O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação no mês. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) chegou a 0,88%. Dois itens foram responsáveis pela alta. O tomate e os gastos com empregadas domésticas.
Nas prateleiras dos supermercados, o quilo do fruto, da categoria longa vida, que custava R$ 3,26 em junho, chegou a R$ 7,90 na terceira semana deste mês. Em comparação com o quilo da carne de frango – que custa em média R$ 4,88 – o tomate está R$ 3,02 mais caro.
O motivo desse aumento está ligado às condições meteorológicas nos dois principais estados que fornecem o produto. Em São Paulo e Minas Gerais, as chuvas reduziram a produtividade das lavouras, o que elevou os preços.
Gerente de uma fruteira em Lajeado, Leodir Degasperi conta que essa alta está ligada à época do ano. Segundo ele, a produção do fruto no Rio Grande do Sul foi prejudicada pela geada até junho.
Degasperi relata que chegou a pagar R$ 100 pela caixa do produto na semana passada. “Alguns legumes também subiram, como a batata inglesa, cenoura e o pimentão.” Observa que o valor deve se manter nos próximos três meses, devido ao ciclo de colheita.
Conforme o economista Marcos Godecke, os produtos hortifrutigranjeiros aparecem frequentemente como “vilões” por apresentarem acentuadas oscilações de preços.
Godecke acredita que a inflação no momento não representa um problema. “Está sob controle, haja vista que o acumulado do IPCA em meio ano ficou em 2,91%, ante os 4,20% do mesmo período em 2011.”
Enquanto isso, os consumidores encontram outras maneiras de preparar os pratos. A auxiliar de enfermagem Dirce Seibel diminuiu a compra dos tomates. Para fazer uma macarronada, substituiu o fruto por extrato de tomate. “Coloco outros temperos porque o preço está salgado.”
Nos supermercados da região, o tomate custa de R$ 4,80 até R$ 7,90. Nilo Heemann, 84, gosta de comer o fruto na salada. O alto preço faz o aposentado controlar o consumo do tomate. “Corto na metade e como um pedaço no almoço e outro no jantar.”
A única queda de preços em julho foi registrada pelo grupo Transportes, um recuo de 0,59%. Os preços dos automóveis novos caíram 2,47%, ainda sob efeito da redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI).
Empregadas domésticas
Em julho, manter uma empregada ficou 1,37% mais caro. As domésticas contribuíram na alta da inflação em 0,05 ponto percentual. Se os valores do tomate e do gasto pessoal ficassem no mesmo patamar de julho, o aumento do IPCA-15 no mês seria de 0,23%.
Para o economista Marcos Godecke, apesar do baixo crescimento da economia nacional, o nível de desemprego se mantém baixo. O que tem provocado a valorização de algumas profissões
de menor remuneração, como é o caso das empregadas domésticas e serventes de obras. “É a velha lei da oferta e procura: neste momento a procura por empregadas domésticas está maior que a oferta, resultando aumentos de remuneração.”
Outro aspecto ressaltado por Godecke diz respeito à tendência das pessoas estarem mais dispostas a pagar por serviços domésticos para dedicar o tempo ao trabalho, lazer e aos estudos.
Economista avalia estimativas da inflação
Jornal A Hora: Neste ano, a inflação medida pelo IPCA-15 acumula alta de 2,91%. Quais os fatores que elevam esse índice?
Marcos Godecke – Após muitos anos, nos governos de Fernando Henrique e de Lula, o Brasil pagou um dos maiores juros do mundo pelos seus títulos públicos, elevando a dívida pública. O governo Dilma tem trazido estes juros a patamares mais civilizados. Uma das consequências é o estímulo ao consumo, que acarreta pressão sobre os preços.
– Para o consumidor, quais dicas podem ajudar a manter a saúde das contas domésticas?
Godecke – Desde o governo Lula, a política fiscal estimula o crédito. Um modelo que considero esgotado. O endividamento da população atingiu um nível tal que as pequenas quedas nos juros estão servindo mais para negociar novos prazos de pagamento das dívidas, com pouco alcance como estímulo ao consumo. Infelizmente grande parte da população hoje é refém das altas taxas do cheque especial e do cartão de crédito. O cenário recessivo atual tem estimulado a cautela na tomada de crédito.
– A inflação veio maior do que o esperado? Alguns economistas previam um avanço de 0,18% no indicador. A previsão atual surpreende?
Godecke – Acredito que a alta atual é sazonal e também decorrente de uma desvalorização cambial do Real, necessária para o estímulo à exportação. A moeda brasileira vem de longo período onde esteve muito valorizada, desequilibrando a balança comercial. O maior problema macroeconômico do Brasil é a falta de crescimento econômico, pela contaminação em face do cenário externo desfavorável. O maior desafio é manter a economia aquecida. Acreditamos que o segundo semestre deste ano seja melhor do que foi o primeiro.
Preços médios nos mercados
Hortifruti
Batata inglesaR$1,47 (Kg)
Cebola R$ 2,00 (Kg)
Cenoura R$ 2,08 (Kg)
Tomate R$ 5,61(Kg)
Carnes
Frango R$ 4,88 (Kg)
Gado
Chuleta R$ 16,59 (Kg)
Coxão de dentro
R$ 18,95 (Kg)
Patinho R$ 17,17 (Kg)
Suíno
Costela R$ 12,86 (Kg)
Lombo R$ 15,57 (Kg)
Pernil R$ 8,64 (Kg)
Fonte: AssociaçãoGaúchadeSupermercados (Agas)