Das últimas dez safras, em oito os agricultores de todo o estado tiveram perdas significativas. Isto demonstra o despreparo e a falta de políticas públicas para enfrentar a seca. Planejamento e prevenção são segredos para quem trabalha na lavoura e quer evitar perdas em épocas de pouca chuva.
O levantamento divulgado esta semana pela Emater/RS-Ascar aponta que os prejuízos com a estiagem no estado chegam a R$ 5,1 bilhões. A maior quebra será na soja, 43%, seguida do milho, com redução de 42%, o feijão primeira safra em 14% e o arroz com quebra de 9,5%.
A produção total de grãos será de 16 milhões de toneladas. Isto representa um volume 38,6% menor se comparado aos números finais da colheita em 2011. O Rio Grande do Sul deixou de colher 50 milhões de toneladas de grãos nos últimos 25 anos devido aos períodos de estiagem.
Conforme cálculos da Federação das Indústrias do RS (Fiergs), R$ 10 bilhões deixarão de circular na economia do estado.
O número representa 4% do PIB gaúcho em 2011. O desempenho da indústria poderá cair até 11%, afetado pela conjuntura econômica. As indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas registraram, em janeiro, uma desaceleração de -9% e a de alimentos -7%, na comparação com dezembro.
A arrecadação do estado deverá sofrer um impacto negativo de R$ 1,2 bilhão devido à retratação na compra e venda de mercadorias e de serviços em cidades de economia com predominância agrícola.
Solução é prevenir
As maiores quebras são verificadas na lavoura de milho. A estimativa era de colher 4,8 mil quilos por hectare. Foram colhidos 2,7 mil quilos, quebra de 42%. A produção de leite caiu 30%. A média produtiva é de um milhão de litros por dia. O produtor deixou de receber R$ 10 milhões.
O feijão teve quebra de 40%. A projeção era de colher 1,2 mil quilos. Foram colhidos 700, sendo R$ 950 mil menos. Os prejuízos na soja chegam a 25% e no arroz fica em 10%. São R$ 6 milhões a menos.
Analisando as perdas na produção de verduras, legumes, aipim, erva-mate e a morte de frangos por falta de ração, o relatório aponta um prejuízo de R$ 40 milhões.
Em 2008, o valor adicionado bruto oriundo do setor primário no Vale do Taquari foi de R$ 770 milhões. A perda representa 5% deste montante.
O gerente-adjunto da Emater/RS-Ascar Regional de Lajeado, Luiz Henrique Bernardi diz que é possível se prevenir, mas isso exige a elaboração de projetos e a liberação de crédito para armazenar água nos períodos de boa precipitação. “Cisternas, açudes e até a construção de barragens surgem como solução. Não resolvem por completo o problema, mas ajudam a amenizar as perdas.”
Entre as orientações para evitar perdas com a estiagem estão aprimorar o uso da água, proteger o solo, mudar datas e manejo de cultivo.
Um estudo repassado pela entidade à Assembeia Legislativa sugere a construção de 20 mil açudes para combater períodos de seca. Nos últimos dois governos foram construídos pouco mais de 3,5 mil.
Dívidas estimulam êxodo rural
Conforme o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), Carlos Joel da Silva, o agricultor está endividado e não tem perspectivas para continuar na lavoura. “A seca agravou a crise. Sem garantia de preço e crédito o êxodo rural aumentará nos próximos anos.”
Calcula que 150 mil pequenos produtores foram atingidos e as perdas chegam a R$ 4 milhões. Enfatiza que a Fetag busca a liberação de uma linha de crédito de R$ 10 mil por família, com prazo de pagamento em sete anos e três de carência para se manter no campo nos próximos meses.
A entidade reivindica mudanças no Proagro Mais, garantia de preços mínimos e apoio à venda dos produtos. A expectativa é de que novas medidas sejam anunciadas na semana que vem após as audiências do presidente da Fetag em Brasília.
Esperança na safrinha
No campo a situação é alarmante. Além das perdas, muitas famílias dependem do abastecimento do caminhão-pipa para o consumo humano e o trato dos animais. Dário Johner, 65, de Cruzeiro do Sul, perdeu tudo nos 13 hectares de milho cultivados nesta safra. A estimativa era colher duas mil sacas do grão que seriam destinadas para a criação de suínos. “A esperança é de que a safrinha seja boa.”
Para manter a produção de suínos estável, ele recorreu à compra de milho da Conab. Na propriedade de Glicélio Rockembach, da Barra da Forqueta, em Arroio do Meio, as perdas na lavoura de milho chegam a 70%. Nesta safra ele cultivou sete hectares. “Calculo um prejuízo financeiro de R$ 13 mil.”
Cita que o milho da safrinha está em bom desenvolvimento e será todo destinado para confecção de silagem. A única preocupação é com a geada, que pode prejudicar a qualidade das plantas e antecipar o corte.
Projeção é de chuvas mais regulares
Em alguns pontos, a profundidade do Rio Taquari é inferior a 50 centímetros e possibilita a travessia a pé. A situação põe em risco o abastecimento para consumo humano, navegação, geração de energia, pesca e a reprodução dos peixes.
Mirto Pirola pesca há 20 anos na Cascalheira, próximo da Ponte de Ferro sobre o rio Forqueta e sente no bolso os reflexos do baixo volume de chuvas. “Em épocas normais pesco cinco quilos por dia, hoje não passa de um. Espero que nas próximas semanas melhore.”
Conforme projeções da Metsul Meteorologia, a chuva no estado tende a aumentar nos próximos meses, inclusive com períodos em que os volumes serão excessivos. Ressalva que, no restante do outono, ainda haverá alguma irregularidade na distribuição regional das precipitações, o que será insuficiente para reverter completamente o déficit hídrico dos últimos meses em parte do Rio Grande do Sul.
A Emater recomenda que os produtores aproveitem o período chuvoso para armazenar água. Nos três primeiros meses deste ano choveu 297 mililitros a menos do que o mesmo período de 2011.
