A realocação das 20 famílias indígenas residentes à beira da BR-386 permanece como o principal entrave para o andamento das obras de duplicação da rodovia.
Ontem, a Fundação Nacional do Índio (Funai) desmentiu o anúncio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que garantia o remanejo da tribo caingangue até o fim deste mês.
Conforme o assessor do presidente da Funai em Brasília, Mário Moura, a liberação das obras em um trecho de nove quilômetros depende do remanejo das famílias. O superintendente do Dnit, Vladimir Casa disse que seria liberado após confirmar a aquisição de área para a nova aldeia. “A aquisição da área é apenas o primeiro passo. E a Funai não recebeu nenhum material referente para analisar.”
A Funai reitera que o Dnit precisa cumprir algumas exigências feitas (ver boxe). Entre elas, Moura cita o projeto executivo de engenharia da nova aldeia que deve ser finalizado pelo departamento.
Depois disso, é preciso realizar a licitação para as obras. Finalizadas estas etapas, se iniciam os trabalhos e o remanejo da tribo. “A informação de que as famílias serão remanejadas até o fim de fevereiro não procede.”
O superintendente está de férias. Seu substituto, Pedro Gomes, não atendeu a reportagem.
Obras devem ser interrompidas
Seguindo orientações do Dnit, os diretores das empresas Conpasul e Iccila, responsáveis pelas obras, Nilto Scapin e Antônio Wagner, não quiseram detalhar a obra. Mas admitem a possibilidade de interromper os serviços no início de março. “Os serviços estão acabando e, caso não seja liberado o trecho, a obra será interrompida e máquinas naturalmente devem deixar o local”, diz Wagner.
Para o presidente da Câmara da Indústria e Comércio do Vale (CIC-VT), Oreno Ardêmio Heineck, as obras devem parar no início de março. “Tiveram um ano e meio para resolver esse assunto e nada fizeram. A solução não virá em menos de um mês.”
Ele comenta que a paralisação e o remanejo das máquinas para outras obras poderão acarretar atraso nos serviços.
Saiba Mais
A obra de duplicação de um trecho de 34 quilômetros da BR-386, entre Tabaí e Estrela, está quase 40% concluída. Cerca de nove quilômetros ainda não foram liberados pela Funai, devido ao remanejo das famílias indígenas, entre as cidades de Estrela e Bom Retiro do Sul.
O Dnit informa que a área destinada para a nova aldeia foi comprada, mas a Funai aguarda o projeto executivo para dar seguimento aos trabalhos de remanejamento. A negociação perdura por dois anos. A obra iniciou em novembro de 2010 e o prazo para finalizá-la é de três anos. O investimento total do governo federal será de R$ 150 milhões.
O que pede a Funai
– Conforme o “Programa de Apoio às Comunidades Cain¬gangues”, elaborado pelo Dnit, a nova área para a tribo deve ser de 33 hectares;
– Parte da área deve ser adquirida, preferencialmente, de remanescente florestal e parte de terra agricultável;
– A área não precisa ser em Estrela.
O que o DNIT prometeu
– 33 hectares de terra;
– 16 novas casas;
– Construção de um galpão;
– Doação de 5.256 cestas básicas durante o período da obra;
– Um caminhão com baú para o transporte da matéria-prima;
– 1.460 sementes artesanais variadas.