Desde o início do mês, supermercados, restaurantes e bares sofrem com a redução dos estoques de cerveja e a dificuldade de reposição dos produtos. A falta comprometerá o planejamento de empresas e clientes para o fim de ano. A principal preocupação do setor é não atingir os lucros esperados para compensar a queda dos meses mais frios.
Os preços das garrafas de 600 ml subiram entre 8% e 10%, cerca de R$ 0,20. O “litrão” foi o que mais aumentou, entre 15% e 25%. Uma das marcas mais vendidas custava R$ 2,99 e passou para R$ 3,75. Mesmo assim, em relação à quantidade do produto, ele continua mais barato que as garrafas tradicionais e os “latões”. Na maioria dos bares e danceterias, o valor das garrafas subiu R$ 0,50. O preço das latas cresceu em torno de 6%.
Segundo o gerente de um supermercado de Lajeado, Elton Fischer, fato semelhante ocorreu em 2010. A Ambev, responsável por cerca de 80% desses produtos, alegou que ampliaria suas instalações. “Neste ano, a fábrica está pronta e a escassez chegou mais cedo.”
O gerente de um bar no centro de Lajeado, Maurício Piovesani da Silva, conta que há cerca de dez dias o custo das caixas de cerveja comum e premium aumentou R$ 7 e R$ 5, respectivamente. O acréscimo foi repassado para o consumidor, que agora paga R$ 4,50 e R$ 5,5 pela garrafa de 600 ml.
Silva teme outro aumento em dezembro que deixaria os produtos R$ 0,50 mais caros. “Vendíamos em torno de 50 caixas de cerveja por fim de semana”, diz. “No último, não passou de 37.” Para reverter o prejuízo, aposta em promoções de lanches e em reduzir a margem de lucro de uma marca de cerveja, por vezes trabalhando com prejuízo, para atrair público.
Segundo ele, no início da semana, a distribuidora de bebidas não contava com quatro das marcas mais consumidas, a maioria da categoria premium. Muitos de seus clientes têm optado pelas marcas mais baratas, o que aumenta o prejuízo.
Lucro reduzido
O autônomo Dinarte Jungles informa que com o aumento do preço deixou de comprar um latão de cerveja em suas compras diárias. Agora são duas unidades do latão, que passou de R$ 1,50 para R$ 1,75 há cerca de uma semana. “Com o 13º salário, penso em estocar o produto para evitar outro aumento perto das festas de fim de ano.”
O proprietário de uma casa de shows em Lajeado, Evair Giovanella, acredita que até fevereiro os preços das cervejas aumentarão mais duas vezes. As garrafas de 600 ml das marcas premium que hoje são vendidas a R$ 5 tendem a custar R$ 5,5 em dezembro. As demais aumentarão de R$ 4,5 para R$ 5.
No ano passado, ambas custavam cerca de R$ 0,70 menos. “O excesso de tributação faz com que os preços sigam subindo”, diz. “Como compramos em grande quantidade conseguimos preços melhores e não repassamos tudo ao consumidor.” Segundo ele, em outros locais a lata do produto custa entre R$ 3,5 a R$ 4, um aumento de mais de R$ 1 em cerca de um ano. O lucro do empreendimento fica aquém do esperado para esta época do ano.
Excessos de tributação
Dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) mostram que as vendas de cerveja no estado aumentaram 30% em 2011. Segundo o presidente da entidade, Antonio Cesar Longo, o aquecimento da economia e a preparação para uma ampliação de produção contribuem para a diminuição do estoque de segurança da companhia.
Segundo ele, o problema chegou com menos força às prateleiras dos supermercados. Assegura que a situação deve se normalizar dentro de poucas semanas e não faltará cerveja em novembro e dezembro.
O Sindicato dos Fabricantes de Cervejas (Sindicerv) defende que a diminuição da carga tributária resultaria em aumento da arrecadação aos cofres públicos e do número de empregos ofertado pelas indústrias do setor. A carga tributária que incide sobre as cervejas é de 56%. Ou seja, numa latinha que custa em média R$ 0,96, R$ 0,54 ficam com o governo. O país produz 10 bilhões de litros ao ano.