do Parque dos Dick, foram avisados por funcionários da Secretaria de Agricultura sobre um saco escondido sob algumas folhas.

“Fomos até o ponto indicado e, dentro desse saco, encontramos alguns pertences levados da delegacia”, conta o delegado de Lajeado, Juliano Stobbe. Logo após, foram informados de que usuários de crack estavam em outra área do parque, nas proximidades do lago. Lá, efetuaram a prisão de um suspeito que possuía três passagens pela PC só entre sexta-feira e terça-feira.

Ao ser abordado, o homem de 24 anos negou qualquer envolvimento no crime. “Mas ele logo assumiu e nos levou até um ponto, nos fundos do campo do São José, onde estava o colete à prova de balas.” Os investigadores descobriram ainda o nome de outro homem suspeito, de apelido “Teutônia”, que teria participado do arrombamento.

Esse segundo suspeito foi detido na beira do Rio Taquari. “Com ele, achamos uma mochila. E dentro dela haviam outros objetos pessoais que foram levados da delegacia.” Ainda de acordo com Stobbe, neste intervalo de tempo, uma terceira pessoa foi – deliberadamente – até a delegacia para entregar, dentro de uma meia, os dois carregadores municiados.

“Ele foi interrogado e liberado. Ainda investigamos sua eventual participação. A princípio, diz que entregou a pedido de outra pessoa, sem saber do que se tratava o material dentro da meia.”

Ladrões cozinharam dentro da delegacia

Conforme o delegado responsável pelo caso, um dos suspeitos foi preso na sexta-feira, no domingo, e na terça-feira que antecedeu o arrombamento. Alexander dos Santos, nascido em Lajeado, teria invadido a mesma casa por duas vezes nesta semana. “Ele vai furtar de novo. Está viciado em crack e é esse o único jeito de manter o vício”, acredita.

Dentro do prédio da delegacia, os arrombadores demonstraram despreocupação com a possibilidade de serem flagrados. “Eles cozinharam e comeram dentro da cozinha da delegacia”, garante Stobbe. Alexander, inclusive, é suspeito de já ter praticado furto no mesmo local há alguns meses atrás, quando uma bicicleta apreendida foi levada do depósito. A ficha criminal dele iniciou em 2005.

O delegado regional da PC, João Peixoto, lamenta a recorrência do fato, e cita a falta de recursos por parte do Estado e município como uma das causas para o pouco investimento na segurança dos prédios. “Já havíamos detectado essa falha na nossa estrutura. O mesmo autor já furtou uma bicicleta entrando pelo mesmo local. Também somos vítimas da criminalidade”, reitera.

A notícia chegou ao conhecimento da chefia da polícia ontem. A delegada-chefe do Departamento de Administração Policial Civil, Fernanda Sabrosa, entrou em contato com Peixoto. “É uma situação muito atípica. Precisamos buscar ações conjuntas para evitar que isso aconteça novamente.” Ela aponta a culpa para a falta de recursos para investimentos.

Infraestrutura deficiente

Debates sobre a necessidade de reforço aos órgãos de segurança se acentuaram no começo do ano passado, com a troca de governo. Em maio, quando Peixoto foi empossado delegado regional, o então chefe de polícia no Estado, exonerado do cargo na semana passado, Guilherme Wondracek, veio a Lajeado defender maior atenção do Estado.

Apesar de o RS ter o quarto maior PIB do país, disse na época, tem uma das piores estruturas policiais. Como exemplo, citou o efetivo. Na década de 90, havia mais de seis mil servidores. Hoje são 5,7 mil. O ideal, enfatizou, seria o dobro, visto que a criminalidade avança a passos largos.

No Vale do Taquari, o quadro de servidores reduz de forma constante. A região está entre as três com maior déficit de efetivo do RS. Dos 104 policiais em operação há quatro anos, restaram cerca de 70. Novas aposentadorias devem comprometer ainda mais a situação. Até o fim do ano, outros 21 devem deixar a corporação.

Modernização

Outro grande problema enfrentado pela polícia, a falta de infraestrutura das delegacias. São, na maioria, prédios alugados e adaptados. Delegados defendem a padronização dos imóveis, como ocorre no Judiciário e Ministério Público. Assim, haveria melhores condições de segurança e para o trabalho dos agentes.

Em Lajeado se discute há anos um espaço mais moderno. Uma das alternativas para viabilizar o plano, a venda dos imóveis situados em frente ao Parque Professor Theobaldo Dick e a busca de outra área para construção de um novo prédio, ou então uma permuta com o município. Mas, até então, a questão trava na burocracia.

Acompanhe
nossas
redes sociais