A partir de março de 2012, entra em vigor o Ensino Médio Politécnico no Ensino Médio estadual e municipal. A implantação do currículo que abre espaço para atividades relacionadas ao mercado de trabalho e à realidade das regiões começa pelas turmas de 1º ano.
Haverá a ampliação da carga letiva para 200 horas. A mudança se estende ao 2º ano, em 2013, e ao 3º ano, em 2014. Ao todo, cada série terá mil horas de aulas divididas entre as disciplinas tradicionais com abordagem mais prática e atividades ligadas ao empreendedorismo, legislação trabalhista, educação no trânsito e segurança do trabalho e outros.
O conteúdo será dividido em quatro áreas de conhecimento: linguagem e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e suas tecnologias.
Para o turno diurno, as escolas devem decidir se as aulas passam de quatro para cinco horas diárias, ou se haverá atividades durante o período inverso para dar conta da nova carga horária. Quem estuda à noite poderá utilizar a experiência em atividades profissionais no cumprimento das horas letivas.
O novo currículo-base foi aprovado pela Secretaria da Educação (SEC) e precisa ser homologado pelo Conselho Estadual da Educação. Desde meados do ano, são realizados seminários nas escolas para discutir a nova base curricular.
Dia 22, ocorre a conferência regional, e no dia 29, a inter-regional, em locais a serem definidos. Em meados de dezembro, ocorre a etapa estadual, em Porto Alegre. Nos encontros, representantes das escolas poderão tirar dúvidas e apresentar propostas.
A titular da 3ª Coordenadoria Regional de Educação, Marisa Bastos, diz que desde o ano passado, o estado discute a reforma do Ensino Médio. Pesquisas apontam que o atual modelo é desinteressante para os jovens, o que aumenta a evasão e a repetência, hoje na marca de 40%.
Segundo ela, nenhuma disciplina será extinta e não haverá aprovação automática. Cada escola poderá escolher, conforme o seu projeto pedagógico, a forma de expressar os resultados em notas ou conceitos. Elas estarão autorizadas a reestruturar sua proposta pedagógica de acordo com a realidade onde estão inseridas.
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Em nota à imprensa, o Sindicato dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) reclama que metade da carga horária será destinada ao ensino técnico e o restante ficará para a parte diversificada e voltada ao trabalho.
Para ele, isso impediria que o Ensino Médio cumprisse seu principal objetivo, a consolidação dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental. “Acentua a desigualdade, pois os filhos da classe dominante continuarão tendo direito a uma formação que contemple todas as áreas e facilita o ingresso na universidade pública.”
Segundo Marisa, “é importante dialogar com o mercado, o que está longe de ser submisso, significa ser propositivo, interativo e criativo.” Não significa ensinar profissões no Ensino Médio, mas oferecer uma visão sobre o mercado e seu contexto. A preparação para o vestibular não será descartada.
Em escolas que oferecem o Ensino Médio profissionalizante, como a Pereira Coruja, em Taquari, o aluno poderá escolher entre o curso politécnico, ensino profissional ou magistério.
A coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Castelo Branco, Sandra de Mari acha a mudança positiva por trazer as questões cotidianas para a sala de aula. É provável que sejam necessárias aulas em duas tardes para dar conta do conteúdo.
No momento, os professores estão planejando como em conjunto a interação entre as disciplinas dentro das quatro áreas do conhecimento. Outra preocupação é com o espaço físico das escolas para abrigar as atividades extras. No dia 16, o colégio recebe o encontro de representantes das escolas estaduais da região para discutir o novo modelo de ensino.
Melhorias e concurso público
Segundo Marisa Bastos, neste ano, o governo concedeu um reajuste salarial de quase 11%, o que diminuiu de 60% para 50% a diferença entre o básico do magistério gaúcho e o piso nacional. “Se fossemos pagar o piso sem as vantagens do Plano seria possível”, diz. “É o que os outros estados estão fazendo, pagando o piso sem incorporar as vantagens.” O Plano Plurianual prevê o pagamento do piso de forma gradativa nos próximos três anos.
Promoções foram realizadas em setembro, beneficiando mais de 9,6 mil professores. Um decreto que regulamenta o concurso público foi publicado nesta semana e um edital será lançado em breve com a contratação de cerca de dez mil novos servidores. Há cerca de 20 mil professores em contratos temporários no estado, eles serão substituídos de forma gradual pelos professores aprovados no concurso.
O que muda?
Na proposta da SEC, para dar conta das 200 horas adicionais ao ano, o currículo poderá passar de quatro para cinco horas diárias, dividido em formação geral (com as disciplinas tradicionais reunidas em ciências humanas, ciências da natureza, matemática), linguagem e formação diversificada que será voltada ao ambiente, cultura e saúde.
Os cursos técnicos criarão atividades relacionadas às carências de mão de obra da região onde está inserida. O agronegócio nas regiões de características rurais, por exemplo.
No primeiro ano, os alunos receberiam 600 horas de formação geral e 200 horas de formação diversificada no segundo ano seriam 400 para cada modalidade, e, no terceiro, 600 horas para formação diversificada e 200 horas para geral. O aluno usaria parte das 200 horas anuais a mais para pesquisar e conhecer a realidade local e formas de aplicação dos conteúdos.