Nível do Forqueta está abaixo de um metro

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Nível do Forqueta está abaixo de um metro

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Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Falta chuva há 40 dias. La­vouras inteiras se perde­ram, em especial as de mi­lho. O Rio Forqueta retrata o cenário agonizante que vivem os afluentes na região. O baixo nível das águas – inferior a 30 centíme­tros em vários trechos – ameaça a reprodução dos peixes e limita a diversão dos banhistas.

Dono de um camping em Tra­vesseiro, Irio Scherer, 64, estima que há 50 anos o nível do rio não esteve tão baixo. Sugere aos vera­nistas que evitem se banhar nos lagos que se formam em alguns pontos. “Como não tem corrente­za, a água parada pode estar con­taminada”, observa.

Para a bióloga Leila Cristiane Bruxel, a água represada em poços em meio ao leito – causado pelas repetidas enchentes – dificulta o fluxo da água. Segundo ela, os peixes ficam pre­sos nestes “açudes” e não conseguem fa­zer a piracema. “Na água parada existe pouca formação de oxigênio e isso pode resultar na morte dos animais.”

Em pontos mais críticos, o rio está secando. Linha Cairu é um exemplo. Leila aconselha os produtores a impe­direm acesso dos animais ao leito do rio onde a água está parada, em fun­ção de uma possível contaminação. “É preciso evitar o consumo de peixes. Eles podem estar doentes”, alerta.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), algumas regiões terão um déficit mensal de 75 milímetros durante os próximos três meses.

O volume baixo de chuvas é resul­tado do fenômeno meteorológico La Niña, marcado pelo esfriamento das águas do Pacífico Equatorial. Com isso as frentes frias chegam com me­nos frequência ao estado.

Alerta no campo se intensifica

Levantamento da Emater Regional de Lajeado nos 64 municípios atendi­dos pela entidade mostra que as per­das na região chegam a 40%.

No caso do milho a estimativa era de plantar 85 mil hectares. Destes 10 mil ainda não foram semeados por falta de umidade no solo.

As lavouras cultivadas entre o fim de julho e início de agosto (15 mil hectares), a perda é de 30%. Os outros 60 mil cultivados entre a metade de agosto até novembro, os prejuízos chegam a 40%.

Segundo engenheiro agrônomo Nilo Cortez seria necessário chover de 25 a 30 milímetros por semana para evitar maiores perdas.

A projeção de produtividade inicial era de 4,8 mil quilos. “Serão colhidas 25 sacas a menos. Consi­derando o valor de R$ 27 por saco, isso representa um prejuízo de R$ 61,5 mil para os produtores.”

A produção de silagem também é afetada. Era esperado colher até 45 toneladas por hectare. Com a falta de chuva, o desenvolvimento das plantas foi pre­judicado e a produção caiu pela me­tade. “Será um alimento de menor qualidade e energia.”

No caso do feijão a quebra será de seis sacos por hectare. Calcu­lado o preço de mercado que é de R$ 65 por saca, o prejuízo será de R$ 550 mil. Foram semeados 1.415 hectares.

A falta de umidade fez com que apenas 40 % da área de soja esteja se­meada. A projeção é de plantar 16.813 hectares. O que foi plantado registra problemas de germinação.

A quebra na produção de leite che­ga a 30%. Isto representa uma redu­ção de 300 mil litros/dia. O prejuízo chega a R$ 195 mil, se considerado o preço de R$ 0,65 por litro.

Agricultor receberá Seguro Desemprego

Após quatro anos engave­tado, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado dis­cute hoje o projeto de lei que viabiliza o pagamento de um salário mínimo mensal por até cinco meses para os agri­cultores atingidos pela seca.

De autoria do ex-senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), hoje ministro da Pre­vidência, o benefício será concedido mediante reconhe­cimento das perdas causadas pela falta de chuva.a

Conforme Elaine Dillen­burg, assessora jurídica da Federação dos Trabalhado­res na Agricultura do RS (Fe­tag), se aprovado, o seguro trará um grande alento para as famílias de pequenos agricultores.

Cita que o valor não re­comporá as perdas, mas certamente garantirá o sus­tento e as condições básicas para as famílias permanece­rem no meio rural.

Observa que as lideranças ligadas ao movimento sindi­cal pressionarão os senado­res e deputados para agilizar a provação do projeto.

Hoje cerca de 390 mil famí­lias trabalham na agricultura familiar e se enquadram nos termos da proposta.

O projeto deve ser vota­do apenas em 2012. Antes de ser encaminhado para a Câmara dos Deputados, o benefício precisa ser apro­vado pela Comissão de As­suntos Sociais.

Situação das lavouras

Pastagens – a falta de chuva provoca a redução da oferta da pastagem e a germinação das sementes perenes de verão, especialmente milheto, sorgo forrageiro e tifton. A quebra na produção de leite chega a 30%.

Fumo – os dias de frio e a pouca umidade do solo preju­dica o desenvolvimento das lavouras.

Milho – as lavouras semeadas cedo estão na fase de for­mação de pendão e enchimento de grãos. A baixa precipita­ção pode causar perdas de até 100% em algumas proprieda­des caso não aconteçam chuvas expressivas esta semana.

Soja – produtores da região estão aguar­dando a ocorrência de chuvas para conti­nuar a semeadura.

Arroz – o plantio do arroz segue em ritmo mais lento que em anos anteriores devido à falta de umidade do solo.

Uva – os parreirais estão com as folha­gens amareladas e os cachos estão com a fase de crescimento estagnada. A falta de umidade pode comprometer a qualidade.

Piores estiagens

No Vale do Taquari, a pior estiagem foi regis­trada entre os anos de 1943 a 1945. Neste período ocorreram apenas chuvas esparsas.

Conforme o historiador José Alfredo Schierholt, a estiagem se prolongou por vários meses, provo­cando a perda total das safras.

As secas mais recentes ocorreram nos anos de 1985 e 1996. Para amenizar as perdas, o governo do estado criou o Cheque Seca. O valor era de R$ 400 por agricultor atingido. O dinheiro poderia ser pago em duas prestações, com juros anuais de 6%.

Com dificuldades de pagamento, em 12 de se­tembro de 2002, foi assinada a anistia do Cheque Seca de R$ 3,3 milhões para 5.116 famílias em todo estado.

O verão de 2004 a 2005 e 2006 voltou a castigar a região com perdas nas lavouras que chegaram a 90% em alguns municípios. A seca mais antiga da qual se tem registros ocorreu entre os anos de 1876 para 1877.

Previsão de pouca chuva

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) pre­vê uma semana com pouca chuva na região Sul. A frente fria que se aproxima do estado será de baixa intensidade e provocará apenas pancadas esparsas com volumes de chuva que devem chegar a 20 mi­límetros em algumas regiões.

Conforme o Centro de Informações Hidrometeoroló­gicas da Univates de Lajeado, nos próximos dias, um ciclone extratropical estará atuando no oceano, próxi­mo ao estado aumentando as chances de pancadas de chuva rápidas e isoladas na região.

Quanto às temperaturas, nesta terça-feira, o ca­lor diminui e as máximas não ficarão tão elevadas. Amanhã a sensação de tempo abafado retorna.

Em janeiro e fevereiro, devido à atuação do fenô­meno La Niña, a tendência é de chuvas abaixo da normal. Em dezembro, nos primeiros 12 dias, foram registrados apenas 14,2 mililitros (mm) no campus da Univates, em Lajeado.

Em novembro o acumulado de chuva em Lajeado foi de 28 milímetros, o que representa apenas 18% da média do mês, que é de 150 milímetros para a região.

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